"Uma vaga noção de tudo, e um conhecimento de nada."
Charles Dickens (1812 - 1870) - Escritor Inglês

sábado, 11 de julho de 2020

Trilha Sonora (334) - Novos Baianos

Brasil Pandeiro
Novos Baianos
Compositor: Assis Valente

Chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor
Eu fui à Penha, fui pedir ao Padroeiro para me ajudar
Salve o Morro do Vintém, Pendura a saia eu quero ver
Eu quero ver o tio Sam tocar pandeiro para o mundo sambar

O Tio Sam está querendo conhecer a nossa batucada
Anda dizendo que o molho da baiana melhorou seu prato
Vai entrar no cuzcuz, acarajé e abará
Na Casa Branca já dançou a batucada de ioiô, iaiá

Brasil, esquentai vossos pandeiros
Iluminai os terreiros que nós queremos sambar!

Há quem sambe diferente noutras terras, noutra gente
Num batuque de matar
Batucada, reunir nossos valores
Pastorinhas e cantores
Expressão que não tem par, ó meu Brasil

Brasil, esquentai vossos pandeiros
Iluminai os terreiros que nós queremos sambar!

Brasil, esquentai vossos pandeiros
Iluminai os terreiros que nós queremos sambar!

Ô, ô, sambar.
Ô, ô, sambar...

sábado, 4 de julho de 2020

Cova 312, de Daniela Arbex

Cova 312 
Daniela Arbex 

Geração Editorial 

2015 – 344 páginas 

Menos de dois anos depois de seu surpreendente best-seller de estreia, “Holocausto brasileiro”, Daniela Arbex volta com mais um livro corajoso e revelador. Escrito como um romance, nele se conta a história real de como as Forças Armadas mataram pela tortura um jovem militante político, forjaram seu suicídio e sumiram com seu corpo. Daniela Arbex reconstitui o calvário deste jovem, de seus companheiros e de sua família até sua morte e desaparecimento. E continua investigando até descobrir seu corpo, na anônima Cova 312 que dá título ao livro. No final, uma revelação bombástica muda um capítulo da história do Brasil. Uma história apaixonante, cheia de mistério, poesia, tragédia e sofrimento.[Contracapa do livro] 

Daniela Arbex traz neste seu livro-reportagem, a história real de como as Forças Armadas na época da ditadura, mataram pela tortura um jovem militante político, Milton Soares de Castro, forjaram seu suicídio e sumiram com seu corpo. 

A autora nos conta a história de Milton e seus companheiros que formavam uma guerrilha contra a ditadura militar instaurada no Brasil. A guerrilha era organizada pelo Movimento Nacional Revolucionário (MNR), formado por rebelados do exército brasileiro e um único civil, justamente, Milton S. de Castro. Uma guerrilha que nunca chegou ao seu objetivo, nunca aconteceu. Foi desmantelada antes pelas Forças Armadas. E a autora investigou, pesquisou e entrevistou várias pessoas, reconstituindo o calvário deste jovem, de seus companheiros e de sua família, até sua morte e desaparecimento. E descobriu onde estava seu corpo, na anônima Cova 312. 

A polícia do Exercito prendeu os 12 revolucionários que estavam acampados na Serra de Caparaó, e todos foram conduzidos à Penitenciária Estadual de Linhares, localizada em Juiz de Fora, interior de Minas Gerais. 

Destes 12, apenas o jovem foi morto. Na versão oficial: suicídio. Alguns questionamentos surgiram principalmente de seus familiares e de seus companheiros, que contestaram a tese de suicídio. 

Só em 2002, 35 anos depois da morte de Milton, que o jornal Tribuna de Minas, através de Daniela Arbex resolveu aprofundar a investigação da morte e do desaparecimento do corpo do jovem, que sua mãe tanto procurou durante 35 anos, nas prisões da ditadura, e morreu dolorosamente sem ter conhecimento que o corpo do filho estava na anônima cova 312. A jornalista mostra o passo a passo esta investigação jornalística. 

E o resultado desta investigação você confere neste excelente livro. Uma obra comovente e emocionante, misto de tragédia e sofrimento, de mistérios e emoções. Uma história cruel e dolorosa, mas magistralmente bem investigada e contada por Daniela Arbex, assim como foi em “Holocausto Brasileiro”. 

O livro ainda é repleto de fotografias das pessoas envolvidas na história e também de trechos de documentos relacionadas ao período mais nefasto do Brasil. 
*
“O tema pode parecer pesado e, como trata de episódio ainda mal resolvido da história recente brasileira, difícil de digerir. Seria assim, não fosse a capacidade prodigiosa de Daniela Arbex de transformar histórias trágicas em uma narrativa fluida, atraente, poética e, em alguns momentos, até divertida…”, escreve no prefácio, o escritor Laurentino Gomes. 

Trechos: 
-“ Rogério não conhecia aquele local. Na entrada do regimento, foi recebido por um homem magro e alto com patente de capitão. Mais tarde veio saber tratar-se de Hilton Paulo Cunha Portela, conhecido pelo codinome Doutor Joaquim. 
“Você é o Rogério?” 
O universitário acenou positivamente com a cabeça, mas não teve tempo de dizer nada. Foi surpreendido com um tapa no rosto que quase o derrubou. Sua perna bambeou, embora tentasse não demonstrar que o pânico o invadia. Já dentro do quartel, ele recebeu a ordem para se despir. Atacado, não conseguia identificar todos os seus algozes. Tentava apenas proteger o rosto, numa atitude involuntária de autodefesa. Depois de tapas na cara, levou socos e chutes pelo corpo. Não havia experimentado humilhação como aquela. Por nunca ter sido de briga, ele só conhecia as causadas por rixas de moleque na rua. A descida naquele submundo marcou o início de sua vida adulta. 
“Seu filho da puta, segura esse fio.” 
Rogério sentiu a musculatura contrair. O corpo tremeu por dentro com a corrente elétrica. Primeiro tomou choque no rosto, nas mãos, depois nas pernas. Aquilo queimava. Os militares debochavam. Não conseguia manter as mãos segurando o fio. Continuou apanhando até perder a noção do tempo. Ao final da sessão, foi levado para uma cela, de onde só foi retirado horas depois. Recuperou suas roupas, mas sua dignidade havia sido atingida. Ainda viu passar, pelo corredor do regimento, um homem nu todo ensanguentado. Era José Adão Pinto, militante da Corrente, que havia sido empalado por um cabo de vassoura. Ainda perturbado por toda violência que viu e sentiu, Rogério foi colocado em um camburão. O carro rodou por horas. Ele urinou lá dentro. O porta-malas só foi aberto dentro da Colônia Penal Magalhães Pinto, em Ribeirão das Neves. 
Rogério só percebeu que ainda estava em Minas Gerais pela farda do soldado que os recebeu. Na entrada do complexo, um sargento da PM tomou os óculos do universitário. A carteira de identidade, o relógio, o cordão, o cinto e os sapatos foram apreendidos.” – páginas 117 e 118

“- Após a descoberta da Cova 312, telefonei para Gessi Palmeira Vieira, em Porto Alegre, para revelar o lugar em que seu irmão havia sido enterrado. Durante trinta e cinco anos, o local foi mantido em sigilo pelos militares, tornando-se um dos grandes segredos guardados pela ditadura brasileira. Ao receber a notícia, Gessi não conteve a emoção: 
“O que fizeram com o Milton não se faz nem com um bicho. Ele tinha um ideal, queria mudar o país. Quando soubemos de sua morte, lutamos por muito tempo para que o exército nos entregasse seu corpo. Não tivemos o direito de velar nosso irmão”, disse, chorando. Edelson mostrou-se igualmente comovido. 
‘Minha mãe sofreu muito com a morte do Milton. Todos nós ficamos marcados. Tínhamos um lema, uma convicção. Ele jamais se mataria. Meu irmão cumpriu seu papel perante o Brasil.’” – página 276 

-“ Foi percorrendo a história do guerrilheiro do Caparaó que eu pude seguir a trilha de tantos outros que, assim como ele, tiveram a Penitenciária de Linhares como destino. Conhecer os episódios de vida e de morte dos militantes políticos me deu a oportunidade de desvendar um Brasil que ainda teme os seus fantasmas e se acovarda diante do peso da culpa. Os sobreviventes têm muito a ensinar: convivem com suas sequelas e enfrentam a herança da violência para seguir em frente, mesmo sendo difícil se livrar do tormento da perseguição. Fazer silêncio diante de uma nação que foi esfacelada pela violência no passado e continua reproduzindo os métodos de tortura e exclusão do período do arbítrio é compactuar com crimes dos quais podemos nos tornar vítimas. Pior que isso: reeditar nas ruas do país marchas pela ordem clamando o retorno da ditadura é desconhecer os anos de sombra que envolveram o Brasil ou aceitar que a força supere o diálogo e o esforço histórico dos movimentos populares na busca por caminhos de paz.” – páginas 335 e 336 

“- Assim como os familiares de Milton puderam saber sobre a existência da Cova 312, onde o integrante do MNR foi sepultado, apontar o destino das ossadas de cada militante abatido e esclarecer as mortes ocorridas nos vinte e um anos de arbítrio é sanar uma dívida histórica do país com os seus filhos. Revolver o passado é vital para se fazer justiça e para consolidação do estado democrático de direito. 
Punir ou perdoar? Enquanto o Brasil se divide entre a anistia e a imprescritibilidade dos crimes de tortura — o que os tornaria passíveis de responsabilização ainda hoje —, uma certeza se consolida: esquecer é impossível. E se centenas de brasileiros tiveram suas vozes silenciadas, nós continuaremos a lembrá-los, um a um, falando em seus nomes. 
— Milton Soares de Castro! 
— PRESENTE!” – páginas 341 e 342 

A autora: 
Daniela Arbex é uma das jornalistas mais premiadas de sua geração. Seu livro, o best-seller “Holocausto Brasileiro”, foi eleito Melhor Livro-Reportagem do Ano pela Associação Paulista de Críticos de Arte (2013) e segundo melhor Livro-Reportagem no prêmio Jabuti (2014). Com mais de 200 mil exemplares vendidos no Brasil e em Portugal, a obra ganhou as telas da TV em 2016, no documentário produzido com exclusividade para a HBO, com exibição em mais de 40 países. Seu mais recente sucesso, Cova 312, também venceu o prêmio Jabuti em 2016 na categoria livro-reportagem. Daniela tem mais de 20 prêmios nacionais e internacionais no currículo, entre eles três prêmios Esso, o americano Knight International Journalism Award (2010) e o prêmio IPYS de Melhor Investigação Jornalística da América Latina (2009). Há 21 anos trabalha no Jornal Tribuna de Minas, onde é repórter especial. 

Recomendo a leitura. Fica a Dica!