"Uma vaga noção de tudo, e um conhecimento de nada."
Charles Dickens (1812 - 1870) - Escritor Inglês

terça-feira, 31 de outubro de 2017

A de Sempre, por Carlos Drummond de Andrade

A de sempre

Carlos Drummond de Andrade

— Até beber cerveja ficou difícil — queixa-se. 

— O preço?

— Não. A variedade. O embaras du choix.

— Mas se você já estava acostumado com uma...

— E as novas que aparecem? Em cada Estado surge uma fábrica, se não surgem duas. Cada qual oferecendo diversas qualidades. Você senta no bar de sua eleição, um velho bar onde até as cadeiras conhecem o seu corpo, a sua maneira de sentar e de beber. Pede uma cervejinha, simplesmente. Não precisa dizer o nome. Aquela que há anos o garçom lhe traz sem necessidade de perguntar, pois há anos você optou por uma das duas marcas tradicionais, e daí não sai. Bem, você pede a cervejinha inominada, e o garçom não se mexe. Fica olhando pra sua cara, à espera de definição. Você olha para cara dele, como quem diz: Quê que há, rapaz? Então ele emite um som: Qual? Você pensa que não ouviu direito, franze a testa, num esforço de captação: qual o quê? Qual a marca, doutor? Temos essa, aquela, aquela outra, mais outra, e outra, e outras mais. . Desfia o rosário, e você de boca aberta: Como? Ele está pensando que eu vou beber elas todas? Acha que sou principiante em busca de aventura? Quer me gozar? Nada disso. O garçom explica, meio encabulado, que a casa dispõe de 12 marcas de cerveja nacional, fora as estrangeiras, sofisticadas, e ele tem ordem de cantar os nomes pra freguesia. Até pra mim, Leovigil? pergunto. Bem, o patrão disse que eu tenho de oferecer as marcas pra todo mundo, as novas cervejas têm de ser promovidas. Não mandou abrir exceção pra ninguém, eu é que, em atenção ao doutor, fiquei calado, esperando a dica... Não quis forçar a barra, desculpe.

— E aí?

— Aí eu disse que não havia o que desculpar, ordens são ordens e eu não sou de infringir regulamentos. Os regulamentos é que infringem a minha paz, freqüentemente. Mas para não dar o braço a torcer, nem me declarar vencido pela competição das cervejas, concluí: Leovigil, traga a de sempre.

— Não quis dizer o nome?

— Não. Minha marca de cerveja — "minha garrafa", digamos assim, pois a individualidade começa pela garrafa — passou a chamar-se "a de sempre". Não gosto de mudar as estruturas sem justa causa, nem me interessa dançar de provador de cerveja, entende?

— Mas que custa experimentar, homem de Deus?

— Só por experimentar, acho frívolo. Os moços, sim, não encontraram ainda sua definição, em matéria de cerveja e de entendimento do mundo. Saltam de uma para outra fruição, tomam pileques de ideologias coloridas, do vermelho ao negro, passando pelo róseo, pelo alaranjado e pelo furta-cor. Mas depois de certa idade, e de certa experiência de bebedor, você já sabe o que quer, ou antes, o que não quer. Principalmente o que não quer. E é isso que os outros querem que você queira. Tá compreendendo?

— Mais ou menos.

— Na verdade, não há muitas espécies de cerveja, no mundo das idéias. Mas os rótulos perturbam. Uns aparecem com mulher nua, insinuando que o gosto é mais capitoso. Bem, até agora não vi rótulo de cerveja mostrando mulher com tudo de fora, mas deve haver. Mulher se oferecendo está em tudo que é produto industrial, por que não estaria nos sistemas de organização social, como bonificação?

— Você está divagando.

— Estou. Divagar é uma forma de transformar pensamentos em nuvem ou em fumaça de cigarro, fazendo com que eles circulem por aí.

— Ou se percam.

— E se percam. Exatamente. 0 importante não é beber cerveja, é ter a ilusão de que nossa cerveja é a única que presta. 

Sujeito mais conservador! Ou sábio, quem sabe?

*
Texto extraído do livro “De notícias & não notícias faz-se a crônica”, 
Livraria José Olympio Editora 

(º> Via: Releituras >>>


Hoje, 31 de Outubro de 2017,
 115 anos do Nascimento de Drummond

Hoje, 500 anos que Lutero fixou suas 95 Teses na porta de uma Igreja

Martinho Lutero, em alemão: Martin Luther, nasceu em Eisleben, em 10 de novembro de 1483. Lutero foi um monge agostiniano e professor de teologia germânico que tornou-se uma das figuras centrais da Reforma Protestante. Levantou-se veementemente contra diversos dogmas do catolicismo romano, contestando sobretudo a doutrina de que o perdão de Deus poderia ser adquirido pelo comércio das indulgências.


Segundo a tradição, em 31 de outubro de 1517 foram afixadas as 95 Teses na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, com um convite aberto a uma disputa escolástica sobre elas. Essas teses condenavam o que Lutero acreditava ser a avareza e o paganismo na Igreja como um abuso e pediam um debate teológico sobre o que as Indulgências significavam. Para todos os efeitos, contudo, nelas Lutero não questionava diretamente a autoridade do Papa para conceder as tais indulgências.

Lutero faleceu em sua cidade natal em 18 de fevereiro de 1546.

Eis as 95 Teses de Lutero:

Por amor à verdade e no empenho de elucidá-la, discutir-se-á o seguinte em Wittenberg, sob a presidência do reverendo padre Martinho Lutero, mestre de Artes e de Santa Teologia e professor catedrático desta última, naquela localidade. Por esta razão, ele solicita que os que não puderem estar presentes e debater conosco oralmente o façam por escrito, mesmo que ausentes. Em nome do nosso Senhor Jesus Cristo. Amém.


1. Ao dizer: "Fazei penitência", etc. [Mt 4.17], o nosso Senhor e Mestre Jesus Cristo quis que toda a vida dos fiéis fosse penitência.

2. Esta penitência não pode ser entendida como penitência sacramental (isto é, da confissão e satisfação celebrada pelo ministério dos sacerdotes).

3. No entanto, ela não se refere apenas a uma penitência interior; sim, a penitência interior seria nula se, externamente, não produzisse toda sorte de mortificação da carne.

4. Por consequência, a pena perdura enquanto persiste o ódio de si mesmo (isto é a verdadeira penitência interior), ou seja, até a entrada do reino dos céus.

5. O papa não quer nem pode dispensar de quaisquer penas senão daquelas que impôs por decisão própria ou dos cânones.

6. O papa não tem o poder de perdoar culpa a não ser declarando ou confirmando que ela foi perdoada por Deus; ou, certamente, perdoados os casos que lhe são reservados. Se ele deixasse de observar essas limitações, a culpa permaneceria.

7. Deus não perdoa a culpa de qualquer pessoa sem, ao mesmo tempo, sujeitá-la, em tudo humilhada, ao sacerdote, seu vigário.

8. Os cânones penitenciais são impostos apenas aos vivos; segundo os mesmos cânones, nada deve ser imposto aos moribundos.

9. Por isso, o Espírito Santo nos beneficia através do papa quando este, em seus decretos, sempre exclui a circunstância da morte e da necessidade.

10. Agem mal e sem conhecimento de causa aqueles sacerdotes que reservam aos moribundos penitências canônicas para o purgatório.

11. Essa cizânia de transformar a pena canônica em pena do purgatório parece ter sido semeada enquanto os bispos certamente dormiam.

12. Antigamente se impunham as penas canônicas não depois, mas antes da absolvição, como verificação da verdadeira contrição.

13. Através da morte, os moribundos pagam tudo e já estão mortos para as leis canônicas, tendo, por direito, isenção das mesmas.

14. Saúde ou amor imperfeito no moribundo necessariamente traz consigo grande temor, e tanto mais quanto menor for o amor.

15. Este temor e horror por si sós já bastam (para não falar de outras coisas) para produzir a pena do purgatório, uma vez que estão próximos do horror do desespero.

16. Inferno, purgatório e céu parecem diferir da mesma forma que o desespero, o semidesespero e a segurança.

17. Parece necessário, para as almas no purgatório, que o horror devesse diminuir à medida que o amor crescesse.

18. Parece não ter sido provado, nem por meio de argumentos racionais nem da Escritura, que elas se encontrem fora do estado de mérito ou de crescimento no amor.

19. Também parece não ter sido provado que as almas no purgatório estejam certas de sua bem-aventurança, ao menos não todas, mesmo que nós, de nossa parte, tenhamos plena certeza disso.

20. Portanto, por remissão plena de todas as penas, o papa não entende simplesmente todas, mas somente aquelas que ele mesmo impôs.

21. Erram, portanto, os pregadores de indulgências que afirmam que a pessoa é absolvida de toda pena e salva pelas indulgências do papa.

22. Com efeito, ele não dispensa as almas no purgatório de uma única pena que, segundo os cânones, elas deveriam ter pago nesta vida.

23. Se é que se pode dar algum perdão de todas as penas a alguém, ele, certamente, só é dado aos mais perfeitos, isto é, pouquíssimos.

24. Por isso, a maior parte do povo está sendo necessariamente ludibriada por essa magnífica e indistinta promessa de absolvição da pena.

25. O mesmo poder que o papa tem sobre o purgatório de modo geral, qualquer bispo e cura tem em sua diocese e paróquia em particular.

26. O papa faz muito bem ao dar remissão às almas não pelo poder das chaves (que ele não tem), mas por meio de intercessão.

27. Pregam doutrina mundana os que dizem que, tão logo tilintar a moeda lançada na caixa, a alma sairá voando [do purgatório para o céu].

28. Certo é que, ao tilintar a moeda na caixa, pode aumentar o lucro e a cobiça; a intercessão da Igreja, porém, depende apenas da vontade de Deus.

29. E quem é que sabe se todas as almas no purgatório querem ser resgatadas, como na história contada a respeito de São Severino e São Pascoal?

30. Ninguém tem certeza da veracidade de sua contrição, muito menos de haver conseguido plena remissão.

31. Tão raro como quem é penitente de verdade é quem adquire autenticamente as indulgências, ou seja, é raríssimo.

32. Serão condenados em eternidade, juntamente com seus mestres, aqueles que se julgam seguros de sua salvação através de carta de indulgência.

33. Deve-se ter muita cautela com aqueles que dizem serem as indulgências do papa aquela inestimável dádiva de Deus através da qual a pessoa é reconciliada com Ele.

34. Pois aquelas graças das indulgências se referem somente às penas de satisfação sacramental, determinadas por seres humanos.

35. Os que ensinam que a contrição não é necessária para obter redenção ou indulgência, estão pregando doutrinas incompatíveis com o cristão.

36. Qualquer cristão que está verdadeiramente contrito tem remissão plena tanto da pena como da culpa, que são suas dívidas, mesmo sem uma carta de indulgência.

37. Qualquer cristão verdadeiro, vivo ou morto, participa de todos os benefícios de Cristo e da Igreja, que são dons de Deus, mesmo sem carta de indulgência.

38. Contudo, o perdão distribuído pelo papa não deve ser desprezado, pois – como disse – é uma declaração da remissão divina.

39. Até mesmo para os mais doutos teólogos é dificílimo exaltar simultaneamente perante o povo a liberalidade de indulgências e a verdadeira contrição.

40. A verdadeira contrição procura e ama as penas, ao passo que a abundância das indulgências as afrouxa e faz odiá-las, ou pelo menos dá ocasião para tanto.

41. Deve-se pregar com muita cautela sobre as indulgências apostólicas, para que o povo não as julgue erroneamente como preferíveis às demais boas obras do amor.[5]

42. Deve-se ensinar aos cristãos que não é pensamento do papa que a compra de indulgências possa, de alguma forma, ser comparada com as obras de misericórdia.

43. Deve-se ensinar aos cristãos que, dando ao pobre ou emprestando ao necessitado, procedem melhor do que se comprassem indulgências.[6]

44. Ocorre que através da obra de amor cresce o amor e a pessoa se torna melhor, ao passo que com as indulgências ela não se torna melhor, mas apenas mais livre da pena.

45. Deve-se ensinar aos cristãos que quem vê um carente e o negligencia para gastar com indulgências obtém para si não as indulgências do papa, mas a ira de Deus.

46. Deve-se ensinar aos cristãos que, se não tiverem bens em abundância, devem conservar o que é necessário para sua casa e de forma alguma desperdiçar dinheiro com indulgência.

47. Deve-se ensinar aos cristãos que a compra de indulgências é livre e não constitui obrigação.

48. Deve ensinar-se aos cristãos que, ao conceder perdões, o papa tem mais desejo (assim como tem mais necessidade) de oração devota em seu favor do que do dinheiro que se está pronto a pagar.

49. Deve-se ensinar aos cristãos que as indulgências do papa são úteis se não depositam sua confiança nelas, porém, extremamente prejudiciais se perdem o temor de Deus por causa delas.

50. Deve-se ensinar aos cristãos que, se o papa soubesse das exações dos pregadores de indulgências, preferiria reduzir a cinzas a Basílica de S. Pedro a edificá-la com a pele, a carne e os ossos de suas ovelhas.

51. Deve-se ensinar aos cristãos que o papa estaria disposto – como é seu dever – a dar do seu dinheiro àqueles muitos de quem alguns pregadores de indulgências extorquem ardilosamente o dinheiro, mesmo que para isto fosse necessário vender a Basílica de S. Pedro.

52. Vã é a confiança na salvação por meio de cartas de indulgências, mesmo que o comissário ou até mesmo o próprio papa desse sua alma como garantia pelas mesmas.

53. São inimigos de Cristo e do Papa aqueles que, por causa da pregação de indulgências, fazem calar por inteiro a palavra de Deus nas demais igrejas.

54. Ofende-se a palavra de Deus quando, em um mesmo sermão, se dedica tanto ou mais tempo às indulgências do que a ela.

55. A atitude do Papa necessariamente é: se as indulgências (que são o menos importante) são celebradas com um toque de sino, uma procissão e uma cerimônia, o Evangelho (que é o mais importante) deve ser anunciado com uma centena de sinos, procissões e cerimônias.

56. Os tesouros da Igreja, a partir dos quais o papa concede as indulgências, não são suficientemente mencionados nem conhecidos entre o povo de Cristo.

57. É evidente que eles, certamente, não são de natureza temporal, visto que muitos pregadores não os distribuem tão facilmente, mas apenas os ajuntam.

58. Eles tampouco são os méritos de Cristo e dos santos, pois estes sempre operam, sem o papa, a graça do ser humano interior e a cruz, a morte e o inferno do ser humano exterior.

59. S. Lourenço disse que os pobres da Igreja são os tesouros da mesma, empregando, no entanto, a palavra como era usada em sua época.

60. É sem temeridade que dizemos que as chaves da Igreja, que foram proporcionadas pelo mérito de Cristo, constituem estes tesouros.

61. Pois está claro que, para a remissão das penas e dos casos especiais, o poder do papa por si só é suficiente.

62. O verdadeiro tesouro da Igreja é o santíssimo Evangelho da glória e da graça de Deus.

63. Mas este tesouro é certamente o mais odiado, pois faz com que os primeiros sejam os últimos.

64. Em contrapartida, o tesouro das indulgências é certamente o mais benquisto, pois faz dos últimos os primeiros.

65. Portanto, os tesouros do Evangelho são as redes com que outrora se pescavam homens possuidores de riquezas.

66. Os tesouros das indulgências, por sua vez, são as redes com que hoje se pesca a riqueza dos homens.

67. As indulgências apregoadas pelos seus vendedores como as maiores graças realmente podem ser entendidas como tais, na medida em que dão boa renda.

68. Entretanto, na verdade, elas são as graças mais ínfimas em comparação com a graça de Deus e a piedade da cruz.

69. Os bispos e curas têm a obrigação de admitir com toda a reverência os comissários de indulgências apostólicas.

70. Têm, porém, a obrigação ainda maior de observar com os dois olhos e atentar com ambos os ouvidos para que esses comissários não preguem os seus próprios sonhos em lugar do que lhes foi incumbidos pelo papa.

71. Seja excomungado e amaldiçoado quem falar contra a verdade das indulgências apostólicas.

72. Seja bendito, porém, quem ficar alerta contra a devassidão e licenciosidade das palavras de um pregador de indulgências.

73. Assim como o papa, com razão, fulmina aqueles que, de qualquer forma, procuram defraudar o comércio de indulgências,

74. muito mais deseja fulminar aqueles que, a pretexto das indulgências, procuram fraudar a santa caridade e verdade.

75. A opinião de que as indulgências papais são tão eficazes a ponto de poderem absolver um homem mesmo que tivesse violentado a mãe de Deus, caso isso fosse possível, é loucura.

76. Afirmamos, pelo contrário, que as indulgências papais não podem anular sequer o menor dos pecados venais no que se refere à sua culpa.

77. A afirmação de que nem mesmo São Pedro, caso fosse o papa atualmente, poderia conceder maiores graças é blasfêmia contra São Pedro e o Papa.

78. Dizemos contra isto que qualquer papa, mesmo São Pedro, tem maiores graças que essas, a saber, o Evangelho, as virtudes, as graças da administração (ou da cura), etc., como está escrito em I.Coríntios XII.

79. É blasfêmia dizer que a cruz com as armas do papa, insigneamente erguida, equivale à cruz de Cristo.

80. Terão que prestar contas os bispos, curas e teólogos que permitem que semelhantes sermões sejam difundidos entre o povo.

81. Essa licenciosa pregação de indulgências faz com que não seja fácil nem para os homens doutos defender a dignidade do papa contra calúnias ou questões, sem dúvida argutas, dos leigos.

82. Por exemplo: Por que o papa não esvazia o purgatório por causa do santíssimo amor e da extrema necessidade das almas – o que seria a mais justa de todas as causas –, se redime um número infinito de almas por causa do funestíssimo dinheiro para a construção da basílica – que é uma causa tão insignificante?

83. Do mesmo modo: Por que se mantêm as exéquias e os aniversários dos falecidos e por que ele não restitui ou permite que se recebam de volta as doações efetuadas em favor deles, visto que já não é justo orar pelos redimidos?

84. Do mesmo modo: Que nova piedade de Deus e do papa é essa que, por causa do dinheiro, permite ao ímpio e inimigo redimir uma alma piedosa e amiga de Deus, mas não a redime por causa da necessidade da mesma alma piedosa e dileta por amor gratuito?

85. Do mesmo modo: Por que os cânones penitenciais – de fato e por desuso já há muito revogados e mortos – ainda assim são redimidos com dinheiro, pela concessão de indulgências, como se ainda estivessem em pleno vigor?

86. Do mesmo modo: Por que o papa, cuja fortuna hoje é maior do que a dos ricos mais Crassos, não constrói com seu próprio dinheiro ao menos esta uma Basílica de São Pedro, ao invés de fazê-lo com o dinheiro dos próprios fiéis?

87. Do mesmo modo: O que é que o papa perdoa e concede àqueles que, pela contrição perfeita, têm direito à plena remissão e participação?

88. Do mesmo modo: Que benefício maior se poderia proporcionar à Igreja do que se o papa, assim como agora o faz uma vez, da mesma forma concedesse essas remissões e participações cem vezes ao dia a qualquer dos fiéis?

89. Já que, com as indulgências, o papa procura mais a salvação das almas do que o dinheiro, por que suspende as cartas e indulgências, outrora já concedidas, se são igualmente eficazes?

90. Reprimir esses argumentos muito perspicazes dos leigos somente pela força, sem refutá-los apresentando razões, significa expor a Igreja e o papa à zombaria dos inimigos e fazer os cristãos infelizes.

91. Se, portanto, as indulgências fossem pregadas em conformidade com o espírito e a opinião do papa, todas essas objeções poderiam ser facilmente respondidas e nem mesmo teriam surgido.

92. Portanto, fora com todos esses profetas que dizem ao povo de Cristo "Paz, paz!" sem que haja paz!

93. Que prosperem todos os profetas que dizem ao povo de Cristo "Cruz! Cruz!" sem que haja cruz!

94. Devem-se exortar os cristãos a que se esforcem por seguir a Cristo, sua cabeça, através das penas, da morte e do inferno.

95. E que confiem entrar no céu antes passando por muitas tribulações do que por meio da confiança da paz.

[1517 D.C.]

Cada um com seus problemas


segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Frase para a Semana

"Os que amam profundamente, 
jamais envelhecem; 
podem morrer de velhice,
mas morrem jovens."
Martinho Lutero
(Eisleben, 10 de novembro de 1483 - Eisleben, 18 de fevereiro de 1546).
Sacerdote Católico Agostiniano e professor de teologia
germânico, que foi figura central da Reforma Protestante.

sábado, 28 de outubro de 2017

5 Links - # 254 >>>

Inglaterra é a Campeã da Copa do Mundo Sub-17 de 2017

A Inglaterra venceu a Espanha por 5x2 e conquistou 
o título inédito da Copa do Mundo Sub 17.
> Tabela à partir das Oitavas de Final <

Trilha Sonora (291) - The Who

Pinball Wizard
The Who
Compositor: Pete Townshend
Ever since I was a young boy
I played the silver ball
From Soho down to Brighton
I must have played them all
But I ain't seen nothing like him
In any amusement hall
That deaf, dumb and blind kid
Sure Plays A Mean Pinball!

He stands like a statue
Becomes part of the machine
Feeling all the bumpers
Always playing clean
He plays by intuition
The digit counters fall
That deaf, dumb and blind kid
Sure plays a mean pinball

He's a pinball wizard
There has to be a twist
A pinball wizard
Got such a supple wrist

How do you think he does it
I Don'T Know!
What makes him so good

Ain't got no distractions
Can't hear no buzzers and bells
Don't see no lights a-flashin
He plays by sense of smell
Always gets a replay
Never see him fall
That deaf, dumb, and blind kid
Sure plays a mean pinball

I thought I was
The Bally table king
But I just handed
My pinball crown to him

Even on my favorite table
He can beat my best
His disciples lead him in
And he just does the rest
He's got crazy flipper fingers
I never see them fall
That deaf, dumb and blind kid
Sure plays a mean pinball

quinta-feira, 26 de outubro de 2017

Imprevistos, por Roberto Damatta

Imprevistos
Roberto Damatta

Eu disse e repito: livros são tão vivos quanto as pessoas. Gritam, soluçam, silenciam, pregam, ensinam, sugerem, inspiram e podem ser usados, descartados e esquecidos.

Uma vez, quando tomei parte de uma homenagem ao professor Richard Moneygrand, em New Caledonia, Estados Unidos, depois das formalidades fui à sua casa para fechar a noite. Moneygrand estava muito feliz. Havia bebido bem, mas não perdera a compostura, pois nele o mero álcool apenas acentuava o seu desprendido amor pelos outros, inclusive pelos seus mais ferozes inimigos: o grupo contrário ao estudo do Brasil como algo distinto da “américa-latina” na sua universidade.

Na ocasião desse último trago, ele comentou comigo que havia tido uma conversa extraordinária com uma mulher e como essa criatura lhe fora simpática, amável e até mesmo atraente, apesar da idade. “Tive com ela – disse-me com um ar que transpirava a felicidade da ocasião – um encontro notável. Ela sabia muito da minha obra, conhecia alguns detalhes das minhas viagens ao Brasil e, mais que tudo, tinha simpatia pelas minhas opiniões. Mas veja como são as coisas… eu não me lembro do seu nome – como a memória é imprevista.”

“Dick – repliquei -, aquele senhora simpática era Lana, sua terceira esposa, lembra?” Meu velho mentor arregalou os olhos, soltou uma das suas vastas gargalhadas e após dar um beijinho na sua quarta ou quinta mulher (agora eu é que não lembro), a Susan Smith, já substituída por outras, repetiu o seu velho refrão: “A cada nova pesquisa e livro – uma esposa nova ou uma nova esposa!”. Disse ele piscando um olho muito azul em direção à minha cara de pateta, sempre paralisado pela culpa.

*
Voltemos, porém, aos livros. Eles são esquecidos, mas podem ser sempre lembrados, pois mudam as nossas vidas.

Não me esqueço da minha primeira leitura de Dom Casmurro, realizada numa aldeia apinaié pelos idos dos anos 60. Peguei o livro certo de que ele ia me conduzir ao sono que dribla a solidão, mas ocorreu o justo oposto. Fui enredado pelo texto até o amanhecer porque um lado meu queria ver Capitu castigada; enquanto um outro recordava um beijo enviesado, exatamente igual ao de Bentinho, e isso me fazia duvidar da infâmia da heroína, obrigando-me a desconfiar de uma exposição feita por um sujeito tão ciumento quanto eu.

*
Os leitores de Isaiah Berlin sabem como ele criticou modelos e verdades absolutas desde que, ainda criança, passou pelo trauma de testemunhar, em fevereiro de 1917, um grupo arrastando um policial czarista numa rua de Petrogrado. Sua trajetória intelectual, contada num memorável ensaio autobiográfico na The New York Review of Books (de maio de 1998), é uma confissão de como os livros dos grandes pensadores iluministas, produtores de certezas sobre as famosas leis da história e da sociedade – parte de uma philosophia perennis -, foram substituídos pelo encontro com o A Ciência Nova, de Giambattista Vico, e com os ensaios sobre a linguagem e a história de Johann Gottfried von Herder. Vico tornou Berlin consciente dos valores que fazem com que as ações tenham sentido para quem as faz. Para ele, o verdadeiro conhecimento não é saber como as coisas são, mas como as coisas são o que são. Um lugar somente alcançado quando se penetra nos motivos, temores, esperanças e ambições dos outros. Podemos fazer isso porque, como eles, somos humanos e também movidos por contradições, dúvidas e limites. Nossos imprevistos ajudam a compreender imprevistos. Com Herder, Berlin percebeu que culturas diferentes davam respostas diferentes a problemas igualmente diferentes. Ele, assim, aprendeu a duvidar de verdades eternas e inquestionáveis, supostamente corretas para todos os homens em todo tempo e lugar.

Esses fundadores da antropologia cultural, fizeram com que Isaiah Berlin duvidasse das ideias que se apresentavam como verdades objetivas escritas no céu e prontas para serem copiadas. A leitura de Vico e Herder revelou como as verdades eram criadas pelos homens. Valores não são encontrados, mas fabricados. Quando um poeta faz uma poesia em português ele não apenas usa a língua: ele a reinventa. Um membro de uma sociedade é uma expressão e, ao mesmo tempo, um fazedor da sua sociedade. A singularidade conta tanto ou mais do que o geral e o universal.

Lamento não ter espaço para elaborar essas desassossegadas ideias. Mas elas mostram como os livros, como as pessoas, falam, ensinam, influenciam e dizem coisas de modo tão concreto quanto um amigo ou um inimigo.

*
Na casa de Miriam e Eduardo Raposo, onde fui celebrar os elos de simpatia que cimentam o departamento de Ciências Sociais da PUC-Rio, ouvi do filho do casal, o Ian, a seguinte história:

“Professor Roberto, olhe o que me aconteceu. Estava na praia e dela brotou um hippie que vendia artesanato. Ele havia abandonado sua casa e família para viver na rua. Curioso, perguntei o que o havia feito tomar esse caminho. A resposta lhe interessa, professor. Ele me disse o seguinte: eu decidi largar tudo depois de ter lido um dos livros do Roberto DaMatta”.

– Qual? Perguntei entre o aflito e o curioso.

– Não me lembro. Talvez A Casa e a Rua ou Carnavais. Malandros e Heróis…

– É, pode ser… Concluí assustado com o poder dos livros.

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Frase para a Semana

“É difícil libertar os tolos
 das armas que eles veneram.”
Voltaire
(Paris, 21 de novembro de 1694 — Paris, 30 de maio de 1778)
Foi um escritor, ensaísta, deísta e filósofo iluminista francês.

sábado, 21 de outubro de 2017

Uma Noite em 67

Dia 21 de outubro de 1967 foi um marco para a história da música brasileira. Nesta data, portanto há 50 anos, no Teatro Paramount, localizado no centro de São Paulo, foi encenada a etapa final do III Festival de Música Popular Brasileira da TV Record. Um público apaixonado defendia suas canções preferidas e com o mesmo ardor vaiava as demais.

No palco, músicos agora vistos como ícones essenciais para o desenvolvimento da MPB substituíam-se alternadamente e concorriam de forma acirrada. Quanto às músicas, muitas delas se transformariam em símbolos de uma época ou de movimentos políticos e culturais. Porém, até se tornarem famosas elas eram completamente originais.

Doze canções foram selecionadas para esta final. O genial Chico Buarque e o grupo MPB 4 chegaram com a composição Roda Viva; representando os tropicalistas estavam ali Caetano Veloso, com Alegria, Alegria e Gilberto Gil e os Mutantes, que traziam Domingo no Parque; Edu Lobo veio com Ponteio; Roberto Carlos trouxe o sambinha Maria, Carnaval e Cinzas; e Sérgio Ricardo, famoso por sua performance destrutiva, defendeu Beto Bom de Bola.

Esta disputa fantástica tornou-se célebre na história dos festivais e na trajetória da música popular e dos movimentos culturais brasileiros. Nesta noite o Tropicalismo atingiu o ápice, a MPB se partiu, Caetano e Gil se transformaram imediatamente em objetos de veneração nacional, várias tendências na música e na política se digladiaram e essa torrente de eventos simultâneos notabilizou definitivamente esse momento.

Esta finalíssima foi marcada não somente por inovações na arte e na cultura, mas igualmente por certas crises pessoais, ambientadas em uma época conturbada. Foi exatamente nesta noite que o compositor e intérprete Sérgio Ricardo definiu de vez seu futuro musical. E o fez com um gesto dramático, destruindo seu violão e lançando-o na direção do público após ser cruelmente vaiado por sua apresentação.

Renato Terra e Ricardo Calil imortalizam este evento no documentário Uma Noite em 67. Nesta obra os dois desvendam os aspectos que converteram esta última etapa do festival no auge da criação musical nacional na década de 60. Com este objetivo a produção recupera fotos históricas e coleta declarações originais dos protagonistas da grande noite: Chico, Caetano, Roberto, Gil, Edu e Sérgio Ricardo.

O publicitário Renato Terra e o jornalista e crítico de cinema Ricardo Calil estréiam como cineastas neste documentário. Eles se conheceram em 2005 durante uma atuação conjunta no site iBest. Fãs incondicionais da música brasileira, os dois logo captaram a sintonia que os unia e pouco depois já estavam trabalhando juntos na elaboração deste filme.

(º> Via: INFO Escola >>>

Documentário completo "Uma Noite em 67"

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Poesia a Qualquer Hora (297) - Petrarca

Soneto CLXXXIX

Vai o meu barco, cheio só de olvido,
À meia noite, ao árduo mar, no inverno,
Entre Cila e Caríbdis; e ao governo
Vê-se o senhor, melhor: meu inimigo.

A cada remo um pensar atrevido
Parece rir à vaga e ao próprio averno:
Rompe as velas um vento úmido, eterno
De esperanças, desejos e gemidos.

Chuva de pranto, névoa de rancor
Afrouxa e banha os cabos extenuados,
De ignorância trançados e de error.

Foge-me o doce lume costumeiro,
Razão e engenho da onda são tragados;
E eis que do porto já me desespero.

Francesco Petrarca
[ Saiba + ]
(Traduções de Renato Suttana)

quinta-feira, 19 de outubro de 2017

11 Músicas do Aerosmith

O Aerosmith é o rock em pura essência, criando e renovando seu próprio estilo e influenciando filmes, novas bandas, estética e tendência do rock’n’roll. Por 30 anos eles vêm vivendo o rock tão intensamente quanto compõe suas músicas. As baladas, riffs e inovações mais marcantes dessas três décadas foram em sua maioria feitas pelo quinteto americano. 

Aerosmith surgiu em 1969 da junção de duas outras bandas: Chain Reaction de Steven Tyler (cujo nome artístico na época era Steve Tallarico) e The Jam Band de Joe Perry. Assinaram seu primeiro contrato com a Columbia Records em 1972 e, logo em seguida, gravaram e mixaram seu primeiro disco em apenas duas semanas. Desde então, venderam mais de 100 milhões de discos em 23 álbuns e uma coleção de prêmios (Grammys, American Music Awards, Billboard Awards, MTV Awards). 

A parceria Perry-Tyler acabou em 1979 e, após uma fase conturbada, eles voltam a se reunir em 1984. Desde então, firmaram a cada lançamento sua posição de representantes definitivos do rock’n’roll. Afinal, eles são os responsáveis por inserir na música algumas das novas tendências, como em 1972 quando lançaram a lentinha “Dream On” e colocaram no mercado a primeira “power ballad” que alcançou o topo das paradas rapidamente e a fusão de rock e rap foi vista pela primeira vez com o lançamento de “Walk This Way” em 1986. 

Com o passar dos anos, Aerosmith continuou a colecionar sucessos e discos de platina. E honrando sua coleção de discos de hits, eles ainda conseguiram manter a formação original da banda com Steven Tyler nos vocais, Joe Perry na guitarra solo, Brad Whitford como guitarrista base, Tom Hamilton no baixo e Joey Kramer na bateria. Todos os mesmos músicos que compareceram às gravações do primeiro álbum, há mais de três décadas. Mês passado eles passaram por 4 capitais brasileiras, inclusive participando do Rock in Rio. 

(º> Fonte: Vagalume >>>

11) Pink

10) Dude (Looks Like A Lady)

9) Angel

8) Dream on

7) Rag Doll

6) Cryin


5) Crazy

4) Hole in my Soul

3) Janie´s Got a Gun

2) I Don't Want to Miss a Thing

1) Sweet Emotion
Minhas 11 músicas preferidas do Aerosmith, 
não necessariamente nesta ordem.

 Mais 6 canções para o banco de reservas:
⇒ Jaded
⇒ Blind man

"Este post teve a participação de meu primo
 Leandro Jr., grande fã da banda."


((( Veja e ouça também: )))

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Cena de Cinema # 292 - O Impossível

(O Impossível - 2012) +

Imagens da Vez: Telas de Adrien Moreau






Adrien Moreau (França, 1843 – 1906), artista de formação clássica,
 desde jovem começou a explorar os temas que iriam ocupá-lo pelo 
resto de sua vida: a pintura de gênero e histórica.

segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Frase para a Semana

"Problemas não são obstáculos,
mas oportunidades ímpares
superação e evolução."
Nelson Rodrigues
(Recife, 23 de agosto de 1912 — Rio de Janeiro, 21 de dezembro de 1980)
Foi um teatrólogo, jornalista, romancista e cronista de costumes e de
 futebol brasileiro, e tido como o mais influente dramaturgo do Brasil.