"Uma vaga noção de tudo, e um conhecimento de nada."
Charles Dickens (1812 - 1870) - Escritor Inglês

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Recomendo a Leitura: Barba Ensopada de Sangue

Barba 
Ensopada
de 
Sangue


Daniel Galera


 Editora: Companhia das Letras
(2012) - 423 páginas


É daqueles livros que ficará na memória pra sempre. Um livro forte, emocionante e inteligente. Imperdível. Este é o 4.° romance de Galera. 

O livro é narrado em terceira pessoa, mas com um ponto de vista do protagonista.
A enigmática introdução do livro leva o leitor a aguardar o momento chave desta história.
Mas o leitor só vai entender mesmo esta introdução somente na parte final do livro, quando a releitura desta, fará ganhar novo sentido.

Não conhecemos o nome deste protagonista. Ele é um professor de educação física e de natação, com um detalhe peculiar: não consegue reconhecer os rostos das pessoas. Ele é de Porto Alegre, e se muda para Garopaba, cidade litorânea de Santa Catarina, depois da morte do pai, e para se afastar de problemas com a família. Mas também quer entender porque seu avô paterno, Gaudério, foi assassinado nesta mesma cidade algumas décadas atrás. Está sempre acompanhado por Beta, a cadela que era de seu pai. Ele se envolve com alguns moradores da cidade: uma garçonete e seu filho pequeno, os alunos da natação, um budista, uma secretária de uma agência de turismo, entre outros. Sempre em busca de informações que levem a entender o que aconteceu com seu misterioso avô, e também está sempre procurando a união entre mente e corpo, a integração entre a natureza e o ser humano e a interação entre a cidade e cidadão.

Esta é uma história de amores perdidos, de conflitos familiares e segredos guardados. Com diálogos rápidos e personagens inesquecíveis, personagens estes, que sempre estão em busca de uma segunda chance ou de alguma redenção.

Galera constrói uma narrativa peculiar e envolvente, um enredo realista, mas com pitadas míticas e místicas. Lendas, mitos e realidades se misturam para compor este prosaico livro.
Sua escrita é terna, minuciosa, sedutora e rica em detalhes. Com certeza, um dos melhores livros que li. Já havia gostado de outro livro de Galera: “Mãos de Cavalo”, mas este “Barba Ensopada de Sangue”, o autor se superou, é um grande romance, uma grande história. Excelente livro.  Vale muito a leitura...

Daniel Galera é um dos melhores escritores de sua geração.

O romance foi vencedor do “Prêmio São Paulo de Literatura 2013” e ficou em terceiro lugar no “Prêmio Jabuti de Romance”.

Na contracapa do livro:
“Barba ensopada de sangue é um livro muito forte e Daniel Galera, um escritor admirável - sério, robusto, tranquilo. E este é também um livro assim, desde a primeira página. Como alguém que sai de casa sabendo exatamente para onde quer ir. Vai firme, mas não apressa o passo.” - Gonçalo M. Tavares

“Li com muito prazer, capturado pelas tramas abertas e trágicas. Me agradou especialmente o tom musical da prosa e o modo como os diálogos precisos e rápidos servem de contraponto à ação. Para felicidade do leitor, a imagem aterrorizante do título é apenas moldura para um romance lírico e sentimental.” - Ricardo Piglia

“A um tempo engenhoso e desprendido, alternando entre o grau zero e o alto grau da escrita, um romance de aventura e mistério sobre a tenacidade dos homens, dos animais e da natureza.” - Francisco Bosco

Alguns trechos:
"E o pai me xingava. Dizia que eu parecia um porco se virando no barro. Já viu um porco se virando no barro? É a própria imagem da felicidade.” - pág: 20

“Não tem nada mais ridículo do que uma pessoa tentando convencer outra. Trabalhei com persuasão minha vida toda, a persuasão é o maior câncer do comportamento humano.“  – pág.: 32

"Há apenas dois lugares possíveis para uma pessoa. A família é um deles. O outro é o mundo inteiro. Às vezes não é fácil saber em qual dos dois estamos. “  – pág.: 399

“Ou existe livre-arbítrio ou não existe. Se o ser humano é um agente livre, se temos escolhas, podemos ser responsabilizado. Se não existe, se o universo é predeterminado pelas leis da natureza e tudo não passa do resultado do que aconteceu logo antes, aí ninguém tem culpa do que fez. Nem rancor nem perdão fazem sentido. “  – págs.: 419 e 420

O Autor:
Daniel Galera nasceu em São Paulo, no 13 de Julho de 1979. É escritor e tradutor . Foi um dos precursores do uso da internet para a literatura, editando e publicando textos em portais e fanzines eletrônicos entre 1997 e 2001. Fundou em 2001 a Editora Livros do Mal, junto com Daniel Pellizzari e Guilherme Pilla. Seus outros 3 romances foram: 
"Até o dia em que o cão morreu" (2003), "Mãos de Cavalo" (2006) e "Cordilheira" (2008)

Poesia a Qualquer Hora (139) - Silvana Duboc


Me encante com uma certa calma


Me encante da maneira que você quiser, como você souber.
Me encante, para que eu possa me dar…

Me encante nos mínimos detalhes.
Saiba me sorrir: aquele sorriso malicioso,
Gostoso, inocente e carente.

Me encante com suas mãos,
Gesticule quando for preciso.
Me toque, quero correr esse risco.

Me acarinhe se quiser…
Vou fingir que não entendo,
Que nem queria esse momento.

Me encante com seus olhos…
Me olhe profundo, mas só por um segundo.
Depois desvie o seu olhar.
Como se o meu olhar,
Não tivesse conseguido te encantar…

E então, volte a me fitar.
Tão profundamente, que eu fique perdido.
Sem saber o que falar…

Me encante com suas palavras…
Me fale dos seus sonhos, dos seus prazeres.
Me conte segredos, sem medos,
E depois me diga o quanto te encantei.

Me encante com serenidade…
Mas não se esqueça também,
Que tem que ser com simplicidade,
Não pode haver maldade.

Me encante com uma certa calma,
Sem pressa. Tente entender a minha alma.

Me encante como você fez com o seu primeiro namorado…
Sem subterfúgios, sem cálculos, sem dúvidas, com certeza.

Me encante na calada da madrugada,
Na luz do sol ou embaixo da chuva….

Me encante sem dizer nada, ou até dizendo tudo.
Sorrindo ou chorando. Triste ou alegre…
Mas, me encante de verdade, com vontade…

Que depois, eu te confesso que me apaixonei,
E prometo te encantar por todos os dias…
Pelo resto das nossas vidas!!!

Silvana Duboc

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Plebiscito, de Artur Azevedo

Plebiscito
Artur Azevedo
A cena passa-se em 1890.

A família está toda reunida na sala de jantar.
O senhor Rodrigues palita os dentes, repimpado numa cadeira de balanço. Acabou de comer como um abade. Dona Bernardina, sua esposa, está muito entretida a limpar a gaiola de um canário belga. Os pequenos são dois, um menino e uma menina. Ela distrai-se a olhar para o canário. Ele, encostado à mesa, os pés cruzados, lê com muita atenção uma das nossas folhas diárias.

Silêncio.

De repente, o menino levanta a cabeça e pergunta:
- Papai, que é plebiscito?
O senhor Rodrigues fecha os olhos imediatamente para fingir que dorme.
O pequeno insiste:
- Papai?

Pausa:

- Papai?
Dona Bernardina intervém:
- Ó seu Rodrigues, Manduca está lhe chamando. Não durma depois do jantar que lhe faz mal.
O senhor Rodrigues não tem remédio senão abrir os olhos.
- Que é? que desejam vocês?
- Eu queria que papai me dissesse o que é plebiscito.
- Ora essa, rapaz! Então tu vais fazer doze anos e não sabes ainda o que é plebiscito?
- Se soubesse não perguntava.

O Senhor Rodrigues volta-se para dona Bernardina, que continua muito ocupada com a gaiola:
- Ó senhora, o pequeno não sabe o que é plebiscito!
- Não admira que ele não saiba, porque eu também não sei.
- Que me diz?! Pois a senhora não sabe o que é plebiscito?
- Nem eu, nem você; aqui em casa ninguém sabe o que e plebiscito.
- Ninguém, alto lá! Creio que tenho dado provas de não ser nenhum ignorante!
- A sua cara não me engana. Você é muito prosa. Vamos: se sabe, diga o que é plebiscito! Então? A gente está esperando! Diga!...
- A senhora o que quer é enfezar-me!
- Mas, homem de Deus, para que você não há de confessar que não sabe? Não é nenhuma vergonha ignorar qualquer palavra. Já outro dia foi a mesma coisa quando Manduca lhe perguntou o que era proletário. Você falou, e o menino ficou sem saber!
- Proletário, acudiu o senhor Rodrigues, é o cidadão pobre que vive do trabalho mal remunerado.
- Sim, agora sabe porque foi ao dicionário; mas dou-lhe um doce, se me disser o que é plebiscito sem se arredar dessa cadeira!
- Que gostinho tem a senhora em tornar-me ridículo na presença destas crianças!
- Oh! ridículo é você mesmo quem se faz. Seria tão simples dizer: - Não sei, Manduca, não sei o que é plebiscito; vai buscar o dicionário, meu filho.

O senhor Rodrigues ergue-se de um ímpeto e brada:
- Mas se eu sei!
- Pois se sabe, diga!
- Não digo para me não humilhar diante de meus filhos! Não dou o braço a torcer! Quero conservar a força moral que devo ter nesta casa! Vá para o diabo!

E o senhor Rodrigues, exasperadíssimo, nervoso, deixa a sala de jantar e vai para o seu quarto, batendo violentamente a porta.

No quarto havia o que ele mais precisava naquela ocasião: algumas gotas de água de flor de laranja e um dicionário...

A menina toma a palavra:
- Coitado de papai! Zangou-se logo depois do jantar! Dizem que é tão perigoso!
- Não fosse tolo, observa dona Bernardina, e confessasse francamente que não sabia o que é plebiscito!
- Pois sim, acode Manduca, muito pesaroso por ter sido o causador involuntário de toda aquela discussão; pois sim, mamãe; chame papai e façam as pazes.
- Sim! sim! façam as pazes! diz a menina em tom meigo e suplicante. Que tolice! duas pessoas que se estimam tanto zangarem-se por causa do plebiscito!

Dona Bernardina dá um beijo na filha, e vai bater à porta do quarto:

- Seu Rodrigues, venha sentar-se; não vale a pena zangar-se por tão pouco.
O negociante esperava a deixa. A porta abre-se imediatamente. Ele entra, atravessa a casa, e vai sentar-se na cadeira de balanço.
- É boa! brada o senhor Rodrigues depois de largo silêncio; é muito boa! Eu! eu ignorar a significação da palavra plebiscito! Eu!...

A mulher e os filhos aproximam-se dele.

O homem continua num tom profundamente dogmático:
- Plebiscito.

E olha para todos os lados a ver se há por ali mais alguém que possa aproveitar a lição.
- Plebiscito é uma lei decretada pelo povo romano, estabelecido em comícios.
- Ah! suspiram todos, aliviados.
- Uma lei romana, percebem? E querem introduzi-la no Brasil! É mais um estrangeirismo!...

O texto acima saiu no livro "Contos Fora da Moda" de 1982.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Cena de Cinema # 123 - Na Natureza Selvagem

(Na Natureza Selvagem - 2007 ) +

Imagens da Vez: Telas de Paco Pomet

7 Telas de Paco Pomet.






O artista espanhol  Paco Pomet subverte fotos que parecem antigas,  
em telas à óleo, com toques surreais e com doses de humor. 
Paco vive e trabalha em Granada, na Espanha.

°°° Veja +: Paco Pomet >>>

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Tira Gosto

3 Tirinhas de Clara Gomes.


Clara Gomes tem 32 anos , nascida em Petrópolis, no Rio de Janeiro. 
Designer gráfica pela UFRJ e especialista em Arte-Educação. 
Publica suas tirinhas no impresso "Tribuna de Petrópolis" desde 2001,
 e no jornal "O Globo" desde maio de 2010.

°°° Veja +: Bichinhos de Jardim >>>

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Quadro de Medalhas Final dos Jogos Olímpicos de Inverno - Sochi 2014

Jogos Olímpicos de Inverno de 2014, oficialmente Jogos da 
XXII Olimpíada de Inverno, aconteceram entre 6 e 23 de Fevereiro, 
tendo como cidade anfitriã, Sochi, na Rússia.
O Brasil contou com a participação de 13 atletas.
Delegação recorde em Jogos de Inverno.

Os atletas brasileiros só participaram...

Frase para a Semana

“ Bons pais corrigem
 erros, pais brilhantes 
ensinam a pensar. ”

Augusto Cury
(Colina -SP, 2 de outubro de 1958) 
É um médico, psiquiatra, psicoterapeuta e escritor brasileiro.
Seus livros já venderam mais de 16 milhões de exemplares
 somente no Brasil, tendo sido publicados em mais de 60 países.

sábado, 22 de fevereiro de 2014

5 Links - # 063 >>>

Trilha Sonora (134) - Depeche Mode

Enjoy The Silence
Depeche Mode
Compositor: Martin Gore
Words like violence
Break the silence
Come crashing in
Into my little world
Painful to me
Pierce right through me
Can't you understand
Oh my little girl

All I ever wanted
All I ever needed
Is here in my arms
Words are very unnecessary
They can only do harm

Vows are spoken
To be broken
Feelings are intense
Words are trivial
Pleasures remain
So does the pain
Words are meaningless
And forgettable

All I ever wanted
All I ever needed
Is here in my arms
Words are very unnecessary
They can only do harm

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Poesia a Qualquer Hora (138) - Moniz Bandeira

O Grito

A solidão sangra.
O silêncio sangra.
Sangra o grito em voz
— grito sem garganta —
em espasmos contidos.

Os sinos dobram,
continuam dobrando,
e o grito, o eco do próprio eco,
vai rolando,
vai rolando,
e crescendo,
como o rumor das ondas — quebrando-se,
grito da tortura do amor sem posse,
do desejo esmagado pelo momento de espera.

Moniz Bandeira


quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Ministério da Saúde libera recursos para construção de hospital em Tupaciguara

Na última sexta-feira (14/02), no Auditório do Centro Administrativo, autoridades e diversos segmentos da população se reuniram para presenciar a assinatura do convênio celebrado entre a Caixa Econômica Federal e a Prefeitura de Tupaciguara.

A liberação dos recursos pelo Ministério da Saúde vai possibilitar a construção do Hospital Municipal e a Reforma e Ampliação da Unidade Mista de Saúde (Policlínica) “Dr Jarbas de Souza”. Serão duas obras, unificadas.

O repasse no valor de mais de R$2 milhões foi conquistado junto ao Ministério da Saúde e terá a Caixa Econômica Federal como a Unidade Gestora do recurso. O próximo passo será o processo licitatório para contratação de uma empreiteira. O início das obras está previsto para o próximo mês, no mais tardar em abril, segundo o Secretário de Obras, Ribamar Alves Leal.

A busca por essa grande conquista começou no último ano. Assim que assumiu a gestão municipal, a prefeita Edilamar Novais Borges participou de diversas reuniões em Brasília, contando sempre com a ajuda do Assessor de Assuntos Institucionais da Presidência da Republica, Joédis Marques. O projeto arquitetônico foi apresentado e aprovado pelo Ministério da Saúde em reunião como o ex-ministro Alexandre Padilha. O recurso também foi aprovado em R$ 2.196.158,92. A liberação é feita de forma parcial, conforme o andamento da obra. Para o inicio já foram liberados R$500 mil. Este novo complexo hospitalar era um sonho antigo da população tupaciguarense. O Pronto Socorro atenderá urgências e emergências, além do pronto atendimento. Conforme o projeto apresentado durante o evento de celebração do contrato, o Hospital Maternidade ocupará toda a área da Praça Tancredo Neves e pretende ser uma referência para toda a região. (...)

Fonte: AMVAP >>> [clique e leia mais]

Sutilezas Literárias # 037 - Brian Selznick

"Do seu esconderijo atrás do relógio, Hugo podia ver tudo. 
Esfregava nervosamente os dedos no caderninho em seu bolso e dizia 
a si mesmo para ter paciência. O velho na loja de brinquedos estava 
discutindo com a menina. Ela devia ter a mesma idade de Hugo, e ele
 frequentemente a via entrar na loja com um livro debaixo do braço e 
desaparecer atrás do balcão. Hoje o velho parecia agitado. Será que
 descobriu que alguns de seus brinquedos sumiram? Bem, já não era
 possível fazer nada sobre isso agora.



Hugo precisava dos brinquedos. O velho e a menina discutiram um
 pouco mais e, por fim, ela fechou o livro e saiu correndo. Felizmente, 
em poucos minutos o velho tinha cruzado os braços sobre a barriga e
 fechado os olhos. Hugo se arrastou através das paredes, saiu por 
uma entrada de ventilação e disparou pelo corredor até alcançar 
loja de brinquedos. Nervoso, esfregou o caderninho mais uma vez e 
então, cautelosamente, envolveu com a mão o brinquedo de 
corda que desejava.

Mas de repente houve um movimento dentro da loja, e o velho 
adormecido voltou para a vida. Antes que Hugo pudesse correr, o 
velho o agarrou pelo braço. O ratinho azul de corda que Hugo tinha 
apanhado se soltou de sua mão, deslizou pelo balcão e caiu no 
piso com um estalo.

— Ladrão! Ladrão! — gritou o velho para o corredor vazio. 
— Alguém chame o inspetor da estação!

A menção ao inspetor fez Hugo entrar em pânico. 
Contorceu-se e tentou fugir, mas o velho apertava seu braço 
com força e não deixava que ele escapasse.

— Até que enfim te peguei! Agora esvazie os bolsos.

Hugo rosnou feito um cachorro. Estava furioso consigo mesmo 
por ter sido apanhado. O velho puxou ainda mais, até Hugo ficar 
praticamente na ponta dos pés.

— O senhor está me machucando!
— Esvazie os bolsos!

Relutante, Hugo tirou, um a um, dezenas de objeto dos bolsos: 
parafusos, pregos e lascas de metal, porcas e cartas de baralho 
amassadas, pecinhas de relojoaria e rodas dentadas. Mostrou 
uma caixa de fósforos esmagada e algumas velinhas.

— Falta um bolso ainda… — disse o velho.
— Não tem nada nele!
— Então coloque ele do avesso.
— Não estou com nada seu! Me solte!
— Onde está o inspetor? — gritou o velho mais uma vez para o corredor. 
— Por que ele nunca vem quando é preciso?

Se o inspetor da estação aparecesse, com seu uniforme verde, 
no final do corredor, Hugo sabia que tudo estaria acabado. 
O menino se debateu contra o velho, mas em vão. 
Por fim, Hugo enfiou a mão trêmula no bolso e de lá tirou seu 
caderninho de papelão surrado. A capa estava lisa de tão esfregada.

Sem relaxar o aperto no braço do menino, o velho agarrou o
 caderninho, levou-o para longe do alcance de Hugo, abriu e o folheou. 
Uma página chamou sua atenção.

— Me devolve isso! É meu! — gritou Hugo.
— Fantasmas… — murmurou o velho para si mesmo.
— Eu sabia que mais cedo ou mais tarde eles me achariam aqui. 
Fechou o caderninho. A expressão em seu rosto mudava 
rapidamente, de medo para tristeza, de tristeza para raiva.

— Quem é você, garoto? Foi você que fez esses desenhos?
Hugo não respondeu.
— Eu perguntei: foi você que fez esses desenhos?
Hugo rosnou novamente e cuspiu no chão.

— De quem você roubou esse caderno?
— Não roubei.
O velho grunhiu e, com um safanão, soltou o braço de Hugo.

— Me deixe em paz, então! Fique longe de mim e da minha loja.

Hugo esfregou o braço e deu um passo atrás, esmagando sem
 querer o rato de corda que tinha caído no chão. O velho se arrepiou 
ao som do brinquedo sendo quebrado.
Hugo apanhou as peças fragmentadas e as colocou sobre o balcão.

— Não vou embora sem o meu caderno.
— Não é mais o seu caderno. É meu, e vou fazer com ele o que
 eu quiser. O velho balançou no ar a caixa de fósforos de Hugo.
— Talvez eu ponha fogo nele!
— Não!
O velho recolheu tudo que caíra dos bolsos de Hugo, 
incluindo o caderninho. Colocou tudo num lenço, deu 
um nó e o cobriu com as mãos.

— Então me fale dos desenhos. Quem fez?
Hugo nada disse. O velho deu um soco com o punho no 
balcão, fazendo tremer todos os brinquedos.
— Saia já daqui, seu ladrãozinho!
— O senhor é o ladrão! — gritou Hugo enquanto se virava e saía 
correndo. O velho gritou alguma coisa atrás dele, mas tudo o que
 Hugo ouvia era o toque-toque de seus sapatos ecoando
 pelas paredes da estação."


Brian Selznick, em "A Invenção de Hugo Cabret"
530 páginas, Editora SM.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Tira Gosto

3 Tirinhas de Carlos Ruas.


Carlos Ruas nasceu em Niterói-RJ. Criou o blog "Um Sábado Qualquer" 
em 2009, aos 23 anos. Ruas mostra irreverência e muito humor 
em seus quadrinhos, para falar de um dos assuntos mais
polêmicos do mundo: a religião.
°°° Veja +: Um Sábado Qualquer >>>

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Frase para a Semana

"Homens fracos acreditam
na sorte. Homens fortes
acreditam em causa e efeito."
Ralph Waldo Emerson
(25 de maio de 1803, Boston Massachusetts 
- 27 de abril de 1882, Concord, Massachusetts) 
Foi um famoso escritor, filósofo e poeta norte americano.

sábado, 15 de fevereiro de 2014

5 Links - # 062 >>>

Trilha Sonora (133) - Gorillaz

Clint Eastwood
Gorillaz
I ain't happy, I'm feeling glad
I got sunshine, in a bag
I'm useless,but not for long
The future is coming on
I ain't happy, I'm feeling glad
I got sunshine, in a bag
I'm useless, but not for long
The future is coming on
It's coming on
It's coming on
It's coming on
It's coming on...

Yeah... Ha Ha!
Finally someone let me out of my cage
Now, time for me is nothing cos I'm counting no age
Nah I couldn't be there
Nah you shouldn't be scared
I'm good at repairs
And I'm under a snare
Intangible
Bet you didn't think so I command you to
Panoramic view
Look I'll make it all manageable
Pick and choose
Sit and lose
All you different crews
Chicks and dudes
Who you think is really kickin' tunes?
Picture you gettin' down in a picture tube
Like you lit the fuse
You think it's fictional
Mystical? Maybe
Spiritual
Hearable
What appears in you is a clearer view
Cos you're too crazy
Lifeless
To know the definition for what life is
Priceless
For you because I put you on the hype shit
You like it?
Gunsmokin' righteous with one token
Psychic among those
Possess you with one go

I ain't happy, I'm feeling glad
I got sunshine, in a bag
I'm useless,but not for long
The future is coming on
I ain't happy, I'm feeling glad
I got sunshine, in a bag
I'm useless, but not for long
The future is coming on
It's coming on
It's coming on
It's coming on

The essence the basics
Without it you make it
Allow me to make this
Childlike in nature
Rhythm
You have it or you don't that's a fallacy
I'm in them
Every sprouting tree
Every child apiece
Every cloud and sea
You see with your eyes
I see destruction and demise
Corruption in disguise
From this stupid enterprise
Now I'm sucking to your lies
Through Russ, though not his muscles 
but the percussion he provides
with me as a guide
But y'all can't see me now
Cos you don't see with your eye
You perceive with your mind
That's the inner
So I'ma stick around with Russ and be a mentor
Bust a few rhymes so mother fuckers
Remember where the thought is
I brought all this
So you can survive when law is lawless
Feelings, sensations that you thought were dead
No squealing, remember
(that it's all in your head)

I ain't happy, I'm feeling glad
I got sunshine, in a bag
I'm useless, but not for long
The future is coming on
I ain't happy, I'm feeling glad
I got sunshine, in a bag
I'm useless, but not for long
My future is coming on
It's coming on
It's coming on
It's coming on
It's coming on
My future is coming on
It's coming on
It's coming on
It's coming on
My future is coming on
It's coming on
It's coming on
It's coming on
My future is coming on
It's coming on
It's coming on
It's coming on
My future is coming on
It's coming on
It's coming on
It's coming on
My future