"Uma vaga noção de tudo, e um conhecimento de nada."
Charles Dickens (1812 - 1870) - Escritor Inglês

sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Poesia a Qualquer Hora (266) - Machado de Assis

Os Dois Horizontes

                                       A M. Ferreira Guimarães (1863)

Dois horizontes fecham nossa vida:

Um horizonte, — a saudade
Do que não há de voltar;
Outro horizonte, — a esperança
Dos tempos que hão de chegar;
No presente, — sempre escuro, —
Vive a alma ambiciosa
Na ilusão voluptuosa
Do passado e do futuro.

Os doces brincos da infância
Sob as asas maternais,
O vôo das andorinhas,
A onda viva e os rosais.
O gozo do amor, sonhado
Num olhar profundo e ardente,
Tal é na hora presente
O horizonte do passado.

Ou ambição de grandeza
Que no espírito calou,
Desejo de amor sincero
Que o coração não gozou;
Ou um viver calmo e puro
À alma convalescente,
Tal é na hora presente
O horizonte do futuro.

No breve correr dos dias
Sob o azul do céu, — tais são
Limites no mar da vida:
Saudade ou aspiração;
Ao nosso espírito ardente,
Na avidez do bem sonhado,
Nunca o presente é passado,
Nunca o futuro é presente.

Que cismas, homem? — Perdido
No mar das recordações,
Escuto um eco sentido
Das passadas ilusões.
Que buscas, homem? — Procuro,
Através da imensidade,
Ler a doce realidade
Das ilusões do futuro.

Dois horizontes fecham nossa vida.

Machado de Assis

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Missa do Galo, de Machado de Assis

Missa do Galo
Machado de Assis

Nunca pude entender a conversação que tive com uma senhora, há muitos anos, contava eu dezessete, ela trinta. Era noite de Natal. Havendo ajustado com um vizinho irmos à missa do galo, preferi não dormir; combinei que eu iria acordá-lo à meia-noite.

A casa em que eu estava hospedado era a do escrivão Meneses, que fora casado, em primeiras núpcias, com uma de minhas primas. A segunda mulher, Conceição, e a mãe desta acolheram-me bem, quando vim de Mangaratiba para o Rio de Janeiro, meses antes, a estudar preparatórios. Vivia tranqüilo, naquela casa assobradada da rua do Senado, com os meus livros, poucas relações, alguns passeios. A família era pequena, o escrivão, a mulher, a sogra e duas escravas. Costumes velhos. Às dez horas da noite toda a gente estava nos quartos; às dez e meia a casa dormia. Nunca tinha ido ao teatro, e mais de uma vez, ouvindo dizer ao Meneses que ia ao teatro, pedi-lhe que me levasse consigo. Nessas ocasiões, a sogra fazia uma careta, e as escravas riam à socapa; ele não respondia, vestia-se, saía e só tornava na manhã seguinte. Mais tarde é que eu soube que o teatro era um eufemismo em ação. Meneses trazia amores com uma senhora, separada do marido, e dormia fora de casa uma vez por semana. Conceição padecera, a princípio, com a existência da comborça; mas, afinal, resignara-se, acostumara-se, e acabou achando que era muito direito.

Boa Conceição! Chamavam-lhe "a santa", e fazia jus ao título, tão facilmente suportava os esquecimentos do marido. Em verdade, era um temperamento moderado, sem extremos, nem grandes lágrimas, nem grandes risos. No capítulo de que trato, dava para maometana; aceitaria um harém, com as aparências salvas. Deus me perdoe, se a julgo mal. Tudo nela era atenuado e passivo. O próprio rosto era mediano, nem bonito nem feio. Era o que chamamos uma pessoa simpática. Não dizia mal de ninguém, perdoava tudo. Não sabia odiar; pode ser até que não soubesse amar.

Naquela noite de Natal foi o escrivão ao teatro. Era pelos anos de 1861 ou 1862. Eu já devia estar em Mangaratiba, em férias; mas fiquei até o Natal para ver "a missa do galo na Corte". A família recolheu-se à hora do costume; eu meti-me na sala da frente, vestido e pronto. Dali passaria ao corredor da entrada e sairia sem acordar ninguém. Tinha três chaves a porta; uma estava com o escrivão, eu levaria outra, a terceira ficava em casa.

- Mas, Sr. Nogueira, que fará você todo esse tempo? perguntou-me a mãe de Conceição.

- Leio, D. Inácia.

Tinha comigo um romance, os Três Mosqueteiros, velha tradução creio do Jornal do Comércio. Sentei-me à mesa que havia no centro da sala, e à luz de um candeeiro de querosene, enquanto a casa dormia, trepei ainda uma vez ao cavalo magro de D’Artagnan e fui-me às aventuras. Dentro em pouco estava completamente ébrio de Dumas. Os minutos voavam, ao contrário do que costumam fazer, quando são de espera; ouvi bater onze horas, mas quase sem dar por elas, um acaso. Entretanto, um pequeno rumor que ouvi dentro veio acordar-me da leitura. Eram uns passos no corredor que ia da sala de visitas à de jantar; levantei a cabeça; logo depois vi assomar à porta da sala o vulto de Conceição.

- Ainda não foi? Perguntou ela.

- Não fui; parece que ainda não é meia-noite.

- Que paciência!

Conceição entrou na sala, arrastando as chinelinhas da a1cova. Vestia um roupão branco, mal apanhado na cintura. Sendo magra, tinha um ar de visão romântica, não disparatada com o meu livro de aventuras. Fechei o livro; ela foi sentar-se na cadeira que ficava defronte de mim, perto do canapé. Como eu lhe perguntasse se a havia acordado, sem querer, fazendo barulho, respondeu com presteza:

- Não! qual! Acordei por acordar.

Fitei-a um pouco e duvidei da afirmativa. Os olhos não eram de pessoa que acabasse de dormir; pareciam não ter ainda pegado no sono. Essa observação, porém, que valeria alguma coisa em outro espírito, depressa a botei fora, sem advertir que talvez não dormisse justamente por minha causa, e mentisse para me não afligir ou aborrecer. Já disse que ela era boa, muito boa.

- Mas a hora já há de estar próxima, disse eu.

- Que paciência a sua de esperar acordado, enquanto o vizinho dorme! E esperar sozinho! Não tem medo de almas do outro mundo? Eu cuidei que se assustasse quando me viu.

- Quando ouvi os passos estranhei; mas a senhora apareceu logo.

- Que é que estava lendo? Não diga, já sei, é o romance dos Mosqueteiros.

- Justamente: é muito bonito.

- Gosta de romances?

- Gosto.

- Já leu a Moreninha?

- Do Dr. Macedo? Tenho lá em Mangaratiba.

- Eu gosto muito de romances, mas leio pouco, por falta de tempo. Que romances é que você tem lido?

Comecei a dizer-lhe os nomes de alguns. Conceição ouvia-me com a cabeça reclinada no espaldar, enfiando os olhos por entre as pálpebras meio-cerradas, sem os tirar de mim. De vez em quando passava a língua pelos beiços, para umedecê-los. Quando acabei de falar, não me disse nada; ficamos assim alguns segundos. Em seguida, vi-a endireitar a cabeça, cruzar os dedos e sobre eles pousar o queixo, tendo os cotovelos nos braços da cadeira, tudo sem desviar de mim os grandes olhos espertos.

- Talvez esteja aborrecida, pensei eu.

E logo alto:

- D. Conceição, creio que vão sendo horas, e eu...

- Não, não, ainda é cedo. Vi agora mesmo o relógio; são onze e meia. Tem tempo. Você, perdendo a noite, é capaz de não dormir de dia?

- Já tenho feito isso.

- Eu, não; perdendo uma noite, no outro dia estou que não posso, e, meia hora que seja, hei de passar pelo sono. Mas também estou ficando velha.

- Que velha o quê, D. Conceição?

Tal foi o calor da minha palavra que a fez sorrir. De costume tinha os gestos demorados e as atitudes tranqüilas; agora, porém, ergueu-se rapidamente, passou para o outro lado da sala e deu alguns passos, entre a janela da rua e a porta do gabinete do marido. Assim, com o desalinho honesto que trazia, dava-me uma impressão singular. Magra embora, tinha não sei que balanço no andar, como quem lhe custa levar o corpo; essa feição nunca me pareceu tão distinta como naquela noite. Parava algumas vezes, examinando um trecho de cortina ou consertando a posição de algum objeto no aparador; afinal deteve-se, ante mim, com a mesa de permeio. Estreito era o círculo das suas idéias; tornou ao espanto de me ver esperar acordado; eu repeti-lhe o que ela sabia, isto é, que nunca ouvira missa do galo na Corte, e não queria perdê-la.

- É a mesma missa da roça; todas as missas se parecem.

- Acredito; mas aqui há de haver mais luxo e mais gente também. Olhe, a semana santa na Corte é mais bonita que na roça. São João não digo, nem Santo Antônio...

Pouco a pouco, tinha-se inclinado; fincara os cotovelos no mármore da mesa e metera o rosto entre as mãos espalmadas. Não estando abotoadas, as mangas, caíram naturalmente, e eu vi-lhe metade dos braços, muitos claros, e menos magros do que se poderiam supor. A vista não era nova para mim, posto também não fosse comum; naquele momento, porém, a impressão que tive foi grande. As veias eram tão azuis, que apesar da pouca claridade, podia contá-las do meu lugar. A presença de Conceição espertara-me ainda mais que o livro. Continuei a dizer o que pensava das festas da roça e da cidade, e de outras coisas que me iam vindo à boca. Falava emendando os assuntos, sem saber por quê, variando deles ou tornando aos primeiros, e rindo para fazê-la sorrir e ver-lhe os dentes que luziam de brancos, todos iguaizinhos. Os olhos dela não eram bem negros, mas escuros; o nariz, seco e longo, um tantinho curvo, dava-lhe ao rosto um ar interrogativo. Quando eu alteava um pouco a voz, ela reprimia-me:

- Mais baixo! Mamãe pode acordar.

E não saía daquela posição, que me enchia de gosto, tão perto ficavam as nossas caras. Realmente, não era preciso falar alto para ser ouvido; cochichávamos os dois, eu mais que ela, porque falava mais; ela, às vezes, ficava séria, muito séria, com a testa um pouco franzida. Afinal, cansou; trocou de atitude e de lugar. Deu volta à mesa e veio sentar-se do meu lado, no canapé. Voltei-me, e pude ver, a furto, o bico das chinelas; mas foi só o tempo que ela gastou em sentar-se, o roupão era comprido e cobriu-as logo. Recordo-me que eram pretas. Conceição disse baixinho:

- Mamãe está longe, mas tem o sono muito leve; se acordasse agora, coitada, tão cedo não pegava no sono.

- Eu também sou assim.

- O quê? Perguntou ela inclinando o corpo para ouvir melhor.

Fui sentar-me na cadeira que ficava ao lado do canapé e repeti a palavra. Riu-se da coincidência; também ela tinha o sono leve; éramos três sonos leves.

- Há ocasiões em que sou como mamãe: acordando, custa-me dormir outra vez, rolo na cama, à toa, levanto-me, acendo vela, passeio, torno a deitar-me, e nada.

- Foi o que lhe aconteceu hoje.

- Não, não, atalhou ela.

Não entendi a negativa; ela pode ser que também não a entendesse. Pegou das pontas do cinto e bateu com elas sobre os joelhos, isto é, o joelho direito, porque acabava de cruzar as pernas. Depois referiu uma história de sonhos, e afirmou-me que só tivera um pesadelo, em criança. Quis saber se eu os tinha. A conversa reatou-se assim lentamente, longamente, sem que eu desse pela hora nem pela missa. Quando eu acabava uma narração ou uma explicação, ela inventava outra pergunta ou outra matéria, e eu pegava novamente na palavra. De quando em quando, reprimia-me:

- Mais baixo, mais baixo...

Havia também umas pausas. Duas outras vezes, pareceu-me que a via dormir; mas os olhos, cerrados por um instante, abriam-se logo sem sono nem fadiga, como se ela os houvesse fechado para ver melhor. Uma dessas vezes creio que deu por mim embebido na sua pessoa, e lembra-me que os tornou a fechar, não sei se apressada ou vagarosamente. Há impressões dessa noite, que me aparecem truncadas ou confusas. Contradigo-me, atrapalho-me. Uma das que ainda tenho frescas é que, em certa ocasião, ela, que era apenas simpática, ficou linda, ficou lindíssima. Estava de pé, os braços cruzados; eu, em respeito a ela, quis levantar-me; não consentiu, pôs uma das mãos no meu ombro, e obrigou-me a estar sentado. Cuidei que ia dizer alguma coisa; mas estremeceu, como se tivesse um arrepio de frio, voltou as costas e foi sentar-se na cadeira, onde me achara lendo. Dali relanceou a vista pelo espelho, que ficava por cima do canapé, falou de duas gravuras que pendiam da parede.

- Estes quadros estão ficando velhos. Já pedi a Chiquinho para comprar outros.

Chiquinho era o marido. Os quadros falavam do principal negócio deste homem. Um representava "Cleópatra"; não me recordo o assunto do outro, mas eram mulheres. Vulgares ambos; naquele tempo não me pareciam feios.

- São bonitos, disse eu.

- Bonitos são; mas estão manchados. E depois francamente, eu preferia duas imagens, duas santas. Estas são mais próprias para sala de rapaz ou de barbeiro.

- De barbeiro? A senhora nunca foi a casa de barbeiro.

- Mas imagino que os fregueses, enquanto esperam, falam de moças e namoros, e naturalmente o dono da casa alegra a vista deles com figuras bonitas. Em casa de família é que não acho próprio. É o que eu penso; mas eu penso muita coisa assim esquisita. Seja o que for, não gosto dos quadros. Eu tenho uma Nossa Senhora da Conceição, minha madrinha, muito bonita; mas é de escultura, não se pode pôr na parede, nem eu quero. Está no meu oratório.

A idéia do oratório trouxe-me a da missa, lembrou-me que podia ser tarde e quis dizê-lo. Penso que cheguei a abrir a boca, mas logo a fechei para ouvir o que ela contava, com doçura, com graça, com tal moleza que trazia preguiça à minha alma e fazia esquecer a missa e a igreja. Falava das suas devoções de menina e moça. Em seguida referia umas anedotas de baile, uns casos de passeio, reminiscências de Paquetá, tudo de mistura, quase sem interrupção. Quando cansou do passado, falou do presente, dos negócios da casa, das canseiras de família, que lhe diziam ser muitas, antes de casar, mas não eram nada. Não me contou, mas eu sabia que casara aos vinte e sete anos.

Já agora não trocava de lugar, como a princípio, e quase não saíra da mesma atitude. Não tinha os grandes olhos compridos, e entrou a olhar à toa para as paredes.

- Precisamos mudar o papel da sala, disse daí a pouco, como se falasse consigo.

Concordei, para dizer alguma coisa, para sair da espécie de sono magnético, ou o que quer que era que me tolhia a língua e os sentidos. Queria e não queria acabar a conversação; fazia esforço para arredar os olhos dela, e arredava-os por um sentimento de respeito; mas a idéia de parecer que era aborrecimento, quando não era, levava-me os olhos outra vez para Conceição. A conversa ia morrendo. Na rua, o silêncio era completo.

Chegamos a ficar por algum tempo, - não posso dizer quanto, - inteiramente calados. O rumor único e escasso, era um roer de camundongo no gabinete, que me acordou daquela espécie de sonolência; quis falar dele, mas não achei modo. Conceição parecia estar devaneando. Subitamente, ouvi uma pancada na janela, do lado de fora, e uma voz que bradava: "Missa do galo! missa do galo!"

- Aí está o companheiro, disse ela levantando-se. Tem graça; você é que ficou de ir acordá-lo, ele é que vem acordar você. Vá, que hão de ser horas; adeus.

- Já serão horas? perguntei.

- Naturalmente.

- Missa do galo! repetiram de fora, batendo.

-Vá, vá, não se faça esperar. A culpa foi minha. Adeus; até amanhã.

E com o mesmo balanço do corpo, Conceição enfiou pelo corredor dentro, pisando mansinho. Saí à rua e achei o vizinho que esperava. Guiamos dali para a igreja. Durante a missa, a figura de Conceição interpôs-se mais de uma vez, entre mim e o padre; fique isto à conta dos meus dezessete anos. Na manhã seguinte, ao almoço, falei da missa do galo e da gente que estava na igreja sem excitar a curiosidade de Conceição. Durante o dia, achei-a como sempre, natural, benigna, sem nada que fizesse lembrar a conversação da véspera. Pelo Ano-Bom fui para Mangaratiba. Quando tornei ao Rio de Janeiro, em março, o escrivão tinha morrido de apoplexia. Conceição morava no Engenho Novo, mas nem a visitei nem a encontrei. Ouvi mais tarde que casara com o escrevente juramentado do marido.

Show da Legião Urbana em 1990 - Porto Alegre-RS

(((( PRA SEMPRE LEGIÃO URBANA ))))

Machado de Assis - A vida é boa!

A paixão e o cuidado pela palavra escrita moveram o dom de Machado de Assis, e caracterizam os contos e romances que compõem a rica obra do autor. Nascido em uma família modesta, em 1839, Joaquim Maria nasceu em um Rio de Janeiro que tinha apenas 200 mil habitantes, mas se desenvolvia a todo vapor econômica e culturalmente. O documentário "A vida é boa" mostra, com o depoimento de estudiosos, imagens históricas e interpretação de trechos de seus textos, a biografia e a obra do escritor que se tornou um dos maiores nomes da literatura brasileira.

Machado de Assis - (21 de junho de 1839 - 29 de setembro de 1908)

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Se mente muito nestes três casos


Frase para a Semana

“A corrupção dos governantes 
quase sempre começa com a
 corrupção dos seus princípios.”
Montesquieu
(Bordeaux, 18 de Janeiro de 1689 - Paris, 10 de Fevereiro de 1755)
Foi um político, filósofo e escritor francês.
É considerado um dos grandes filósofos do iluminismo.

sábado, 24 de setembro de 2016

5 Links - # 198 >>>

Trilha Sonora (256) - Radiohead

Idioteque
Radiohead
Compositores: Colin Greenwood, Ed O'brien, 
Jonnhy Greenwood, Paul Lansky, Phil Selway e Thom Yorke.
Who's in a bunker?
Who's in a bunker?
Women and children first
And the children first
And the children
I'll laugh until my head comes off
I'll swallow till I burst
Until I burst
Until I

Who's in a bunker?
Who's in a bunker?
I have seen too much
Yeah I've seen a lot
You haven't seen enough
I'll laugh until my head comes off
Women and children first
And children first
And children

Here I'm allowed 
Everything all of the time 
Here I'm allowed
Everything all of the time 

Ice age coming
Ice age coming
Let me hear both sides
Let me hear both sides
Let me hear both
Ice age coming
Ice age coming
Throw him on the fire
Throw me on the fire
Throw me on the

We're not scaremongering
This is really happening
Happening happening
We're not scaremongering
This is really happening
Happening happening
Mobiles squirking
Mobiles chirping
Take the money run
Take the money run
Take the money

Here I'm allowed 
Everything all of the time 
Here I'm allowed
Everything all of the time 

Here I'm allowed 
Everything all of the time 
Here I'm allowed
Everything all of the time

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Poesia a Qualquer Hora (265) - Armando Freitas Filho

De um sonho

A areia retida nas mãos em concha
vaza, e inicia a ampulheta
preenchendo as fôrmas das letras
e de algumas figuras:
a do A surge consistente
seguida do molde do rosto de uma criança
dentro da bacia oval e úmida que as mãos
escavaram, à beira da baía de igual formato
no intervalo de uma onda mais forte e outra.
O avanço do mar acaba apagando
a construção na praia, mas a memória
a reescreve com o mesmo espírito, método
e redundância, nas linhas da maré.

Armando Freitas Filho

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Renato Russo é tendência, 20 anos após sua morte

Filme, musical, biografia, diário, coletânea de regravações, caixas especiais, materiais extras e exposição de objetos pessoais. Esses são só alguns dos lançamentos previstos em torno do nome e da obra de Renato Russo para os próximos meses.


Uma maneira de a memória do líder da Legião Urbana continuar viva, mesmo depois de 20 anos da morte dele, que se completará em 11 de outubro.

"Renato jamais será esquecido por falta de preservação, felizmente", diz Arthur Dapieve, autor do livro-perfil "Renato Russo, o Trovador Solitário". "Tanto a família dele quanto os outros integrantes da banda fazem de tudo para manter a obra dele a salvo do esquecimento. E a quantidade de fãs, muitos dos quais nem eram nascidos quando o Renato morreu, faz o resto".

Ainda neste mês será lançado o livro "The 42nd St. Band - Romance de Uma Banda Imaginária", que reúne cadernos e folhas soltas que foram escritas em inglês pelo então garoto de 15 anos, Renato Manfredini. Uma curiosidade: Russo, o sobrenome emprestado, veio do líder de sua banda imaginária, o personagem Eric Russel, que dividia o palco com o ex-guitarrista dos Rolling Stones, Mick Taylor.

"Para os fãs do Renato Russo, este romance mostra que ele já projetava o que viria a ser a Legião Urbana e tudo que a cercava. E o público em geral poderá observar como Renato já tinha perspectiva de tudo que ele iria enfrentar no showbusiness como um todo. Relações contratuais com gravadora, turnês, relação com empresários, com a imprensa e a mídia, enfim, a própria cena do rock dos anos 1980, que revolucionou a indústria fonográfica e o entretenimento no Brasil", comenta Ronaldo Pereira, diretor artístico da Legião Urbana Produções.

Também chegará às livrarias ainda neste ano a edição revista e ampliada da biografia "Renato Russo - O Filho da Revolução", de Carlos Marcelo. "A memória de Renato vem sendo preservada por meio de iniciativas concretas, como o trabalho minucioso que está sendo feito de preparação para a exposição planejada para o MIS (Museu da Imagem e do Som) de São Paulo, em 2017", adianta o autor.

"Acredito que a exposição vai atrair milhares de fãs e deve se tornar um marco na preservação do legado artístico do líder da Legião. E há o trabalho espontâneo dos fãs, que se renovam a cada década. Eles também se encarregam de manter a chama acesa", diz Carlos Marcelo. A exposição contará com manuscritos, diários, discos, livros, esculturas, quadros, desenhos, fotos, instrumentos musicais e roupas, entre outras relíquias guardadas no antigo apartamento em Ipanema, no Rio de Janeiro.

Carlos Marcelo é também autor do texto de apresentação de uma caixa com os quatro álbuns solo de Renato Russo, que ganhou o nome de "A Força de Uma Vida" e promete trazer uma série de extras. Ao mesmo tempo, está sendo preparado outro CD, esta uma coletânea com regravações de sucessos feita por 12 jovens artistas e bandas de diferentes regiões do país, como Vespas Mandarinas e Selvagens a Procura da Lei; Uh La La, de Curitiba; Supercordas, de Paraty; Plutão Já Foi Planeta, de Natal; a cantora potiguar Cris Botarelli; e Codinome Winchester, de Campo Grande, entre outras. Com o nome de "Viva Renato Russo - 20 anos", a coletânea será distribuída gratuitamente em outubro no formato físico e estará disponível em streaming digital no Spotify.

Pouco depois, em 11 de outubro, estreia no Centro Cultural dos Correios, no Rio de Janeiro, "Renato Russo, o Musical", a remontagem de "Renato Russo, a Peça", que ficou em cartaz entre 2006 e 2009 pelo Brasil, com a produção e atuação do ator Bruce Gomlevsky. Está em fase de produção também o longa-metragem "Eduardo e Mônica", baseado na canção de mesmo nome e que contará com direção de René Sampaio, o mesmo que, em 2013, levou às telas a trajetória de João de Santo Cristo, o protagonista da letra de outro clássico da banda de Brasília, "Faroeste Caboclo".

Já a edição comemorativa dos 30 anos do primeiro álbum, chamado de "Legião Urbana", foi lançada no início de 2016 como um CD duplo.

Obra resiste ao tempo

E a que se deve tanto interesse em torno da vida e da obra de Renato Russo? Arthur Dapieve garante que seja a qualidade do trabalho. "Essa qualidade confere o status de clássicos aos álbuns da banda e solo dele. O Renato construiu de caso pensado uma obra que sofresse o mínimo possível com a passagem do tempo. Não há referências cronológicas claras nas canções, intencionalmente. Isso as atualiza perpetuamente na sensibilidade de todo e qualquer ouvinte".

Já Carlos Marcelo acredita que essa longevidade da obra se deve também ao fato de o Brasil, em termos políticos e sociais, ter mudado muito pouco nestas três décadas. "Mesmo as letras escritas por Renato na primeira fase da carreira, ainda nos anos 1970, como 'Que País é Este?', continuam atuais. As desigualdades brasileiras, décadas depois do surgimento do Aborto Elétrico, continuam a atormentar a nossa realidade. Versos como 'vamos sair, mas não temos mais dinheiro, os meus amigos todos estão procurando emprego', de 'O Teatro dos Vampiros', poderiam ter sido escritos em 2016", diz.

O escritor não deixa de considerar também a atemporalidade das letras mais existencialistas, que falam de ética, amor e perdão. "Continuam e continuarão a fazer sentido, em especial para os jovens, quando eles perdem a inocência da infância e chegam à fase dos questionamentos e das descobertas íntimas".

O que ainda falta ser feito?

Ronaldo Pereira diz que os produtos envolvendo Renato Russo não pararão por aí. "Nos últimos três anos, não me surpreendi ao acessar o apartamento de Ipanema, onde Renato viveu os seus últimos anos, e ver a quantidade de manuscritos que incluía de peças de teatro a diários, de livros a desenhos e pinturas criados pelo artista, enfim, um acervo riquíssimo. E, mais do que isso, pipocam entre os fãs material inédito de Renato que detecto diariamente através das redes sociais".

Ao ser questionado a respeito do que ainda pode ser feito com relação à memória de Renato Russo, Carlos Marcelo é taxativo com relação a um livro que reúna todas as letras do compositor, incluindo os rascunhos de versos conhecidos. "Ajudaria os fãs a entender o método de composição do Renato, que, entre outros procedimentos, anotava e guardava frases soltas por décadas, até encaixá-las em alguma música inédita", conta. "Também acho que Brasília, apesar de possuir o Espaço Cultural Renato Russo e de algumas iniciativas isoladas, ainda pode e deve fazer mais para preservar a memória do cantor que foi decisivo na divulgação de uma cidade além do poder e ajudou a consolidar a alma cultural brasiliense".

(º> Via: VIMOO >>>

Show da Legião Urbana em 1990 no Jockey Club-RJ


(((( PRA SEMPRE LEGIÃO URBANA ))))

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Cena de Cinema # 242 - Trumbo: Lista Negra

(Trumbo: Lista Negra - 2015) +

20 Times de Santa Catarina - Escudos, Mascotes e Data de Fundação

Imagens da Vez: Árvores Símbolos do Brasil


Dia 21 de Setembro é comemorado o Dia da Árvore no Brasil

O Ipê Amarelo é considerado árvore símbolo do Brasil, 
pela Lei nº 6.607 de 7 de Dezembro de 1978.

- E cada região do nosso país possui uma árvore símbolo. Veja:

Árvore símbolo da região Norte – castanheira;

Árvore símbolo da região Nordeste – carnaúba;

Árvore símbolo da região Centro-Oeste – ipê amarelo;

Árvore símbolo da região Sudeste – pau-brasil;

Árvore símbolo da região Sul – araucária.

- No Dia 21 de Março é comemorado o dia Mundial da Árvore.

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Frase para a Semana

“Nós somos aquilo que
 fazemos repetidamente.
 Excelência, então, não é um
 modo de agir, mas um hábito.” 
Aristóteles
(Estagira, 384 a.C. - Atenas, 322 a.C.).
Foi um filósofo grego, aluno de Platão. Seus escritos 
abrangem diversos assuntos, como a física, a metafísica, 
as leis da poesia e do drama, a música, a lógica, a retórica, 
o governo, a ética, a biologia e a zoologia.

domingo, 18 de setembro de 2016

Brasil Termina em 8.º nas Paraolimpíadas Rio 2016

::: De 7 à 18 de Setembro :::

O Brasil terminou na 8.ª posição com:
 14 ouros - 29 pratas - 29 bronzes 

<> ::: Quadro de Medalhas Completo ::: >>>


Personagem da Vez: Daniel Dias


Eu Sou Malala

Eu Sou Malala

A história da garota que defendeu 
o direito à educação e foi baleada 
pelo Talibã

Malala Yousafzai e Christina Lamb

Editora: Companhia das Letras

344 páginas

Tradução: Caroline Chang, Denise
Bottman, George Schlesinger e 
Luciano Vieira Machado.



Quando o Talibã tomou controle do vale do Swat, uma menina levantou a voz. Malala Yousafzai recusou-se a permanecer em silêncio e lutou pelo seu direito à educação. Mas em 9 de outubro de 2012, uma terça-feira, ela quase pagou o preço com a vida. Malala foi atingida na cabeça por um tiro à queima-roupa dentro do ônibus no qual voltava da escola. Poucos acreditaram que ela sobreviveria. Mas a recuperação milagrosa de Malala a levou em uma viagem extraordinária de um vale remoto no norte do Paquistão para as salas das Nações Unidas em Nova York. Aos dezesseis anos, ela se tornou um símbolo global de protesto pacífico e a candidata mais jovem da história a receber o Prêmio Nobel da Paz[Texto da contracapa do livro]

//////////
A paquistanesa Malala ficou conhecida ao mundo numa terça-feira, 9 de outubro de 2012, quando foi baleada quando voltava da escola, só porque queria estudar, só porque defendia a condição feminina no Islamismo Fundamentalista, só porque defendia - o direito dela e das demais meninas de seu país, - de estudar. Com o regime Talibã, somente homens tinham este direito, mas ela não se calou e defendeu que meninas também tinham este direito, e quase pagou com sua própria vida. Ela é um símbolo de luta por esta causa nobre.

Como é admirável pessoas como Malala, que nos inspiram a querer modificar o mundo, para torná-lo melhor.

O livro tem uma linguagem direta, simples e confessional, e acompanha a história desta garota do Vale do Swat no Paquistão, desde quando nasceu, quando nota-se o enorme descaso com que a sociedade em que vivia tratava as mulheres. Quando um menino nascia, todos comemoravam, porém, quando Malala nasceu, poucos foram a visitar. A história segue seus primeiros anos como estudante e as dificuldades de viver em uma região marcada pela desigualdade social. Mas Malala nasceu em uma família privilegiada, seu pai Ziaudhin, - que tinha uma escola particular- , era um homem culto, revolucionário e um pai exemplar, que comemorou sim, o nascimento de sua filha e a educou para ser livre. Seu pai lhe deu este nome em homenagem a Malalai de Maiward, a maior heroína do Afeganistão, que lutou contra a Grã-Bretanha em 1880.

Malala pertence aos Pachtuns, povo que habita o Paquistão e o Afeganistão, sendo que o valor mais importante para eles é a honra. 

“Sem honra o mundo não vale nada” – Ditado Pachtun 


O livro foi escrito em parceria
com a jornalista Christina Lamb.

E aos 16 anos Malala se tornou um símbolo global, um ícone de protesto pacífico na luta pela educação, e, entrou para história como a pessoa mais jovem a receber o Prêmio Nobel da Paz. Malala Yousafzai ganhou o Prêmio, juntamente com o indiano Kailash Satyarthi em 2014. 


"A educação é o caminho para salvar vidas, construir a paz e fortalecer os jovens. Essa é a lição que Malala e outros milhões como ela estão tentando ensinar ao mundo." - Ban Ki-moon

Trechos:
- “Venho de um país criado à meia-noite. Quando quase morri, era meio-dia. Há um ano saí de casa para ir à escola e nunca mais voltei. Levei um tiro de um dos homens do Talibã e mergulhei no inconsciente do Paquistão. Algumas pessoas dizem que não porei mais os pés em meu país, mas acredito firmemente que retornarei. Ser arrancada de uma nação que se ama é algo que não se deseja a ninguém.” – Prólogo – p. 11

- “No dia em que nasci, as pessoas da nossa aldeia tiveram pena de minha mãe, e ninguém deu os parabéns a meu pai. Vim ao mundo durante a madrugada, quando a última estrela se apaga. Nós, pachtuns, consideramos esse um sinal auspicioso. Meu pai não tinha dinheiro para o hospital ou para uma parteira; então uma vizinha ajudou minha mãe. O primeiro bebê de meus pais foi natimorto, mas eu vim ao mundo chorando e dando pontapés. Nasci menina num lugar onde rifles são disparados em comemoração a um filho, ao passo que as filhas são escondidas atrás de cortinas, sendo seu papel na vida apenas fazer comida e procriar.
Para a maioria dos pachtuns, o dia em que nasce uma menina é considerado sombrio. O primo de meu pai, Jehan Sher Khan Yousafzai, foi um dos poucos a nos visitar para celebrar meu nascimento e até mesmo nos deu uma boa soma em dinheiro. Levou uma grande árvore genealógica que remontava até meu trisavô, e que mostrava apenas as linhas de descendência masculina. Meu pai, Ziauddin, é diferente da maior parte dos homens pachtuns. Pegou a árvore e riscou uma linha a partir de seu nome, no formato de um pirulito. Ao fim da linha escreveu 'Malala'.
O primo riu, atônito. Meu pai não se importou. Disse que olhou nos meus olhos assim que nasci e se apaixonou. Comentou com as pessoas: “Sei que há algo diferente nessa criança”. Também pediu aos amigos para jogar frutas secas, doces e moedas em meu berço, algo reservado somente aos meninos.” - P. 21

- “A gentileza só pode ser retribuída com gentileza e não deve ser paga com um simples ‘obrigado’.” – p. 82

- “Meu pai costumava dizer que o povo do Swat e os professores haveriam de continuar a educar seus filhos enquanto a última sala, o último professor e o último aluno estivessem vivos. Meus pais nunca me aconselharam a abandonar a escola. Nunca. Embora amássemos estudar, só nos demos conta de quanto a educação é importante quando o Talibã tentou nos roubar esse direito. Frequentar a escola, ler, fazer nossos deveres de casa não era apenas um modo de passar o tempo. Era nosso futuro.” – p. 156

- “O Talibã é contra a educação porque pensa que quando uma criança lê livros ou aprende inglês ou estuda ciência ele ou ela vai se ocidentalizar. Mas eu disse: “Educação é educação. Deveríamos aprender tudo e então escolher qual caminho seguir”. Educação não é oriental nem ocidental, é humana.” – p. 172

- “Alguém me deu um exemplar de 'O alquimista', de Paulo Coelho, uma fábula sobre um jovem pastor que viaja às pirâmides do Egito em busca de um tesouro — que o tempo todo estivera em sua casa. Adorei o livro, e o li várias vezes. 'Quando você quer alguma coisa, todo o Universo conspira para a realização de seu desejo', escreve o autor. Penso que ele não conhece nem o Talibã, nem nossos ineficazes políticos.” – p. 175

- “Sempre fui uma menina feliz. Meu pai vangloriava-se de minha ‘risada celestial’. Agora se lamentava com minha mãe: ‘Aquele lindo rosto simétrico, aquele rosto resplandecente, se foi; Malala perdeu o sorriso e a risada. Os talibãs são muito cruéis. Arrancaram o sorriso dela’. E acrescentou: ‘Pode-se dar a alguém olhos ou pulmões, mas não se pode restaurar um sorriso’.” - p. 305

- “Usei um dos xales brancos de Benazir Bhutto sobre meu shalwar kamiz predileto, e conclamei os líderes mundiais a prover educação gratuita para todas as crianças do mundo. 'Que possamos pegar nossos livros e canetas', eu disse. 'São as nossas armas mais poderosas. Uma criança, um professor, um livro e uma caneta podem mudar o mundo.'Só fiquei sabendo como meu discurso foi recebido quando a audiência me aplaudiu de pé. Minha mãe estava em lágrimas e meu pai disse que eu tinha me tornado a filha de todo mundo.” – p. 324

Um excelente livro, que nos faz refletir e pensar sobre uma cultura totalmente diferente da nossa. Foi uma incrível leitura, emocionante e tocante, que nos mostra como podemos ajudar a fazer um mundo melhor, sem preconceitos e injustiças.


::: Veja Documentário sobre Malala e o Paquistão :::


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