"Uma vaga noção de tudo, e um conhecimento de nada."
Charles Dickens (1812 - 1870) - Escritor Inglês

quinta-feira, 29 de novembro de 2018

Porto Solidão, por Emerson Silva

Porto Solidão
Emerson Silva

Era dentro da tigela de biscoitos de Tia Nina que eu experienciava um êxtase desmedido. O que os meus sete anos de idade diziam sobre mim, parecia estar submerso naquelas rosquinhas amanteigadas, entremeadas em queijo do Reino. Era tempo em pausa, riso em pauta, adições de natureza. Menino oriundo dos interiores do mundo vivia sob os meus mais pertinentes subterfúgios, ou seja, vida regada ao que realmente importava.

A ociosidade da vida de criança me permitia ver o cair da noite, ainda com os céus destilando as últimas doses de seu brilho matutino. Achava engraçado estas semelhanças: o anoitecer é semelhante ao amanhecer. Vai ver o Universo seja o mesmo, com apenas dois lados de diferença. Semelhante ao exercício litúrgico de Tia Nina, ao tecer nos anversos e avessos de nossas roupas, seus bordados mais profundos. Eram dois lados costurados do mesmo vestido. Cada lado com uma peculiaridade própria, todavia pertencentes ao mesmo cetim.

Na minha observação fiel ao rito da costura, era levado mais uma vez àquele aparente Universo estático, sobretudo à forma esplendorosa com que as manhãs e as noites, mesmo sempre cotidianas, sinalavam para mim. Era como um véu, que no céu parecia querer me esconder alguma coisa. Sabia que não era Deus, quem os lençóis de luzes barrocas desejavam velar-me. Havia uma luz maior dentro de mim que LHE invocava. Maior do que a luz das velas que acendíamos. Costume Luterano que às vezes me confundia. Católicos e Luteranos acendem velas, mas com intencionalidades diferentes.

Luz, visão, dia e noite, eram coisas muito finas para minha infância. Coisas que só quando me tornei adulto aprendi a interpretar. Luz, visão, dia e noite sempre se associava à minha infância com passos. Enquanto dormia, com os meus passos atados pela dura vida difícil de criança, que come biscoito e vive olhando para o céu, ouvia sempre os passos de alguém dentro de casa. Passavam para acender e apagar a luz, passos para o trabalho, passos de quando chegavam do trabalho. Aquele barulho foi responsável por tanta coisa dentro mim. Eu passeava com meu pai e minha mãe em cada momento daqueles sons. Até ouvir o mais perfeito! Quando depois dos exatos 12 passos, contados da porta da sala ao meu quarto, a barba do meu pai encostando-se à minha bochecha, demarcava-me como sua propriedade privada através de um beijo. Já era noite. Da mesma forma que os cachos do cabelo da minha mãe roçavam em meu nariz um rito sacramental que tinha por finalidade comunicar-me a graça: “Bom dia filho, tô indo trabalhar. Fica com Deus!”. Eram os mantras que me configuravam.

Depois de alguns anos, nenhum daqueles passos ouvia mais em casa. Todos passaram a não existir. Alguns não passaram de mim ainda. É o que sinto, quando no exercício da minha devocionalidade luterana acendo as velas para orar. São apenas os meus passos que escuto pela casa, e que novamente se responsabilizam por uma centena de coisas dentro de mim. Talvez sejam estes avessos que constituem uma parte do cristianismo, os teólogos não conseguem dizer tudo, né verdade? Algumas coisas ficam dentro da gente. Esperando talvez que acendamos a vela, olhemos para o céu, costuremos, ou recebamos um beijo para que só assim emane a palavra que nos console. Em Emaús, Jesus é conhecido em um instante muito próximo de sua ausência, todavia: “Não ardia em nossos corações quando ele falou conosco aquele dia”?

Sou um porto filho das saudades. Cais que traduz as centelhas de tempo que imprime em mim o que lhe é próprio: o percurso das ausências. Em uma vontade imensa de conciliar minhas impressionantes histórias de despedidas e promessas de retorno, a um mar que pouco fala sobre mim, fazendo apenas fronteira com quase tudo que desejo. Transeunte em minha carne, navego desde transatlânticos a veleiros de papel. Permito ser tocado em um território exclusivo que só Deus tem acesso. Os passos de quem chega e sai da Igreja. De quem sai prometendo voltar, mas esquece o caminho, retalha em minha carne todas as contradições necessárias para o meu aprimoramento. É o alinhavo que preciso para me aproximar de Deus, até nas horas que penso que Ele está contra mim. Devaneio meu. Se Deus me deu lamentos, não lamento! Deus é maior que meus lamentos. Deus é maior do que eu.

terça-feira, 27 de novembro de 2018

Caricaturas de Esportistas Brasileiras

Marta (1986)


Ana Moser (1968)

Daiane dos Santos (1983)

Fabiana Murer (1981)

Formiga (1978)

Hortência (1959)

Jaqueline (1983)

Maurren Maggi (1976)

Paula (1962)

Maria Esther Bueno (1939 - 2018)

Maria Lenk (1915 - 2007)

sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Poesia a Qualquer Hora (316) - Rabindranath Tagore

Última Primavera

Antes que o dia termine,
consente-me este desejo:
vamos colher
flores da primavera
pela última vez.
Das muitas primaveras
que ainda visitarão
tua morada,
concede-me uma,
– implorei.

Todo este tempo,
não prestei atenção
às horas,
perdidas e gastas à toa.

Num lampejo
de um crepúsculo,
li nos teus olhos agora
que meu tempo está próximo
e devo partir.

Assim, ávido, ansioso,
conto um por um
– como o avarento o seu ouro –
os últimos, poucos dias de primavera
que ainda me restam.

Não tenhas medo
Não me demorarei muito
no teu jardim florido,
quando tiver de partir,
no fim do dia.

Não procurarei lágrimas
nos teus olhos
para banhar minhas lembranças
no orvalho da piedade.

Ah, escuta-me,
não te vás.
O sol ainda não se esconde.
Podemos permitir que o tempo
se prolongue.
Não tenhas medo.

Deixa que o sol da tarde
olhe por entre a folhagem
e se detenha um momento
brilhando no negro rio
do teu cabelo.

Faze o tímido esquilo,
perto do lago,
fugir de repente
ao estrépito de teu riso
que irrompe
com descuidosa alegria.

Não procurarei
retardar teus rápidos passos,
sussurrando esquecidas lembranças
aos teus ouvidos.

Segue teu caminho depois,
se teu dever é seguir, se tens de seguir
calcando folhas caídas
com teu andar apressado,
enquanto as aves que voltam
povoam o fim do dia
com o clamor dê seus gritos.

Na escuridão crescente,
tua distante figura
irá fugindo e apagando-se
como as últimas frágeis notas
do cântico da tarde.

Na noite escura,
senta-te à tua janela,
que eu passarei pela estrada,
seguindo o meu trajeto,
deixando tudo para trás.

Se te aprouver,
atira-me
as flores que te dei
pela manhã,
murchas agora ao fim do dia.

Isso vai ser
o último e supremo presente:
tua homenagem
de despedida.

Rabindranath Tagore
[ Saiba + ]

(Tradução de Cecília Meireles)

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Frase da Vez

"O conhecimento serve
 para encantar pessoas,
 não para humilhá-las".
Mario S. Cortella
(Londrina, 5 de março de 1954) 
É um filósofo, escritor, educador,
palestrante e professor universitário.

domingo, 18 de novembro de 2018

5 Curiosidades sobre o ícone Mickey Mouse que completa 90 anos neste domingo

Mickey Mouse em cena de ""Steamboat Willie" (1928)
90 anos de
Mickey Mouse

Por Rodolfo Vicentini


Um dos personagens mais amados da cultura pop comemora 90 anos em 2018. Mickey Mouse foi uma criação do poderoso Walt Disney em 1928, e fez sua estreia oficial em 18 de novembro no curta "Steamboat Willie". Amado e conhecido mundialmente, o personagem não colheu apenas frutos durante sua "carreira" --foi por pouco que ele não ganhou vida, não fosse pela insistência de seu criador.

Após tantas aventuras em quase um século de vida, conheça 5 curiosidades do Mickey.

Mickey era na verdade... Mortimer?
O personagem principal de Walt Disney na década de 1920 era Oswald, o coelho sortudo. O criador pensava que a animação fofinha seria um sucesso, mas recebeu um "não" dos investidores quando tentou arranjar grana para uma produção. Como os direitos autorais pertenciam a eles, Walt não pôde fazer nada. Mas ele era persistente. Tanto que já na viagem de volta planejou um camundongo alegre com orelhas redondas. Agora sim, Mortimer estava pronto. Calma, e o Mickey? Então, o primeiro nome do icônico personagem era muito diferente do que estamos acostumados hoje, e foi graças a mulher de Disney, Lillian, que o desenho ganhou o nome de Mickey. 

O sucesso não veio de imediato
Com Mickey finalizado agora só faltava uma animação para ele. Walt Disney embarcou imediatamente no primeiro desenho animado do seu novo produto, "Mickey Mouse: Plane Crazy". O entusiasmo desapareceu quando nenhum distribuidor se interessou pelo filme. O norte-americano arriscou mais um desenho animado mudo, intitulado "Mickey, The Gallopin' Gaucho". Porém, a Warner Bros. já estava focada nos filmes falados, e não deu bola para o projeto. Finalmente, a estreia do personagem aconteceu no curta "Steamboat Willie", que chegou quase há 90 anos no cinema Colony Theatre, de Nova York, tornando-se o primeiro desenho animado com som sincronizado da história.

As primeiras palavras
Walt Disney era esperto e não iria esperar muito para entrar na então novidade da sétima arte (os filmes falados). No ano seguinte ao lançamento de Mickey, o seu criador apostou no curta "The Karnival Kid", que marcou as primeiras palavras do personagem: "Hot dog! Hot dog!". A partir daí, na maioria dos curtas estrelados por ele durante a Segunda Guerra Mundial, era o próprio Walt Disney que dava voz ao protagonista.

Primeiro personagem de desenho animado "mundial" 
O sucesso de Mickey foi arrebatador, sendo um marco para a indústria pop como o primeiro desenho que se espalhou pelo mundo. Um livro sobre o Mickey saiu em 1930, enquanto o primeiro relógio oficial do personagem ganhou as lojas em 1933. O símbolo da Walt Disney Company ainda ganhou alguns nomes distintos em certos países do mundo: em italiano, é chamado de Topolino; em alemão, é o Micky Maus; em espanhol, Raton Mickey; em sueco, Musse Pigg; e em mandarim, Mi Lao Shu.

Na televisão e no Oscar
Mickey chegou aos televisores norte-americanos em 1950, no especial natalino "One Hour in Wonderland". Junto com a novidade, ainda foi exibido na grade televisiva a animação clássica "Relojoeiros das Alturas", lançada em 1937. O sucesso no cinema, na televisão e em praticamente todas as áreas em que atuava levou Mickey ao maior prêmio do cinema: o Oscar. Walt Disney levou um prêmio pelo criação do personagem em 1932, mas o próprio Mickey só foi estrear no evento em 1998, quando entregou um envelope para o ator Tom Selleck. Cinco anos depois, o camundongo voltou para a cerimônia em Hollywood como uma animação ao lado da atriz Jennifer Garner.

Walt Disney com sua criação, o Mickey Mouse

sábado, 17 de novembro de 2018

Trilha Sonora (314) - Greta van Fleet

Highway Tune
Greta van Fleet
Compositores: Jacob Kiszka, Joshua Kiszka, 
Samuel Kiszka e Daniel R. Wagner

Oh mama
No stopping at the green light girl
Because I want to get your signal
No going at the green light girl
Because I want to be with you now

You are my special
You are my special
You are my midnight, midnight yeah

So sweet
So fine
So nice
Oh my
My my
My my
Oh

No stopping on the highway girl
Because I want to burn my gas
There's one girl that I know
I'm never gonna pass

She is my special
She is my special
She is my midnight, midnight yeah

So sweet
So fine
So nice
Oh my
My my
My my

Oh
Oh yeah
So sweet
So fine
So nice
Oh my
My my
My my

Oh, sugar

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

Brasil: Terra à Vista! - A Aventura Ilustrada do Descobrimento

Brasil: Terra à Vista
A Aventura Ilustrada 

do Descobrimento

Autor: Eduardo Bueno

Editora: L&PM – 130 páginas


"Velhos marinheiros assombrados pelo desafio da aventura. O Mar Tenebroso engolindo barcos. Homens duros enfrentando o desconhecido. O medo das serpentes gigantescas, do abismo da borda do mundo. De repente, precedido por aves e sargaços, surge verdejante na linha do horizonte o indício concreto de um Novo Mundo. Terra à Vista!!! Palavras mágicas que imobilizaram aqueles homens já alquebrados pela longa travessia. Palavras mágicas que ecoam pela grande frota como um bálsamo para as terríveis privações. Não mais o medo dos monstros, das ondas enormes, do escorbuto, da fome e da sede. Ao longe está a graça alcançada, o paraíso revelado. Na praia, os tupiniquins, ancestrais moradores desta terra cálida, verde e venturosa, observam espantados o espetáculo inédito. Grandes velas brancas aproximavam-se da praia como “montanhas que flutuavam”. Eduardo Bueno traz para seus milhares de leitores a emoção da aventura vivida por homens de carne e osso. A história do descobrimento do Brasil com imagens e um texto que dá vida ao maior acontecimento da nossa história".   
[texto da contracapa do livro]

*
Eduardo Bueno traz uma narrativa emocionante sobre o descobrimento do Brasil. Começa trazendo dois pontos de vista: da "visão da proa" (os portugueses que chegavam) e "a visão da praia" (o ponto de vista dos habitantes de Pindorama "a terra das palmeiras").

Dia 22 de Abril de 1500, celebrado como o primeiro dia do novo Mundo e o último dia de Pindorama; O autor convida o leitor para uma prosa instigante e informativa neste livro “Brasil: Terra à Vista”. A obra traz mapas, infográficos, desenhos e referências históricas, fazendo uma formidável reconstituição na época do descobrimento. Uma leitura envolvente que ajuda a entender momentos cruciais das grandes navegações da época e faz entender a razão da supremacia portuguesa nos séculos XV e XVI.


Pra quem gosta de história do Brasil, neste você encontra o começo de tudo. 
Um deleite. Recomendo!

Trechos:
- pp. 7 e 8

- pp. 9 e 10