"Policarpo era patriota. Desde moço, aí pelos vinte anos, o amor da
Pátria tomou-o todo inteiro. Não fora o amor comum, palrador e vazio;
fora um sentimento sério, grave e absorvente. Nada de ambições
políticas ou administrativas; o que Quaresma pensou, ou melhor:
o que o patriotismo o fez pensar, foi num conhecimento inteiro do
Brasil, levando-o a meditações sobre os seus recursos, para depois
então apontar os remédios, as medidas progressivas, com pleno
conhecimento de causa.
Não se sabia bem onde nascera, mas não fora decerto em São Paulo,
nem no Rio Grande do Sul, nem no Pará. Errava quem quisesse
encontrar nele qualquer regionalismo; Quaresma era antes de tudo
brasileiro. Não tinha predileção por esta ou aquela parte de seu
país, tanto assim que aquilo que o fazia vibrar de paixão não eram
só os pampas do Sul com o seu gado, não era o café de São Paulo, não
eram o ouro e os diamantes de Minas, não era a beleza da Guanabara,
não era a altura da Paulo Afonso, não era o estro de Gonçalves Dias
ou o ímpeto de Andrade Neves - era tudo isso junto, fundido,
reunido, sob a bandeira estrelada do Cruzeiro.
Logo aos dezoito anos quis fazer-se militar; mas a junta de saúde
julgou-o incapaz. Desgostou-se, sofreu, mas não maldisse a Pátria.
O ministério era liberal, ele se fez conservador e continuou mais do
que nunca a amar a “terra que o viu nascer”. Impossibilitado de
evoluir-se sob os dourados do exército, procurou a administração e
dos seus ramos escolheu o militar.
Era onde estava bem. No meio de soldados, de canhões, de veteranos,
de papelada inçada de quilos de pólvora, de nomes de fuzis e termos
técnicos de artilharia, aspirava diariamente aquele hálito de
guerra, de bravura, de vitória, de triunfo, que é bem o hálito da Pátria."
(Primeira Parte - A Lição de Violão)