(Onde Mãos se Tocam - 2018) +
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"Uma vaga noção de tudo, e um conhecimento de nada."
Charles Dickens (1812 - 1870) - Escritor Inglês
Charles Dickens (1812 - 1870) - Escritor Inglês
quarta-feira, 31 de julho de 2019
sexta-feira, 26 de julho de 2019
Poesia a Qualquer Hora (325) - Cesare Pavese
Trabalhar cansa
Atravessar uma rua para fugir de casa
Só um menino faz isso, mas este homem que anda
O dia inteiro pelas ruas não é mais um menino
E não está fugindo de casa.
Há tardes no verão em que até as praças estão vazias, oferecidas
Ao sol que está se pondo, e este homem que avança
Por uma avenida de árvores inúteis, se detém.
Vale a pena estar só, para sempre ficar mais só?
Por mais que se ande de um lado para outro, as praças e as ruas
Estão vazias. É preciso parar uma mulher
E lhe falar e convencê-la a viver juntos.
De outra forma, a gente começa a falar sozinho.
É por isso que às vezes
Surge um bêbado noturno que te aborda com discursos
E te conta os projetos de uma vida inteira.
Não é certamente esperando na praça deserta
Que se encontra alguém, mas quem anda pelas ruas
Se detém de vez em quando. Se fossem dois,
Mesmo andando pelas ruas, o lar estaria
Onde estivesse aquela mulher e valeria a pena.
De noite a praça volta a ser deserta
E este homem que passa não vê as casas
Entre as luzes inúteis, já não levanta mais os olhos:
Ele sente apenas o pavimento que fizeram outros homens
Com mãos calejadas como as suas.
Não é justo ficar na praça deserta.
Haverá certamente aquela mulher na rua
Que, se lhe fosse pedido, gostaria de dar uma mão na casa.
Cesare Pavese
(Tradução do Poema: Rubens Ricupero)
quinta-feira, 25 de julho de 2019
O Vitral, por Osman Lins
O Vitral
Osman Lins
Desde muito, ela sabia que o aniversário, este ano, seria num domingo. Mas só quando faltavam quatro ou seis semanas, começara a ver na coincidência uma promessa de alegrias incomuns e convidara o esposo a tirarem um retrato. Acreditava que este haveria de apreender seu júbilo, do mesmo modo que o da Primeira Comunhão retivera para sempre os cânticos.
- Ora... Temos tantos... - respondera o homem. Se tivéssemos filhos... Aí, bem. Mas nós dois! Para que retratos? Dois velhos! A mão esquerda, erguida, com o indicador e o médio afastados, parecia fazer da solidão uma coisa tangível - e ela se reconhecera com tristeza no dedo menor, mais fino e recurvo. Prendera grampos aos cabelos negros, lisos, partidos ao meio, e levantara-se.
- Está bem. Você não quer...
(A voz nasalada, contida, era um velho sinal de desgosto.)
- Suas tolices, Matilde... Quando é isso?
Como se a ideia a envergonhasse, ela inclinara a cabeça:
- Em setembro - dissera. No dia vinte e quatro. Cai num domingo e eu...
- Ah! Uma comemoração - interrompera o esposo.
Vinte anos de casamento... Um retrato ameno e primaveril. Como nós.
Na véspera do aniversário, ao deitar-se, ela ainda lembrara essas palavras; mas purificara se da ironia e as repetira em segredo, sentindo-se reconduzida ao estado de espírito que lhe advinha na infância, em noites semelhantes: um oscilar entre a espera de alegrias e o receio de não as obter. Agora, ali estava o domingo, claro e tépido, com réstias de sol no mosaico, no leito, nas paredes, mas não com as alegrias sonhadas, sem o que tudo o mais se tornava inexpressivo.
- Se você não quiser, eu não faço questão do retrato - disse ela. Foi tolice.
- O fotógrafo já deve estar esperando. Por que não muda o penteado? Ainda há tempo.
- Não. Vou assim mesmo.
Abriu a porta, saíram. Flutuavam raras nuvens brancas; as folhas das aglaias tinham um brilho fosco. Ela deu o braço ao marido e sentiu, com espanto, uma anunciação de alegrias no ar, como se algo em seu íntimo aguardasse aquele gesto. Seguiram. Soprou um vento brusco, uma janela se abriu, o sol flamejou nos vidros. Uma voz forte de mulher principiou a cantar, extinguiu-se, a música de um acordeão despontou indecisa, cresceu. E quando o sino da Matriz começou a vibrar, com uma paz inabalável e sóbria, ela verificou, exultante, que o retrato não ficaria vazio: a insubstancial riqueza daqueles minutos o animaria para sempre.
- Manhã linda! - murmurou. Hoje eu queria ser menina.
- Você é.
A afirmativa podia ser uma censura, mas foi como um descobrimento que Matilde a aceitou. Seu coração bateu forte, ela sentiu-se capaz de rir muito, de extensas caminhadas, e lamentou que o marido, circunspecto, mudo, estivesse alheio à sua exultação. Guardaria, assim, através dos anos, uma alegria solitária, da qual Antônio para sempre estaria ausente.
Mas quem poderia assegurar, refletiu, que ele era, não um participante de seu júbilo, mas a causa mesma de tudo o que naquele instante sentia; e que, sem ele, o mundo e suas belezas não teriam sentido?
Estas perguntas tinham o peso de afirmativas e ela exclamou que se sentia feliz.
- Aproveite - aconselhou ele. Isso passa.
- Passa. Mas qualquer coisa disto ficará no retrato.
Eu sei, as duas sombras, juntas, resvalavam no muro e na calçada, sobre a qual ressoavam seus passos.
Eu sei, as duas sombras, juntas, resvalavam no muro e na calçada, sobre a qual ressoavam seus passos.
- Não é possível guardar a mínima alegria - disse ele. Em coisa alguma. Nenhum vitral retém a claridade. Cinco meninas apareceram na esquina, os vestidos de cambraia parecendo-lhes comunicar sua leveza, ruidosas, perseguindo-se, entregues à infância e ao domingo, que fluíam com força através delas. Atravessaram a rua, abriram um portão, desapareceram.
Ela apertou o braço do marido e sorriu, a sentir que um júbilo quase angustioso jorrava de seu íntimo. Compreendera que tudo aquilo era inapreensível: enganara-se ou subestimara o instante ao julgar que poderia guardá-lo. "Que este momento me possua, me ilumine e desapareça - pensava. Eu o vivi. Eu o estou vivendo."
Sentia que a luz do sol a trespassava, como a um vitral.
Fonte: "Os Cem Melhores Contos brasileiros do Século", de Ítalo Moriconi - Editora Objetiva
Fonte: "Os Cem Melhores Contos brasileiros do Século", de Ítalo Moriconi - Editora Objetiva
quarta-feira, 24 de julho de 2019
terça-feira, 23 de julho de 2019
segunda-feira, 22 de julho de 2019
Frase da Vez
"Aceita o conselho dos
outros, mas nunca desistas
da tua própria opinião."
Shakespeare
( 26 de Abril de 1564, Stratford-on-Avon, Inglaterra – 23 de Abril de 1616)
Foi um poeta e dramaturgo inglês, tido como o maior escritor do
idioma inglês e o mais influente dramaturgo do mundo.
domingo, 21 de julho de 2019
sábado, 20 de julho de 2019
Hoje, 20 de Julho, Faz 50 Anos que o Homem Chegou na Lua
Em 1969, o mundo estava dividido em dois. Sem bombas ou tiros, os Estados Unidos e a União Soviética disputavam o poder. Neste período, conhecido como Guerra Fria , as duas poderosas nações buscavam liderar as mais diferentes áreas, inclusive a espacial.
Nos anos 50, a União Soviética tomou a frente na disputa com o lançamento do primeiro satélite artificial, o Sputinik. Em abril de 1961, os soviéticos lideraram de vez a chamada corrida espacial ao enviar o primeiro homem ao espaço, o cosmonauta Yuri Gagarin.
O avanço espacial dos comunistas fez com que o presidente norte-americano John F. Kennedy anunciasse no Senado, em maio do mesmo ano, o lançamento do programa Apollo , que previa a chegada dos astronautas norte-americanos à Lua até o fim da década. O projeto foi a forma encontrada pelo governo de provar para o mundo a enorme capacidade técnica dos Estados Unidos.
Documentário - Apollo 11
O lançamento ocorreu em 16 de Julho. A alunissagem
aconteceu em 20 de Julho. E a volta pra Terra foi em 24 de Julho.
O projeto Apollo
Anunciado em 1961, o projeto Apollo teve a duração de onze anos e gastou mais de US$ 20 bilhões. Estima-se que 300 mil funcionários e 20 mil empresas se envolveram no programa, que foi dividido em dezessete missões.
Apesar de todo investimento, o início do projeto não foi muito animador. Em janeiro de 1967, durante o ensaio da primeira missão, a base de lançamento sofre um grave incêndio. O acidente matou três astronautas e atrasou o andamento do projeto.
Muitos ajustes precisaram ser feitos nas missões seguintes. O grande avanço do programa pôde ser observado na sétima missão, realizada em outubro de 1968, que comprovou a eficiência dos equipamentos desenvolvidos pela Nasa .
O sucesso do Apollo 11
A tão desejada chegada à Lua ocorreu em 20 de julho de 1969 , quando a missão pousou em uma região conhecida como Mar da Tranqüilidade. Apesar dos avançados computadores, foi preciso os astronautas realizassem algumas manobras manuais durante a descida para garantir um pouso seguro.
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Da esquerda para a direita, Neil Armstrong, Michael Collins e Buzz Aldrin em 30 de março de 1969 no Centro Espacial Kennedy |
Mais de seis horas após o pouso, os dois tripulantes do módulo puderam sair e pisar em solo lunar. O primeiro passo do homem na Lua foi acompanhado por milhões de pessoas pela televisão. Por mais de quatro horas, Neil Armstrong e Edwin Buzz Aldrin fizeram experiências, coletaram amostras de pedras e tiraram fotografias da superfície lunar.
Os dois astronautas também hastearam uma bandeira norte-americana e deixaram uma placa com a seguinte inscrição: "Aqui os homens do planeta Terra pisaram pela primeira vez na Lua. Julho de 1969. Viemos em paz, em nome de toda a humanidade."
Nos três anos seguintes, outras cinco missões à Lua foram bem-sucedidas. Cada uma explorou uma área diferente e, nas três últimas expedições, os astronautas também levaram um veículo que ajudou a ampliar o alcance dos trabalhos.
(º> Fonte: Último Segundo - iG >>>
Saiba Mais:
sexta-feira, 19 de julho de 2019
Argélia é a Campeã da Copa Africana de Nações 2019
A Argélia é a campeã da Copa Africana de Nações 2019.
O país conquistou seu segundo título na competição ao
derrotar Senegal por 1x0.
terça-feira, 16 de julho de 2019
sexta-feira, 12 de julho de 2019
quarta-feira, 10 de julho de 2019
segunda-feira, 8 de julho de 2019
México é o Campeão da Copa Ouro CONCACAF 2019
O México venceu os EUA por 1x0 e conquistou a Copa Ouro da
CONCACAF 2019. É o oitavo título dos mexicanos na competição.
<> Tabela à partir das Quartas de Final <>
domingo, 7 de julho de 2019
E.U.A é o Campeão da Copa do Mundo de Futebol Feminino 2019
Os EUA conquistaram a Copa do Mundo de Futebol Feminino de 2019
ao vencer a Holanda por 2x0. É a quarta conquista do país na
Copa do Mundo em 8 Copas disputadas. Supremacia das americanas.
ao vencer a Holanda por 2x0. É a quarta conquista do país na
Copa do Mundo em 8 Copas disputadas. Supremacia das americanas.
<>>> Tabela à partir das Oitavas de Final <<<>
sábado, 6 de julho de 2019
Trilha Sonora (324) - Chico Buarque
Pedro Pedreiro
Chico Buarque
Pedro pedreiro penseiro esperando o trem
Manhã, parece, carece de esperar também
Para o bem de quem tem bem
De quem não tem vintém
Pedro pedreiro fica assim pensando
Assim pensando o tempo passa
E a gente vai ficando pra trás
Esperando, esperando, esperando
Esperando o sol
Esperando o trem
Esperando o aumento
Desde o ano passado
Para o mês que vem
Pedro pedreiro penseiro esperando o trem
Manhã, parece, carece de esperar também
Para o bem de quem tem bem
De quem não tem vintém
Pedro pedreiro espera o carnaval
E a sorte grande no bilhete pela federal
Todo mês
Esperando, esperando, esperando
Esperando o sol
Esperando o trem
Esperando o aumento
Para o mês que vem
Esperando a festa
Esperando a sorte
E a mulher de Pedro
Esperando um filho
Pra esperar também
Pedro pedreiro…
quarta-feira, 3 de julho de 2019
quinta-feira, 27 de junho de 2019
A Carteira, por Machado de Assis
A Carteira
Machado de Assis
...De repente, Honório olhou para o chão e viu uma carteira. Abaixar-se, apanhá-la e guardá-la foi obra de alguns instantes. Ninguém o viu, salvo um homem que estava à porta de uma loja, e que, sem o conhecer, lhe disse rindo:
- Olhe, se não dá por ela; perdia-a de uma vez.
- É verdade, concordou Honório envergonhado.
Para avaliar a oportunidade desta carteira, é preciso saber que Honório tem de pagar amanhã uma dívida, quatrocentos e tantos mil-réis, e a carteira trazia o bojo recheado. A dívida não parece grande para um homem da posição de Honório, que advoga; mas todas as quantias são grandes ou pequenas, segundo as circunstâncias, e as dele não podiam ser piores. Gastos de família excessivos, a princípio por servir a parentes, e depois por agradar à mulher, que vivia aborrecida da solidão; baile daqui, jantar dali, chapéus, leques, tanta cousa mais, que não havia remédio senão ir descontando o futuro. Endividou-se. Começou pelas contas de lojas e armazéns; passou aos empréstimos, duzentos a um, trezentos a outro, quinhentos a outro, e tudo a crescer, e os bailes a darem-se, e os jantares a comerem-se, um turbilhão perpétuo, uma voragem.
- Tu agora vais bem, não? dizia-lhe ultimamente o Gustavo C..., advogado e familiar da casa.
- Agora vou, mentiu o Honório.
A verdade é que ia mal. Poucas causas, de pequena monta, e constituintes remissos; por desgraça perdera ultimamente um processo, em que fundara grandes esperanças. Não só recebeu pouco, mas até parece que ele lhe tirou alguma cousa à reputação jurídica; em todo caso, andavam mofinas nos jornais.
D. Amélia não sabia nada; ele não contava nada à mulher, bons ou maus negócios. Não contava nada a ninguém. Fingia-se tão alegre como se nadasse em um mar de prosperidades. Quando o Gustavo, que ia todas as noites à casa dele, dizia uma ou duas pilhérias, ele respondia com três e quatro; e depois ia ouvir os trechos de música alemã, que D. Amélia tocava muito bem ao piano, e que o Gustavo escutava com indizível prazer, ou jogavam cartas, ou simplesmente falavam de política.
Um dia, a mulher foi achá-lo dando muitos beijos à filha, criança de quatro anos, e viu-lhe os olhos molhados; ficou espantada, e perguntou-lhe o que era.
- Nada, nada.
Compreende-se que era o medo do futuro e o horror da miséria. Mas as esperanças voltavam com facilidade. A idéia de que os dias melhores tinham de vir dava-lhe conforto para a luta. Estava com, trinta e quatro anos; era o princípio da carreira: todos os princípios são difíceis. E toca a trabalhar, a esperar, a gastar, pedir fiado ou: emprestado, para pagar mal, e a más horas.
A dívida urgente de hoje são uns malditos quatrocentos e tantos mil-réis de carros. Nunca demorou tanto a conta, nem ela cresceu tanto, como agora; e, a rigor, o credor não lhe punha a faca aos peitos; mas disse-lhe hoje uma palavra azeda, com um gesto mau, e Honório quer pagar-lhe hoje mesmo. Eram cinco horas da tarde. Tinha-se lembrado de ir a um agiota, mas voltou sem ousar pedir nada. Ao enfiar pela Rua. da Assembléia é que viu a carteira no chão, apanhou-a, meteu no bolso, e foi andando.
Durante os primeiros minutos, Honório não pensou nada; foi andando, andando, andando, até o Largo da Carioca. No Largo parou alguns instantes, - enfiou depois pela Rua da Carioca, mas voltou logo, e entrou na Rua Uruguaiana. Sem saber como, achou-se daí a pouco no Largo de S. Francisco de Paula; e ainda, sem saber como, entrou em um Café. Pediu alguma cousa e encostou-se à parede, olhando para fora. Tinha medo de abrir a carteira; podia não achar nada, apenas papéis e sem valor para ele. Ao mesmo tempo, e esta era a causa principal das reflexões, a consciência perguntava-lhe se podia utilizar-se do dinheiro que achasse. Não lhe perguntava com o ar de quem não sabe, mas antes com uma expressão irônica e de censura. Podia lançar mão do dinheiro, e ir pagar com ele a dívida? Eis o ponto. A consciência acabou por lhe dizer que não podia, que devia levar a carteira à polícia, ou anunciá-la; mas tão depressa acabava de lhe dizer isto, vinham os apuros da ocasião, e puxavam por ele, e convidavam-no a ir pagar a cocheira. Chegavam mesmo a dizer-lhe que, se fosse ele que a tivesse perdido, ninguém iria entregar-lha; insinuação que lhe deu ânimo.
Tudo isso antes de abrir a carteira. Tirou-a do bolso, finalmente, mas com medo, quase às escondidas; abriu-a, e ficou trêmulo. Tinha dinheiro, muito dinheiro; não contou, mas viu duas notas de duzentos mil-réis, algumas de cinqüenta e vinte; calculou uns setecentos mil-réis ou mais; quando menos, seiscentos. Era a dívida paga; eram menos algumas despesas urgentes. Honório teve tentações de fechar os olhos, correr à cocheira, pagar, e, depois de paga a dívida, adeus; reconciliar-se-ia consigo. Fechou a carteira, e com medo de a perder, tornou a guardá-la.
Mas daí a pouco tirou-a outra vez, e abriu-a, com vontade de contar o dinheiro. Contar para quê? era dele? Afinal venceu-se e contou: eram setecentos e trinta mil-réis. Honório teve um calafrio. Ninguém viu, ninguém soube; podia ser um lance da fortuna, a sua boa sorte, um anjo... Honório teve pena de não crer nos anjos... Mas por que não havia de crer neles? E voltava ao dinheiro, olhava, passava-o pelas mãos; depois, resolvia o contrário, não usar do achado, restituí-lo. Restituí-lo a quem? Tratou de ver se havia na carteira algum sinal.
"Se houver um nome, uma indicação qualquer, não posso utilizar-me do dinheiro," pensou ele.
Esquadrinhou os bolsos da carteira. Achou cartas, que não abriu, bilhetinhos dobrados, que não leu, e por fim um cartão de visita; leu o nome; era do Gustavo. Mas então, a carteira?... Examinou-a por fora, e pareceu-lhe efetivamente do amigo. Voltou ao interior; achou mais dois cartões, mais três, mais cinco. Não havia duvidar; era dele.
A descoberta entristeceu-o. Não podia ficar com o dinheiro, sem praticar um ato ilícito, e, naquele caso, doloroso ao seu coração porque era em dano de um amigo. Todo o castelo levantado esboroou-se como se fosse de cartas. Bebeu a última gota de café, sem reparar que estava frio. Saiu, e só então reparou que era quase noite. Caminhou para casa. Parece que a necessidade ainda lhe deu uns dous empurrões, mas ele resistiu.
"Paciência, disse ele consigo; verei amanhã o que posso fazer."
Chegando a casa, já ali achou o Gustavo, um pouco preocupado, e a própria D. Amélia o parecia também. Entrou rindo, e perguntou ao amigo se lhe faltava alguma cousa.
- Nada.
- Nada?
- Por quê?
- Mete a mão no bolso; não te falta nada?
- Falta-me a carteira, disse o Gustavo sem meter a mão no bolso. Sabes se alguém a achou?
- Achei-a eu, disse Honório entregando-lha.
Gustavo pegou dela precipitadamente, e olhou desconfiado para o amigo. Esse olhar foi para Honório como um golpe de estilete; depois de tanta luta com a necessidade, era um triste prêmio. Sorriu amargamente; e, como o outro lhe perguntasse onde a achara, deu-lhe as explicações precisas.
- Mas conheceste-a?
- Não; achei os teus bilhetes de visita.
Honório deu duas voltas, e foi mudar de toilette para o jantar. Então Gustavo sacou novamente a carteira, abriu-a, foi a um dos bolsos, tirou um dos bilhetinhos, que o outro não quis abrir nem ler, e estendeu-o a D. Amélia, que, ansiosa e trêmula, rasgou-o em trinta mil pedaços: era um bilhetinho de amor.
(º> Via: Biblio >>>
quarta-feira, 26 de junho de 2019
terça-feira, 25 de junho de 2019
segunda-feira, 24 de junho de 2019
Frase da Vez
"As convicções são inimigas
mais perigosas da verdade
do que as mentiras."
Nietzsche
(Röcken, 15 de Outubro de 1844 - Weimar, 25 de Agosto de 1900)
Foi um filólogo,filósofo, crítico cultural, poeta e compositor alemão.
Ele escreveu vários textos críticos sobre a religião, a moral,
a cultura contemporânea, filosofia e ciência, exibindo uma
predileção por metáfora, ironia e aforismo.
sábado, 22 de junho de 2019
Trilha Sonora (323) - Beth Carvalho
Vou Festejar
Beth Carvalho
Chora, não vou ligar
Chegou a hora
Vais me pagar
Pode chorar, pode chorar
És, o teu castigo
Brigou comigo
Sem ter por que
Vou festejar, vou festejar
O teu sofrer, o teu penar
Você pagou com traição
A quem sempre lhe deu a mão
Você pagou com traição
A quem sempre lhe deu a mão
sexta-feira, 21 de junho de 2019
Hoje, 180 anos do Nascimento de Machado de Assis
Hoje, 21 de Junho, 180 anos do nascimento do maior escritor brasileiro...
11 Curiosidades sobre Machado de Assis
Machado de Assis (1839-1908) entrou para a história da língua portuguesa— e também para a história pessoal de muitos de seus leitores —, mas fez muito mais que isso. Conheça histórias menos conhecidas e nada banais da sua vida pessoal e profissional.
1. O avô de Machado de Assis foi escravo em uma chácara no morro do Livramento, no Rio de Janeiro, onde o escritor nasceu e foi batizado pela dona da casa, Maria José de Mendonça Barroso. Aliás, foi lá que ele aprendeu a ler.
2. Machado foi responsável por uma das primeiras traduções do conto O Corvo, de Edgar Allan Poe. O autor brasileiro falava francês — alguns acreditam que ele aprendeu a língua com um padeiro — e também traduziu Os Trabalhadores do Mar, de Victor Hugo.
3. Foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras e ocupou a cadeira 23 — na época, a primeira cadeira foi designada a José de Alencar. Machado foi o primeiro presidente da instituição.
4. Foi apelidado pelos vizinhos de “Bruxo do Cosme Velho”, pois teria queimado cartas em um caldeirão em sua casa que ficava na Rua Cosme Velho. O apelido, entretanto, só pegou quando o poeta Carlos Drummond de Andrade fez o poema A um bruxo, com amor, que reverencia o escritor.
5. Em seu livro Anjo Rafael, Machado de Assis previu a existência da doença folie à deuxantes de ela ser descrita. Isso porque na obra é contada a história de uma filha que é “contagiada” pela loucura do pai, enlouquecendo também. Anos depois da publicação, o mal foi descoberto por pesquisadores. Como se não bastasse, o brasileiro também descobriu a cura para a doença: afastar a pessoa saudável de quem tem o problema mental.
6. O autor era enxadrista e participou do primeiro campeonato brasileiro do esporte mental, ficando em terceiro lugar. As peças que utilizou estão expostas até hoje na Academia Brasileira de Letras.
7. Ele foi casado por 35 anos com Carolina Machado, que era quatro anos mais velha, mas não tiveram filhos. Alguns especialistas dizem que Carolina era muito inteligente e ajudava na revisão dos textos. Com a morte da mulher, Machado entrou em profunda depressão e escreveu para o amigo Joaquim Nabuco: “Foi-se a melhor parte da minha vida, e aqui estou só no mundo”.
8. No prefácio da segunda edição de sua obra Poesias Completas, publicada em 1902, a palavra "cegara" foi substituída, na expressão “lhe cegara o juízo”, por um inusitado “cagara”. Calma, a história é ainda pior. Entenda aqui por que a gafe foi ainda maior. Diz a lenda que o próprio Machado teria participado de um mutirão para corrigir os exemplares antes de chegarem ao público. O que se sabe é que alguns escaparam e saíram com o erro.
9. Machado escreveu nove textos teatrais e foi crítico desta forma de arte desde os 21 anos. Também trabalhou como jornalista e, no início da juventude, vendeu doces feitos pela madrasta e engraxou sapatos. Alguns especialistas acreditam que ele chegou a ser coroinha em uma igreja, mas não há confirmações.
10. Em 1888, foi condecorado pelo então imperador Dom Pedro 2º com a Ordem da Rosa e, meses depois, foi indicado para fazer parte da Secretaria da Agricultura. Anos depois, chegou a ocupar o cargo de diretor-geral da viação da Secretaria da Indústria, Viação e Obras Públicas.
11. Era epilético e apresentava sinais de gagueira, o que contribuiu para formação de sua personalidade insegura e reclusa. Além disso, Machado de Assis, por ser mulato, enfrentou muito preconceito para conseguir reconhecimento.
(°> Fonte: Galileu >>>
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