"Uma vaga noção de tudo, e um conhecimento de nada."
Charles Dickens (1812 - 1870) - Escritor Inglês

sábado, 23 de maio de 2020

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Trilha Sonora (332) - Milton Nascimento

Travessia
Milton Nascimento
Compositores: Milton Nascimento e Fernando Brant


Quando você foi embora fez-se noite em meu viver
Forte eu sou, mas não tem jeito
Hoje eu tenho que chorar
Minha casa não é minha e nem é meu este lugar
Estou só e não resisto, muito tenho pra falar

Solto a voz nas estradas, já não quero parar
Meu caminho é de pedra, como posso sonhar
Sonho feito de brisa, vento vem terminar
Vou fechar o meu pranto, vou querer me matar

Vou seguindo pela vida me esquecendo de você
Eu não quero mais a morte, tenho muito o que viver
Vou querer amar de novo e se não der não vou sofrer
Já não sonho, hoje faço com meu braço o meu viver

Solto a voz nas estradas, já não quero parar
Meu caminho é de pedra, como posso sonhar
Sonho feito de brisa, vento vem terminar
Vou fechar o meu pranto, vou querer me matar

Vou seguindo pela vida me esquecendo de você
Eu não quero mais a morte, tenho muito o que viver
Vou querer amar de novo e se não der não vou sofrer
Já não sonho, hoje faço com meu braço o meu viver

sexta-feira, 15 de maio de 2020

Poesia a Qualquer Hora (330) - Charles Baudelaire

Sempre a mesma 

"De onde vens, disseste, essa tristeza estranha,
subindo como o mar a rocha negra e nua?"
– Quando nosso coração fez uma vez sua colheita,
Viver é um mal! É um segredo que todos conhecem,

Uma dor muito simples e não misteriosa
E, como sua alegria, brilha para todos.
Pare de procurar, ó bela curiosa!
E, embora tua voz seja suave, cala-te!

Cala-te, ignorante! Alma sempre feliz!
Boca de riso infantil! Mais que a Vida,
A Morte nos prende por laços sutis.

Deixa, deixa meu coração se embebedar com uma mentira,
Mergulhar em seus belos olhos como em um lindo sonho,
E dormir longamente à sombra de teus cílios!

Charles Baudeleire

quinta-feira, 7 de maio de 2020

Torto Arado de Itamar Vieira Júnior

Torto Arado 

Itamar Vieira Jr. 

264 páginas - 2018 


Editora: Todavia 


“Uma viagem intimista ao mundo rural brasileiro” – Silvia Souto Cunha, Visão 

“Um dos grandes romances do ano, que recupera um tema esquecido e grandioso.” – João Céu e Silva, Diário de Notícias 

“- Belo, poderoso e comovente, apresenta-nos a grande literatura com uma simplicidade que atormenta.” – Ana Bárbara Pedrosa, Revista Pessoa 
[contracapa do livro] 

Faz tempo que não lia um romance regional tão bom e realista. Torto Arado de Itamar Vieira Jr, já nasceu clássico. Este belo enredo se passa no interior da Bahia. É a história das irmãs Bibiana e Belonísia. As duas são filhas de Zeca Chapéu Grande e Salu. Zeca Chapéu Grande era curandeiro de corpo e alma dos doentes da região, e às vezes se fazia de líder político e apaziguava conflitos entre os trabalhadores rurais de fazendas da região. Fazendas estas que os trabalhadores (escravos) não tinham direito a nada, não recebiam salário, apenas moradia (só podiam construir casebres de barro e junco, não podiam fazer de alvenaria), e cultivavam roças em seus quintais quando não estavam trabalhando nas colheitas de arroz e cana de açúcar dos seus patrões. Só ganhavam algum dinheiro quando vendiam os cultivos de seus quintais na feira da cidade. 

“Um romance que retrata – com extrema habilidade narrativa – um Brasil dolorosamente encalhado no próprio passado escravista. Um texto épico e lírico, realista e mágico.” 

O livro é dividido em 3 capítulos: Fio de Corte, Torto Arado e Rio de Sangue. O primeiro é narrado por Bibiana, o segundo por Belonísia e o terceiro por uma entidade do jarê, religião afro-brasileira praticada na região de Água Negra, influenciada pela umbanda, pelo espiritismo e pelo catolicismo. 

O livro começa com a narração de Bibiana sobre um acidente na infância das duas irmãs, e que por causa deste acidente para sempre suas vidas estarão ligadas, sendo que uma precisa ser a voz da outra. Este é o mote para o enredo do livro, onde o leitor também encontrará uma representação de um povo sofrido em seus laços familiares e sociais, os traumas e a memória deste povo, que em nenhum momento foi liberto da escravidão. 

A obra é uma viagem ao sertão nordestino, onde descendentes de escravos ainda vivem em situações análogas à Escravidão, que foi abolida há mais de 120 anos. O autor tem uma prosa portentosa, rigorosa e melodiosa, não se perdendo em nenhum momento. 

Excelente livro. Recomendo esta obra prima! 

O livro foi vencedor do Prêmio LeYa 2018 

Trechos: 
“- Quando Donana levantou a cortina que separava o cômodo em que dormia da cozinha, eu já havia retirada a faca do chão e embrulhado de qualquer jeito no tecido empapado , mas não consegui empurrar de volta a mala de couro para debaixo da cama. Vi o olhar assombrado da minha avó, que desabou sua mão grossa na minha cabeça e na de Belonísia. Ouvi Donana perguntar o que estávamos fazendo ali , porque sua mala estava fora do lugar e que sangue era aquele. ‘Falem’, disse nos ameaçando arrancar a língua, que estava, mal ela sabia, em uma de nossas mãos.” – pág. 16 

“-. Foi um tempo difícil. Meu pai se referia àquele período como a pior seca desde 1932. Aquele também foi o último ano que vi uma plantação extensa de arroz naquelas terras. O arroz, dependente de água, foi o primeiro a secar com a estiagem. Depois secaram a cana, as vagens de feijão, os umbuzeiros, os pés de tomates, quiabo e abóbora. Havia uma reserva de grãos guardada em casa e no galpão da fazenda. Com a seca, veio o medo de que nos mandassem embora por falta de trabalho. Depois veio o medo mais imediato da fome. Os grãos passaram a rarear, o feijão acabou antes do arroz, e do arroz restava muito pouco. Havia um razoável suprimento de farinha de mandioca que algumas famílias fabricavam e trocavam por outros alimentos.” - págs.: 67 e 68 

“- Pensava que seria melhor se tivesse morrido no dia em que saí de casa. Que poderia ter despencado do cavalo e me estrebuchado no chão sem forças, porque aquela altura minha lamentação não servia de nada. Sabia que, mesmo depois de muitos anos, carregaria aquela vergonha por ter sido ingênua, por ter me deixado encantar por suas cortesias, lábia que não era diferente da de muitos homens que levavam mulheres da casa de seus pais para lhes servirem de escravas. Para depois infernizarem seus dias, baterem até tirar sangue ou a vida, deixando rastro de ódio em seus corpos. Para reclamarem da comida, da limpeza, dos filhos mal criados, do tempo, da casa de paredes que se desfaziam. Para nos apresentarem ao inferno que pode ser a vida de uma mulher”. - págs: 135 e 136 

“- O diamante se tornou um enorme feitiço, maldito, porque tudo que é bonito carrega em si a maldição. Vi homens fazerem tratos de sangue, cortando sua carne com os punhais afiados, marcando suas mãos, suas frontes, suas casas, seus objetos de trabalho, suas peneiras de cascalhos e bateias. Vi homens enlouquecerem sem dormir, varando noite e dia no rio Serrano, nas serras, nos garimpos, entocados na escuridão para ver o brilho mudar de lugar. O diamante tem feitiço e no breu podemos ver seu reflexo, de fazer cegar uma coruja, quando anda de um lugar para outro, como um espírito saindo de uma serra, cruzando o céu e descendo num monte ou num rio, na forma de uma luz que chamava a atenção mesmo distante. Os homens enlouqueciam assim, esperando o amanhecer e abrindo fendas no chão onde achavam ter visto a luz entrar, para não encontrar nada. Enlouqueciam sem comer ou tomar banho. Morriam dentro dos buracos ou de tentar apanhar as pedras das mãos dos que haviam encontrado. Morriam de fome porque toda energia de seus corpos ementes era para apanhar o diamante.” – págs.: 203 e 204 

O Autor: 
Itamar Vieira Júnior nasceu em Salvador (BA), em 1979. É geografo e doutor em estudos étnicos e africanos pela UFBA. Publicou os livros de contos “Dias” e “A Oração do Carrasco” (finalista do Prêmio Jabuti),além de outros textos ficcionais em diversas publicações nacionais e estrangeiras.

Fica a dica!

segunda-feira, 4 de maio de 2020