"Uma vaga noção de tudo, e um conhecimento de nada."
Charles Dickens (1812 - 1870) - Escritor Inglês
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quarta-feira, 5 de abril de 2023

Olhai os Lírios do Campo, de Érico Veríssimo


Deixando aqui uma dica de leitura. Olhai os lírios do campo de Érico Veríssimo... 

Excelente livro... Não sei porquê, ainda não  tinha lido nenhuma obra deste grande e importante escritor brasileiro. Agora quero mais... 

Algumas frases:

_" A vida começa todos os dias." p. 151

_ " O ateísmo é absolutamente inútil e estéril; não constrói nada, não explica nada, não leva a coisa nenhuma. " p. 153

_ " A gentileza podia melhorar o mundo. Se os homens cultivassem a gentileza seria possível atenuar um pouco tudo quanto a vida tem de áspero e brutal." p. 212

_ " É muito mais fácil arrastar um povo acenando-lhe com uma bandeira de ódio do que uma bandeira de amor. Há mais ímpeto, mais... mais força no ódio. O ódio é masculino, o amor é feminino. É mais fácil levar homens à guerra do que à oração." p. 284

sábado, 4 de fevereiro de 2023

Simplesmente o Acaso, de Heverson Souza e Costa


Finalmente terminei a leitura de "Simplesmente o Acaso" de @Heverson Souza e Costa. Este, um livro mais denso e complexo que seu anterior, "Antes que o Sol se Ponha". O autor nos traz a história da Família "Z". Eram 7 irmãos, todos com os nomes começados com a letra Z: Zuma, Zoroastro, Zana, Zyon, Zica, Zarina e Zelda, daí o porquê eram chamados de Família Z. Eles moravam em um antigo edifício de 7 andares pertencente a família e que era amaldiçoado, e também habitado por entidades e espectros. A família Z era descendente de uma antiga raça de sacerdotes e magos do antigo Egito, e esta ancestralidade egípcia, mítica e mística, - pois eram devotos dos antigos deuses daquele país-, proporcionaram a todos eles poderes sobrenaturais. Cada um servia a um Deus. Esta família era responsável por gerir as forças harmônicas do mundo. Mas uma das irmãs, Zelda, a líder do clã da família e gestora dos negócios da família depois da morte do pai, sendo ela a personificação do mal e, em sua sede de poder e servindo a Seth, o Deus do caos e da destruição, se une à forças sinistras e do mal, para gerarem o caos e o sofrimento humano e aniquilar o mundo. E com isso, Zelda, com seus poderes e seu egoísmo interfere na vida de seus irmãos, e principalmente na vida de Zuma, aliás começando por ela, que é uma das principais personagens da trama, impedindo assim, que sigam vivendo normalmente, interferindo também em pessoas próximos a ela para que não seguissem o próprio destino e trajeto natural, incluindo o casal Nathália e Giovanni, que por acaso foram morar de aluguel no edifício da família e foram usados e manipulados por Zelda como artífices em um ritual para que o mal vencesse e Seth, assumisse o comando. Mas seus irmãos se unem para impedir que o caos do Universo aconteça e Zoroastro, parte em uma missão ao Egito para pegar um artefato histórico que estava no sarcófago de um antigo faraó, a cruz Ankh, que simboliza a vida e interliga os dois universos, o real e o espiritual, e que, com este objeto em posse, em um dia, com a confluência dos astros, o alinhamento da Terra, do Sol e da Lua, e quando as fronteiras entre estes universos foram abertas, eles se prepararam para a grande batalha final e com isso, Zelda respondeu por seus crimes em um Tribunal dos Deuses, sendo julgada e punida rigorosa e violentamente, encerrando assim, eternamente a sua maldade e salvando a humanidade do sofrimento e extermínio...

Algumas histórias partem quase sempre para finais felizes, quando forças do mal não interferem no destino. Mas para os outros 6 irmãos da família Z, ainda bem que eles possuíam poderes para poder consertar o destino, e mudar o rumo das coisas novamente...

E não é só isso, há ainda várias histórias de Deuses e Deusas do panteão egípcio, e também a história de Zuma e Omar, de Zyon e Fernando, de Zana e Andrea e vários outros relatos emocionantes. São personagens bem construídos e inesquecíveis que o autor nos presenteia nesta fascinante obra.

E nesta trama idílica e onírica, cheia de aventuras, dramas, mistérios, crimes e tragédias, misturando o real e o imaginário, o autor escreve sobre a imprevisibilidade do amor e da vida, sobre o destino e a casualidade, enveredando pelos caminhos da temida morte... e, entre personagens reais e fascinantes, seres mitológicos e mágicos, entre mistérios naturais e sobrenaturais, entre símbolos, mitos e lendas egípcias, entre segredos e maldições, entre tumbas e caminhos, a história da família Z se desenvolve e emociona...

É a eterna luta do bem contra o mal e do amor contra o ódio.

Foi um prazeroso caminho, quando percorri as mais de 500 páginas deste encantador, mágico e fascinante livro. Muito bom mesmo.

Fica a dica!

E que venham outros livros!

Trecho:
"Vítimas da rejeição crescem com buracos na alma e corações frágeis que buscam diminuir a dor do abandono que carregam ao longo dos dias. " p.29

Simplesmente o Acaso
Heverson Souza e Costa
Editora Litteris - 2022 -
512 páginas





quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

Antes que o Sol se Ponha de Heverson Souza e Costa


Antes que o Sol
se Ponha

Autor: Heverson Souza e Costa

Litteris Editora - 2021- 288 p.


Como saber exatamente quais os passos que você dará no minuto seguinte da sua vida? Como ter a exata certeza dos encontros e desencontros que lhe estão reservados? Muitas perguntas e nenhuma resposta! A vida habita a velha caixa de surpresas onde estão guardadas alegrias e tristezas, sonhos e realidades, que se fundem e nos confundem com o passar dos anos, teimando em nos arrastar por caminhos quase indecifráveis. Este romance é a vida cheia de impactos, instantes capazes de nos levar, mundo afora, em busca de respostas e até de novos encontros. Decifrar cada capítulo desta obra nos emocionará de forma visceral, seja pela trajetória de seus personagens, seja pelos seus inusitados momentos de perdas e ganhos, experiências que só o destino é capaz de promover . Mesmo com tantas surpresas, o autor nos ensina que viver é melhor que sonhar ― e este livro mostra que o persistente ato de viver vai além dos nossos próprios limites. [Texto da contra capa do livro]

Terminei de ler o livro do tupaciguarense Heverson Souza e Costa, "Antes que o Sol se Ponha". Gostei muito da obra. O texto flui, prende e envolve o leitor em seu enredo, sobre a personagem Ella, que depois de perder seu querido e amado filho em um ato terrorista, recebe uma mensagem enigmática, pedindo e desafiando a enfrentar seu drama e sua dor para dar uma nova chance em sua vida. Um recomeço, pra que volte a sorrir novamente, e lhe propõe viagens a alguns países, para que em cada lugar visitado por Ella, que ela encontre vestígios de seu filho que também passara ou tem alguma relação por estes lugares. Lugares históricos e exuberantes que são minuciosa e detalhadamente descritos pelo autor.
E então a protagonista parte em busca de respostas sobre a vida e seu destino, sobre o existir e seu ato de viver, depois da terrível dor que sofrera com a morte do filho.

Uma belíssima e sensível história de amor, de perdas e ganhos, de encontros e desencontros, de redenção, de perdão e de recomeço. Assim é a história de Ella, e de todas as mulheres que dão uma nova chance pra suas vidas.

Pra que sonhar se você pode viver. E antes que o sol se ponha, ame, ame infinita e verdadeiramente. Pois só o amor vence a tudo e todas as coisas...

Fica a dica. Pois pra mim foi uma rica, emocionante e proveitosa leitura!

Alguns trechos:
"Para os amantes da leitura, o impulso de comprar livros é um vício saboroso." - p. 96

"... a vida não é medida pelos anos vividos, mas pela intensidade do que se viveu. Nem a morte é capaz de apagar as páginas que já foram escritas nas nossas vidas, cabendo a cada um de nós buscarmos o melhor enredo para aquelas que ainda estão em branco." - p. 108

"Na vida nada é definitivo e estático." - p. 259

segunda-feira, 12 de julho de 2021

Livros do tupaciguarense Leonardo de Oliveira


Terminei de ler e adorei os dois livros do tupaciguarense 
Leonardo de Oliveira. São dois livros de contos, causos e histórias 
deliciosas, singelas e engraçadas 
do cotidiano real e imaginário do interior brasileiro.
 São histórias pitorescas, daquelas saídas de conversas em volta 
da fogueira, de um fogão a lenha ou depois da volta de uma pescaria.

 Uma viagem ao passado na memória de muitos leitores. 

Nostálgico. 

Leonardo tem um estilo próprio e, 
é um ótimo contador de histórias.

Recomendo.
 Foi uma prazerosa leitura.

Que venham outros...

sábado, 20 de março de 2021

Dica de Leitura: Marrom e Amarelo de Paulo Scott



Marrom e Amarelo

Paulo Scott

2019 - 160 páginas

Editora Alfaguara




Um romance impactante, sem paralelos na literatura contemporânea, sobre dois irmãos marcados pela discriminação racial no Brasil.




Os irmãos Federico e Lourenço são muito diferentes. Federico, um ano mais velho, é grande, calado e carrega uma raiva latente. Lourenço é bonito, joga basquete e é "muito gente boa". Federico é claro, "de cabelo lambido". Lourenço é preto. Filhos de pai preto, célebre diretor-geral do instituto de perícia do Rio Grande do Sul, eles crescem sob a pressão da discriminação racial. Lourenço tenta enfrentá-la com naturalidade, e Federico se torna um incansável ativista das questões raciais.

Federico, o narrador desta história, foi moldado na violência dos subúrbios de Porto Alegre. Carrega uma dor que vem da incompletude nas relações amorosas e, sobretudo, dos enfrentamentos raciais em que não conseguiu se posicionar como achava que deveria.

Agora, com 49 anos, é chamado para uma comissão em Brasília, instituída pelo novo governo, para discutir o preenchimento das cotas raciais nas universidades. Em meio a debates tensos e burocracias absurdas, ele se recorda de eventos traumáticos da infância e da juventude. E as lembranças, agora, voltam para acossá-lo.

Marrom e amarelo é um livro que retrata diferentes aspectos de um Brasil distópico, conflagrado, da inércia do comando político à crônica tensão racial de toda a sociedade. É um romance preciso, que nos faz mergulhar nos abismos expostos do país.

(º> Saiba +: Página Cinco >>>

Excelente livro.  Gostei muito. A prosa de Scott é sutil, direta e
 objetiva, sem firulas. Um livro impactante e necessário, que já nasceu clássico. 
Te agarra desde a primeira página para não parar de ler até o fim...

 Fica a Dica!

sábado, 31 de outubro de 2020

Assim naTerra como Embaixo da Terra, de Ana Paula Maia


Assim na Terra 
como Embaixo 
da Terra


Ana Paula Maia


144 Páginas – 2017

Editora Record



Assim na Terra como Embaixo da Terra, em uma linguagem direta e intensa, Ana Paula Maia nos traz a história de uma colônia penal isolada, onde o agente superior Melquíades é o algoz dos condenados, onde ele os caça e os mata por simples satisfação pessoal. A colônia que era pra ser modelo de detenção da qual nenhum preso conseguiria fugir, está prestes a ser desativada, mas antes disso, este lugar que fora construído em um terreno que guarda tenebrosas histórias de assassinatos e torturas de escravos, se tornará um campo de extermínio por obra de seu agente Melquíades e comparsas, como Taborda, que cumpre ordens de Melquíades sem resignação e sem sentimentos humanos. Os presos que são poucos agora, entre eles, Pablo, Índio e Bronco Gil, estão sempre planejando a fuga deste inferno, mesmo sabendo que poderão ser caçados e mortos como animais selvagens. 

Só pelo título, o livro já desperta curiosidades. O texto flui dinamicamente prendendo a atenção desde o início com uma narrativa reflexiva e pujante, em um cenário cruel e violento. Faz referência sobre um importante assunto, a questão atual dos presídios brasileiros, com lotações acima do permitido e de maioria negra. 

“... Esta obra de Ana Paula Maia será lembrada como um instante de alta voltagem literária que desloca seu leitor de algum lugar confortável.” – Marcia Tiburi [Orelha do Livro]

Assim na terra como embaixo da terra é o sexto romance de Ana Paula Maia – vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura de 2018. 

Excelente livro!

Trechos:
- "Taborda separa o couro do osso e deixa pele pendurada num galho de árvore, limpa a cabeça do javali, removendo todo o conteúdo. Ele é hábil nessa atividade, e o cheiro fétido ao seu redor faz com que apenas as moscas se aproximem dos resíduos ensanguentados. Com uma faquinha, ele raspa o excesso de carne colada ao osso. Seca o suor da testa com as costas da mão. Dá-se por satisfeito ao ver um monte de carne desfiada ao lado de sua perna. Levanta-se apanha o esqueleto e uma pá e segue até o formigueiro, localizado nos fundos do pavilhão central. Com agilidade, ele cava a terra de onde centenas de formigas saem e ali coloca o crânio do javali. Joga a terra por cima e afasta-se apressadamente, debatendo-se e pisando com força no chão. Dali a dois meses, as formigas terão feito a limpeza geral no crânio, devorando dia e noite as carnes que não foram removidas manualmente. Apanha o couro que havia pendurado no galho de uma árvore e o leva para ser curtido no sal grosso dentro de um quartinho abandonado que servia outrora de depósito de feno." - páginas 23 e 24

- "Logo depois de amanhecer, o dia refletia uma brancura intransponível que fazia os limites entre céu e terra desaparecerem. As montanhas que contornam a região amanheceram cobertas pela geada. Horas depois, o sol apareceu, vigoroso. Os homens que ainda restam na Colônia dividem-se no trabalho do roçado e da cozinha desde muito cedo. O galinheiro e a pocilga já foram devidamente cuidados. Pablo puxa uma carroça cheia de sacos de lixo. Sente-se um jumento, uma besta de carga. Desde que os cavalos foram mortos, são eles que puxam as carroças. Atravessa uma parte da fazenda cujo solo é mais arenoso, provocando, assim, o afundamento das rodas. Isso dificulta seu labor de besta e, vez ou outra, precisa parar para se recompor. O lixão atrai abutres para o local, e o fato de incinerarem a imundície não os espanta. Pelo contrário, como um sinaleiro, a fumaça parece atraí-los ainda de mais longe. Observa o voejar das aves negras, cortando o céu com suas asas arqueadas, grasnando uma para a outra, numa comunicação que ecoa a quilômetros de distância. Não é raro uma ave ou outra prender-se na cerca eletrificada e morrer depois de se debater inutilmente. Em algumas partes da cerca é possível ver restos dos esqueletos das aves que foram capturadas. Às vezes, Taborda utiliza uma longa vara de madeira para removê-los." - páginas 65 e 66

- “Nos primeiros anos, comboios com presos chegavam semanalmente, eram divididos em funções e disciplinados com rigor quando cometiam uma infração. Diversas fugas foram planejadas, mas nenhuma realmente fora posta em prática. Os presos que ameaçavam a boa convivência no local eram mortos longe dos outros e enterrados em covas coletivas. Alguns anos depois de inaugurada, a Colônia tornou-se um lugar de extermínio. As ordens vinham por escrito, enviadas por telegramas ou telefonemas lacônicos. Os comboios com apenados para serem mortos chegavam com regularidade. Homens de todas as partes, culpados de crimes hediondos, julgados e condenados. Melquíades abatia os homens como quem abate o gado. Eram ordens que deveriam ser cumpridas e não questionadas.” – página 70

-“'Quem derramar o sangue do homem, pelo homem o seu sangue será derramado; porque Deus fez o homem conforme a sua imagem.' Esse versículo da Bíblia permanecia pregado na porta do seu armário no quartel. Todos sabiam que era um homem de fé e de sangue. Acreditava que se Deus fez o homem conforme a sua imagem, então a justiça de Deus deveria ser feita por intermédio do homem, já que todo ser humano é a manifestação de Deus na Terra. Quando um homem mata um homem, ele mata a imagem de Deus; e, assim, a imagem de Deus torna-se assassina e assassinada ao mesmo tempo.
Era comum cair em longos silêncios depois de matar. Por um lado, justiça havia sido feita; por outro, um pouco de Deus estava morto.” – página 81

-“ O confinamento de homens assemelha-se a um curral de animais. O gado é abatido para se transformar em alimento; os homens, por sua vez, são abatidos para deixarem de existir. Não é um lugar de recuperação ou coisa que o valha, é um curral para se amontoarem os indesejados, muito semelhante aos espaços destinados às montanhas de lixo, que ninguém quer lembrar que existem, ver ou sentir seus odores.” – página 97

“No fim, somos todos livres, porque, no fim, estaremos mortos.”
- Bronco Gil [Personagem do livro]

A Autora:
Escritora e roteirista, Ana Paula Maia é autora de romances de tom naturalista. Venceu duas vezes o Prêmio São Paulo de Literatura, com os livros "Assim na terra como embaixo da terra" (2018) e "Enterre seus mortos" (2019).
Suas obras tematizam a relação do homem com o trabalho, a moldagem do caráter pelas atividades diárias e a inferiorização do homem pelo trabalho que exerce. Seus personagens são, em suas palavras, "homens-bestas" - trabalham duro, sobrevivem com muito pouco, esperam o mínimo da vida e, em silêncio, carregam seus fardos e o dos outros. Destaca-se a trilogia "A Saga dos Brutos", composta pelas novelas "Entre rinhas de cachorros e porcos abatidos" (2009), "O trabalho sujo dos outros" (2009) e "Carvão animal" (2011).

Fica a Dica!

quarta-feira, 16 de setembro de 2020

Projeto Nacional: O Dever da Esperança de Ciro Gomes

Projeto Nacional: 
O Dever da Esperança

Ciro Gomes 

Editora: LeYa 

2020 – 272 páginas 

Projeto nacional: O dever da esperança, livro inédito de Ciro Gomes, é um convite para debater racionalmente o país que somos e o país que desejamos ser. “É minha contribuição pessoal a uma reflexão inadiável sobre o Brasil, as raízes de seus graves problemas e as pistas para sua solução”, escreve o autor na introdução. A frase reflete o espírito da obra e de seu autor: não só oferecer um diagnóstico das principais questões que atrapalharam o nosso desenvolvimento com democracia, liberdade e justiça, como também apresentar um vasto conjunto de ideias capazes de direcionar o Brasil rumo a um futuro desejável. É o que Ciro Gomes chama de um novo Projeto Nacional de Desenvolvimento – ele segue a linha de pensadores do nacional-desenvolvimentismo, de que, para superar o atraso e a desigualdade, não basta crescimento econômico: é necessário criar condições para promover a justiça social, reparar dívidas históricas com o próprio povo, gerar oportunidades menos desiguais e, ao mesmo tempo, garantir dinamismo a este gigantesco mercado interno chamado Brasil[contracapa do livro] 

Neste livro Ciro Gomes nos apresenta seu Projeto Nacional de Desenvolvimento e traz também suas ideias para serem debatidas civilizadamente para que possamos devolver ao Brasil a esperança, para voltarmos a acreditar na política e através dela possamos reconstruir um país, uma nação, com o consenso de todos. 

Ciro viaja e viajou por todos os lados do Brasil, observando, desenvolvendo, palestrando e apresentando ideias e propostas, se tornando assim uma das vozes mais relevantes no debate dos vários problemas em várias áreas deste país. Neste livro Ciro propõe diversos pontos fundamentais para um Projeto Nacional de Desenvolvimento, trazendo e abordando questões sobre o Estado, os impostos, geração de empregos, meio ambiente, segurança, sobre as reformas necessárias e principalmente sobre a defesa da democracia. Este livro traz ideias claras, bem sucintas e soluções reais sobre o cenário político e econômico atual, um verdadeiro projeto de (re)construção e (re)industrialização de um país que esta completamente perdido e incapacitado com este (des)governo que aí está e dos que o antecederam. Ciro é sóbrio, atento, tem conhecimento e argumentos sólidos para defender estes projetos e garantir a soberania do Brasil... 

Excelente livro, bem coeso e embasado, uma das melhores leituras do ano! 

Recomendo! 

Trechos: 
- “Determinado a fundar a transformação necessária na circunstância histórica real, Ciro Gomes explica o que aconteceu ao país nas últimas décadas e como e por que chegamos ao quadro de estagnação econômica, desagregação política e rendição nacional em que nos 
encontramos. Para isso, ele contrasta sua proposta com os dois ideários que predominaram nos governos desse período. Um deles – que atravessou os mandatos de Fernando Collor, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso na década de 1990, e ressurgiu com Michel Temer e Jair Bolsonaro nos últimos anos – foi o fiscalismo financista. Travestido de liberalismo e de ortodoxia econômica, apostou na retração do Estado e na busca da confiança financeira. Atuou na suposição – desmentida em todo o mundo – de que a obediência traria o investimento e que nosso país cresceria com o dinheiro dos outros. O realismo fiscal é indispensável, sim, como Ciro Gomes sempre reconheceu e praticou, não para ganhar a confiança financeira, mas pela razão oposta: para que o Brasil e seu governo não dependam da confiança financeira e possam ousar na construção de estratégia insubmissa de desenvolvimento. Abdicar da rebeldia, e da construção institucional que ela exige, foi o maior pecado dessa conspiração contra nosso futuro. O outro ideário – que acabou prevalecendo nos governos petistas – foi o nacional-consumismo. Teve o mérito de diminuir a pobreza, mas tomou o caminho fácil de usar as riquezas naturais do país – na agricultura, na pecuária e na mineração – para pagar a conta do consumo urbano. Em vez de organizar a qualificação do aparato produtivo do país e a capacitação dos brasileiros, aceitou nossa regressão a um primarismo produtivo, do qual a desindustrialização foi apenas um dos aspectos. Renegou a construção de um produtivismo inclusivo, voltado para o horizonte da economia do conhecimento, e organizou um sistema geral de cooptação – dos pobres pelas transferências sociais, das corporações pelos direitos adquiridos, dos graúdos pelos favores tributários e pelo crédito subsidiado, e dos rentistas pelos juros desnecessários e irresponsáveis. Quando a riqueza fácil acabou, a tentativa de dar sobrevida a um modelo econômico malogrado aprofundou a ruína, desorganizando as finanças públicas. E a cooptação multiplicou oportunidades para a corrupção nos acertos entre as elites de poder e de dinheiro.” – págs.: 14 e 15 

- “Para mim, de nada vale crescimento econômico sem liberdade e sem promoção de justiça social.” – pág.: 41 

- “Para minha grande decepção, o partido que eu tinha ajudado a fundar para implantar uma socialdemocracia no Brasil, o PSDB, e o plano econômico que tinha ajudado a consolidar, o Real, se desvirtuaram completamente durante o Governo FHC, se deixando corromper pelos interesses do novo rentismo e pela embriaguez eleitoreira de uma emenda de reeleição obtida por suborno. Logo após a posse, esses novos protagonistas da vida econômica passaram a comandar o governo e a submeter todas as outras frações do capitalismo nacional, cooptando a maioria da classe política. Ou seja, o Plano Real foi uma iniciativa muito séria, mas era como uma espécie de antipirético, um comprimido para febre. Melhor explicando: a inflação não era a doença; era, como as febres, um sintoma das doenças. É preciso tratar a febre alta, mas, controlada a febre, é preciso levar o paciente a identificar a infecção. Essa sim é a doença. A doença era o colapso do modelo e a febre era a inflação. FHC experimentou a popularidade extraordinária do fim da febre e em vez de levar o paciente para a terapia ou cirurgia, levou o paciente para o baile funk, se é possível tratar com bom humor com esse momento crítico de nossa história.” – págs.: 57 e 58 

- “Não resta mais qualquer dúvida razoável hoje de que o Brasil sofreu um golpe. O uso de uma forma constitucional sem o conteúdo acusatório adequado não torna legal o processo. E hoje sabemos que o mesmo Congresso que se inflamou contra as pedaladas tornou-as legais dois dias depois de afastar a presidente legítima. Esse mesmo Congresso negou a autorização para investigação do golpista que ocupou a Presidência da República desonrando nosso país e nosso povo, mesmo diante de malas de dinheiro e confissões de crimes gravadas. O ex-presidente da Câmara e hoje condenado por corrupção Eduardo Cunha, que outrora me processou por tê-lo chamado de corrupto, aceitou e conduziu o pedido de impeachment.” –Pág.: 71 

- “Ao transformarem as eleições num circo de fake news e debates sobre absurdos, Bolsonaro venceu, o PT sobreviveu e o Brasil foi atirado no abismo do neoliberalismo, do protofascismo, do colonialismo norte-americano e do governo tecnicamente mais desqualificado da história brasileira.” – Pág.: 81 

- “Isto é o neoliberalismo: lucro privado, prejuízo socializado, ou seja, pago pelo povo.” – pág.: 117 

- “Não podemos abrir mão de nossa vocação agropecuária, mas sem indústria forte seremos condenados a padrões de consumo de países pobres, ainda enfrentando uma contínua pressão pela expansão da fronteira agrícola sobre a Amazônia. Já hoje estamos sentindo o dramático efeito da queda dos preços das commodities agrícolas e minerais, tornando nosso balanço de pagamentos insustentável. Assim, temos que pactuar com toda a sociedade – governo, patrões e empregados – uma nova política industrial definindo exatamente o que pretendemos produzir para financiar nossa pauta de importações.” – pág.: 147 

- “Acredito que, como dizia Churchill: “Um governante que reclama de sua imprensa é como um marinheiro que reclama do mar”. Em vez de se lamentar sobre as distorções, omissões e mentiras de uma imprensa comercial que defende os próprios interesses econômicos, devemos, na oposição, fazer uso frequente das mídias sociais, e, no governo, dos canais institucionais de comunicação com o povo brasileiro, procurando a apresentação de posições e informações sem intermediários. Sites oficiais, redes nacionais de rádio e TV, redes sociais: furar o bloqueio e o filtro dos interesses econômicos e políticos da mídia para manter um canal direto com a população é fundamental.” – pág.: 194 

- “Na minha opinião, ninguém é de esquerda porque se diz ser ou gostaria de ser. O que determina se alguém é de esquerda é sua prática, é a posição que toma nas lutas concretas da sociedade e a obra que realiza quando tem poder. Da mesma forma, ninguém é de direita só porque pensa diferente de nós ou porque defende valores como eficiência, planejamento, honestidade, patriotismo e segurança pública. Muito pelo contrário, esses deveriam ser valores de toda a sociedade. Enfim, a diferença entre esquerda e direita continua sob qualquer ponto de vista, mas a classificação de alguém como tal é sempre relativa à sociedade em que está atuando.” – pág.: 199 

- “... não defendo nem o Estado máximo nem o Estado mínimo, mas o Estado necessário.” – pág.: 200 

- “Acredito que não é possível ser feliz numa sociedade infeliz, rodeado de pessoas vivendo em situação de sofrimento extremo, injustiça e crueldade.” – Pág.: 201 

-“ Esse é nosso ambiente social e econômico atual. Se a esquerda fracassou, é porque não deu resposta adequada a ele. Como disse o ex-presidente do Uruguai José “Pepe” Mujica, “a esquerda falhou por criar consumidores e não cidadãos”. –Pág.: 208 

- “Defender os interesses de sua própria nação não faz ninguém ser de esquerda ou de direita. Mas é o que define alguém como um patriota ou um apátrida. Entregar setores econômicos estratégicos para nosso desenvolvimento para a China não faz de você um comunista ou socialista, mas um traidor. Prestar continência para a bandeira e os interesses imperialistas norte-americanos não faz de você um liberal ou conservador, mas um traidor.” – pág.: 216 

- “ ... o Brasil vai começar a dar certo. Se eu estarei aqui para ver, não sei. O que sei é que não serei eu que salvarei o Brasil. Porque o que o salvará um dia é seu próprio povo munido de um projeto e da determinação de executá-lo. E para ajudar nosso povo a entender isso dedicarei até o último dia de minha vida.” – pág.: 256 

- “Aos que pediam minha “Carta aos brasileiros”, deixo este livro. Nele, a reiteração dos compromissos de toda a minha vida. Porque minha verdadeira ambição não é ser presidente, minha verdadeira ambição é mudar meu país. Minha ambição é ajudar a transformar o Brasil no país fantástico que ele ainda pode ser. E se um dia eu tiver a honra de presidir este país, antes de tomar posse me despedirei de minha família que amo tanto e entrarei no cargo preparado para mudar o Brasil ou morrer tentando. Se não tiver, continuarei com a outra honra de dedicar minha vida política à luta para debater com as novas gerações sobre os problemas brasileiros e a necessidade de seguirmos projetos, não pessoas. Já minha ambição ao escrever este livro é a de despertar em você, que me deu a honra de ler algumas de minhas ideias, um pouco dessa ambição, para que nos ajude nessa caminhada.” – pág.: 260 

O autor: 
Ciro Gomes, nascido em 1957, é político, advogado e professor universitário. Foi deputado estadual (1983-1988), prefeito de Fortaleza (1988-1990), governador do Ceará (1991-1994), ministro da Fazenda (1994-1996), ministro da Integração Nacional (2003-2006), deputado federal (2006-2010), secretário da Saúde do Ceará (2013-2015) e três vezes candidato à presidência da República. Projeto Nacional: O dever da esperança é seu quarto livro. 

Fica a Dica!

sábado, 4 de julho de 2020

Cova 312, de Daniela Arbex

Cova 312 
Daniela Arbex 

Geração Editorial 

2015 – 344 páginas 

Menos de dois anos depois de seu surpreendente best-seller de estreia, “Holocausto brasileiro”, Daniela Arbex volta com mais um livro corajoso e revelador. Escrito como um romance, nele se conta a história real de como as Forças Armadas mataram pela tortura um jovem militante político, forjaram seu suicídio e sumiram com seu corpo. Daniela Arbex reconstitui o calvário deste jovem, de seus companheiros e de sua família até sua morte e desaparecimento. E continua investigando até descobrir seu corpo, na anônima Cova 312 que dá título ao livro. No final, uma revelação bombástica muda um capítulo da história do Brasil. Uma história apaixonante, cheia de mistério, poesia, tragédia e sofrimento.[Contracapa do livro] 

Daniela Arbex traz neste seu livro-reportagem, a história real de como as Forças Armadas na época da ditadura, mataram pela tortura um jovem militante político, Milton Soares de Castro, forjaram seu suicídio e sumiram com seu corpo. 

A autora nos conta a história de Milton e seus companheiros que formavam uma guerrilha contra a ditadura militar instaurada no Brasil. A guerrilha era organizada pelo Movimento Nacional Revolucionário (MNR), formado por rebelados do exército brasileiro e um único civil, justamente, Milton S. de Castro. Uma guerrilha que nunca chegou ao seu objetivo, nunca aconteceu. Foi desmantelada antes pelas Forças Armadas. E a autora investigou, pesquisou e entrevistou várias pessoas, reconstituindo o calvário deste jovem, de seus companheiros e de sua família, até sua morte e desaparecimento. E descobriu onde estava seu corpo, na anônima Cova 312. 

A polícia do Exercito prendeu os 12 revolucionários que estavam acampados na Serra de Caparaó, e todos foram conduzidos à Penitenciária Estadual de Linhares, localizada em Juiz de Fora, interior de Minas Gerais. 

Destes 12, apenas o jovem foi morto. Na versão oficial: suicídio. Alguns questionamentos surgiram principalmente de seus familiares e de seus companheiros, que contestaram a tese de suicídio. 

Só em 2002, 35 anos depois da morte de Milton, que o jornal Tribuna de Minas, através de Daniela Arbex resolveu aprofundar a investigação da morte e do desaparecimento do corpo do jovem, que sua mãe tanto procurou durante 35 anos, nas prisões da ditadura, e morreu dolorosamente sem ter conhecimento que o corpo do filho estava na anônima cova 312. A jornalista mostra o passo a passo esta investigação jornalística. 

E o resultado desta investigação você confere neste excelente livro. Uma obra comovente e emocionante, misto de tragédia e sofrimento, de mistérios e emoções. Uma história cruel e dolorosa, mas magistralmente bem investigada e contada por Daniela Arbex, assim como foi em “Holocausto Brasileiro”. 

O livro ainda é repleto de fotografias das pessoas envolvidas na história e também de trechos de documentos relacionadas ao período mais nefasto do Brasil. 
*
“O tema pode parecer pesado e, como trata de episódio ainda mal resolvido da história recente brasileira, difícil de digerir. Seria assim, não fosse a capacidade prodigiosa de Daniela Arbex de transformar histórias trágicas em uma narrativa fluida, atraente, poética e, em alguns momentos, até divertida…”, escreve no prefácio, o escritor Laurentino Gomes. 

Trechos: 
-“ Rogério não conhecia aquele local. Na entrada do regimento, foi recebido por um homem magro e alto com patente de capitão. Mais tarde veio saber tratar-se de Hilton Paulo Cunha Portela, conhecido pelo codinome Doutor Joaquim. 
“Você é o Rogério?” 
O universitário acenou positivamente com a cabeça, mas não teve tempo de dizer nada. Foi surpreendido com um tapa no rosto que quase o derrubou. Sua perna bambeou, embora tentasse não demonstrar que o pânico o invadia. Já dentro do quartel, ele recebeu a ordem para se despir. Atacado, não conseguia identificar todos os seus algozes. Tentava apenas proteger o rosto, numa atitude involuntária de autodefesa. Depois de tapas na cara, levou socos e chutes pelo corpo. Não havia experimentado humilhação como aquela. Por nunca ter sido de briga, ele só conhecia as causadas por rixas de moleque na rua. A descida naquele submundo marcou o início de sua vida adulta. 
“Seu filho da puta, segura esse fio.” 
Rogério sentiu a musculatura contrair. O corpo tremeu por dentro com a corrente elétrica. Primeiro tomou choque no rosto, nas mãos, depois nas pernas. Aquilo queimava. Os militares debochavam. Não conseguia manter as mãos segurando o fio. Continuou apanhando até perder a noção do tempo. Ao final da sessão, foi levado para uma cela, de onde só foi retirado horas depois. Recuperou suas roupas, mas sua dignidade havia sido atingida. Ainda viu passar, pelo corredor do regimento, um homem nu todo ensanguentado. Era José Adão Pinto, militante da Corrente, que havia sido empalado por um cabo de vassoura. Ainda perturbado por toda violência que viu e sentiu, Rogério foi colocado em um camburão. O carro rodou por horas. Ele urinou lá dentro. O porta-malas só foi aberto dentro da Colônia Penal Magalhães Pinto, em Ribeirão das Neves. 
Rogério só percebeu que ainda estava em Minas Gerais pela farda do soldado que os recebeu. Na entrada do complexo, um sargento da PM tomou os óculos do universitário. A carteira de identidade, o relógio, o cordão, o cinto e os sapatos foram apreendidos.” – páginas 117 e 118

“- Após a descoberta da Cova 312, telefonei para Gessi Palmeira Vieira, em Porto Alegre, para revelar o lugar em que seu irmão havia sido enterrado. Durante trinta e cinco anos, o local foi mantido em sigilo pelos militares, tornando-se um dos grandes segredos guardados pela ditadura brasileira. Ao receber a notícia, Gessi não conteve a emoção: 
“O que fizeram com o Milton não se faz nem com um bicho. Ele tinha um ideal, queria mudar o país. Quando soubemos de sua morte, lutamos por muito tempo para que o exército nos entregasse seu corpo. Não tivemos o direito de velar nosso irmão”, disse, chorando. Edelson mostrou-se igualmente comovido. 
‘Minha mãe sofreu muito com a morte do Milton. Todos nós ficamos marcados. Tínhamos um lema, uma convicção. Ele jamais se mataria. Meu irmão cumpriu seu papel perante o Brasil.’” – página 276 

-“ Foi percorrendo a história do guerrilheiro do Caparaó que eu pude seguir a trilha de tantos outros que, assim como ele, tiveram a Penitenciária de Linhares como destino. Conhecer os episódios de vida e de morte dos militantes políticos me deu a oportunidade de desvendar um Brasil que ainda teme os seus fantasmas e se acovarda diante do peso da culpa. Os sobreviventes têm muito a ensinar: convivem com suas sequelas e enfrentam a herança da violência para seguir em frente, mesmo sendo difícil se livrar do tormento da perseguição. Fazer silêncio diante de uma nação que foi esfacelada pela violência no passado e continua reproduzindo os métodos de tortura e exclusão do período do arbítrio é compactuar com crimes dos quais podemos nos tornar vítimas. Pior que isso: reeditar nas ruas do país marchas pela ordem clamando o retorno da ditadura é desconhecer os anos de sombra que envolveram o Brasil ou aceitar que a força supere o diálogo e o esforço histórico dos movimentos populares na busca por caminhos de paz.” – páginas 335 e 336 

“- Assim como os familiares de Milton puderam saber sobre a existência da Cova 312, onde o integrante do MNR foi sepultado, apontar o destino das ossadas de cada militante abatido e esclarecer as mortes ocorridas nos vinte e um anos de arbítrio é sanar uma dívida histórica do país com os seus filhos. Revolver o passado é vital para se fazer justiça e para consolidação do estado democrático de direito. 
Punir ou perdoar? Enquanto o Brasil se divide entre a anistia e a imprescritibilidade dos crimes de tortura — o que os tornaria passíveis de responsabilização ainda hoje —, uma certeza se consolida: esquecer é impossível. E se centenas de brasileiros tiveram suas vozes silenciadas, nós continuaremos a lembrá-los, um a um, falando em seus nomes. 
— Milton Soares de Castro! 
— PRESENTE!” – páginas 341 e 342 

A autora: 
Daniela Arbex é uma das jornalistas mais premiadas de sua geração. Seu livro, o best-seller “Holocausto Brasileiro”, foi eleito Melhor Livro-Reportagem do Ano pela Associação Paulista de Críticos de Arte (2013) e segundo melhor Livro-Reportagem no prêmio Jabuti (2014). Com mais de 200 mil exemplares vendidos no Brasil e em Portugal, a obra ganhou as telas da TV em 2016, no documentário produzido com exclusividade para a HBO, com exibição em mais de 40 países. Seu mais recente sucesso, Cova 312, também venceu o prêmio Jabuti em 2016 na categoria livro-reportagem. Daniela tem mais de 20 prêmios nacionais e internacionais no currículo, entre eles três prêmios Esso, o americano Knight International Journalism Award (2010) e o prêmio IPYS de Melhor Investigação Jornalística da América Latina (2009). Há 21 anos trabalha no Jornal Tribuna de Minas, onde é repórter especial. 

Recomendo a leitura. Fica a Dica!

quinta-feira, 7 de maio de 2020

Torto Arado de Itamar Vieira Júnior

Torto Arado 

Itamar Vieira Jr. 

264 páginas - 2018 


Editora: Todavia 


“Uma viagem intimista ao mundo rural brasileiro” – Silvia Souto Cunha, Visão 

“Um dos grandes romances do ano, que recupera um tema esquecido e grandioso.” – João Céu e Silva, Diário de Notícias 

“- Belo, poderoso e comovente, apresenta-nos a grande literatura com uma simplicidade que atormenta.” – Ana Bárbara Pedrosa, Revista Pessoa 
[contracapa do livro] 

Faz tempo que não lia um romance regional tão bom e realista. Torto Arado de Itamar Vieira Jr, já nasceu clássico. Este belo enredo se passa no interior da Bahia. É a história das irmãs Bibiana e Belonísia. As duas são filhas de Zeca Chapéu Grande e Salu. Zeca Chapéu Grande era curandeiro de corpo e alma dos doentes da região, e às vezes se fazia de líder político e apaziguava conflitos entre os trabalhadores rurais de fazendas da região. Fazendas estas que os trabalhadores (escravos) não tinham direito a nada, não recebiam salário, apenas moradia (só podiam construir casebres de barro e junco, não podiam fazer de alvenaria), e cultivavam roças em seus quintais quando não estavam trabalhando nas colheitas de arroz e cana de açúcar dos seus patrões. Só ganhavam algum dinheiro quando vendiam os cultivos de seus quintais na feira da cidade. 

“Um romance que retrata – com extrema habilidade narrativa – um Brasil dolorosamente encalhado no próprio passado escravista. Um texto épico e lírico, realista e mágico.” 

O livro é dividido em 3 capítulos: Fio de Corte, Torto Arado e Rio de Sangue. O primeiro é narrado por Bibiana, o segundo por Belonísia e o terceiro por uma entidade do jarê, religião afro-brasileira praticada na região de Água Negra, influenciada pela umbanda, pelo espiritismo e pelo catolicismo. 

O livro começa com a narração de Bibiana sobre um acidente na infância das duas irmãs, e que por causa deste acidente para sempre suas vidas estarão ligadas, sendo que uma precisa ser a voz da outra. Este é o mote para o enredo do livro, onde o leitor também encontrará uma representação de um povo sofrido em seus laços familiares e sociais, os traumas e a memória deste povo, que em nenhum momento foi liberto da escravidão. 

A obra é uma viagem ao sertão nordestino, onde descendentes de escravos ainda vivem em situações análogas à Escravidão, que foi abolida há mais de 120 anos. O autor tem uma prosa portentosa, rigorosa e melodiosa, não se perdendo em nenhum momento. 

Excelente livro. Recomendo esta obra prima! 

O livro foi vencedor do Prêmio LeYa 2018 

Trechos: 
“- Quando Donana levantou a cortina que separava o cômodo em que dormia da cozinha, eu já havia retirada a faca do chão e embrulhado de qualquer jeito no tecido empapado , mas não consegui empurrar de volta a mala de couro para debaixo da cama. Vi o olhar assombrado da minha avó, que desabou sua mão grossa na minha cabeça e na de Belonísia. Ouvi Donana perguntar o que estávamos fazendo ali , porque sua mala estava fora do lugar e que sangue era aquele. ‘Falem’, disse nos ameaçando arrancar a língua, que estava, mal ela sabia, em uma de nossas mãos.” – pág. 16 

“-. Foi um tempo difícil. Meu pai se referia àquele período como a pior seca desde 1932. Aquele também foi o último ano que vi uma plantação extensa de arroz naquelas terras. O arroz, dependente de água, foi o primeiro a secar com a estiagem. Depois secaram a cana, as vagens de feijão, os umbuzeiros, os pés de tomates, quiabo e abóbora. Havia uma reserva de grãos guardada em casa e no galpão da fazenda. Com a seca, veio o medo de que nos mandassem embora por falta de trabalho. Depois veio o medo mais imediato da fome. Os grãos passaram a rarear, o feijão acabou antes do arroz, e do arroz restava muito pouco. Havia um razoável suprimento de farinha de mandioca que algumas famílias fabricavam e trocavam por outros alimentos.” - págs.: 67 e 68 

“- Pensava que seria melhor se tivesse morrido no dia em que saí de casa. Que poderia ter despencado do cavalo e me estrebuchado no chão sem forças, porque aquela altura minha lamentação não servia de nada. Sabia que, mesmo depois de muitos anos, carregaria aquela vergonha por ter sido ingênua, por ter me deixado encantar por suas cortesias, lábia que não era diferente da de muitos homens que levavam mulheres da casa de seus pais para lhes servirem de escravas. Para depois infernizarem seus dias, baterem até tirar sangue ou a vida, deixando rastro de ódio em seus corpos. Para reclamarem da comida, da limpeza, dos filhos mal criados, do tempo, da casa de paredes que se desfaziam. Para nos apresentarem ao inferno que pode ser a vida de uma mulher”. - págs: 135 e 136 

“- O diamante se tornou um enorme feitiço, maldito, porque tudo que é bonito carrega em si a maldição. Vi homens fazerem tratos de sangue, cortando sua carne com os punhais afiados, marcando suas mãos, suas frontes, suas casas, seus objetos de trabalho, suas peneiras de cascalhos e bateias. Vi homens enlouquecerem sem dormir, varando noite e dia no rio Serrano, nas serras, nos garimpos, entocados na escuridão para ver o brilho mudar de lugar. O diamante tem feitiço e no breu podemos ver seu reflexo, de fazer cegar uma coruja, quando anda de um lugar para outro, como um espírito saindo de uma serra, cruzando o céu e descendo num monte ou num rio, na forma de uma luz que chamava a atenção mesmo distante. Os homens enlouqueciam assim, esperando o amanhecer e abrindo fendas no chão onde achavam ter visto a luz entrar, para não encontrar nada. Enlouqueciam sem comer ou tomar banho. Morriam dentro dos buracos ou de tentar apanhar as pedras das mãos dos que haviam encontrado. Morriam de fome porque toda energia de seus corpos ementes era para apanhar o diamante.” – págs.: 203 e 204 

O Autor: 
Itamar Vieira Júnior nasceu em Salvador (BA), em 1979. É geografo e doutor em estudos étnicos e africanos pela UFBA. Publicou os livros de contos “Dias” e “A Oração do Carrasco” (finalista do Prêmio Jabuti),além de outros textos ficcionais em diversas publicações nacionais e estrangeiras.

Fica a dica!

quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

O Peso do Pássaro Morto,de Aline Bei

O Peso do 
Pássaro Morto

Aline Bei

Editora Nós 
168 páginas - 2017

"Quantas perdas cabem na vida de uma mulher?
[Trecho inicial da orelha do livro]




Muito bom este livro de estreia de Aline Bei. "O Peso do Pássaro Morto", um livro com uma densa, original, poética e bela narrativa.  A autora traz a história de uma mulher, dos 8 aos 52 anos, da sonhadora criança até a solitária adulta; suas dores, angústia, renúncias, mas principalmente, sobre as perdas em sua vida. Perdas essas que vem desde cedo e a acompanha até a fase adulta. Tudo revelado neste emocionante e impressionante relato da vida desta mulher. 

Aline foi excepcional na voz da personagem, uma observadora perspicaz e sensível em seu processo de amadurecimento, conforme o tempo vai passando e a impactando em sua vida. Este romance é sobre a solidão, a força e a visão de mundo de uma mulher na atualidade.  

Portanto um livro muito bem escrito, desenvolvido e merecidamente ganhador do Prêmio São Paulo de Literatura de 2018. 

"No livro, são abordados temas delicados e muito debatidos nos últimos tempos como estupro, gravidez na adolescência, machismo, o papel da mulher na sociedade e também questões subjetivas que tratam da situação psicológica da personagem, suas escolhas ao longo da vida e as consequências oriundas delas."

Trechos:
-"Na escola
em casa
na cozinha
perguntei pra minha mãe:

– o que é morrer?

ela estava fritando bife pro almoço.

o bife
é morrer, porque morrer é não poder mais escolher o que farão com a sua carne.
quando estamos vivos, muitas vezes também não escolhemos, mas tentamos.


almoçamos a morte e foi calado.
enquanto minha mãe lavava louça fui até a casa do seu luís às escondidas, mas não exatamente
acho que minha mãe ouviu
a porta batendo e que era eu
saindo com os meus 8 anos atravessando a rua olhando
pros 2 lados que meu pai me ensinou Cuidado
e batendo na casa do seu luís
pra perguntar. minha mãe deixou eu ir, deve ser
porque morreu uma menina de oito anos e isso
transformou ter a minha idade em ser adulta.” - p. 21


*

- " dirigir pra longe com janela aberta é uma espécie
de voo
apesar das rodas, apesar do
chão
eu estava precisando de um pouco de estrada,
há anos que eu não dirigia,
não quis ônibus de novo e mais uma vez, fiz
questão do carro
alugado
me levando pra onde minha cabeça estava
no lucas quase um
homem que me disse por telefone:

- ouro preto parece uma cidade de praia sem mar." - p. 87

A autora:

Aline Bei nasceu em São Paulo, em 1987. É formada em Letras
pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e em Artes
Cênicas pelo Teatro Escola Célia-Helena. É editora e colunista
do site cultural Oitava Arte. “O peso do pássaro morto” é o seu
primeiro livro.

Gostei muito do livro. Recomendo a leitura.

 O peso do pássaro é pesado, muitas mulheres sentem esta realidade,
 este peso. Muitas se encontrarão e se identificarão com este livro.

Fica a dica!