"Uma vaga noção de tudo, e um conhecimento de nada."
Charles Dickens (1812 - 1870) - Escritor Inglês

domingo, 6 de maio de 2012

Sutilezas Literárias Sublimes # 009 - J.D. Salinger

" Não sei muito bem se a danada da Phoebe entendeu o que eu estava
dizendo. Ela é muito criança e tudo. Mas, pelo menos, estava escutando.
Se uma pessoa pelo menos presta atenção, aí não é tão ruim.
- Papai vai te matar. Vai te matar.
Mas eu nem estava ouvindo. Estava pensando noutro troço,
uma coisa amalucada.
- Você sabe o quê que eu quero ser? - perguntei a ela. - Sabe o que é
que eu queria ser? Se pudesse fazer a merda da escolha?
- O quê? Pára de dizer nome feio.
- Você conhece aquela cantiga: "
Se alguém agarra alguém
 atravessando o campo de centeio"? Eu queria...
- A cantiga é "
Se alguém encontra alguém atravessando o
campo de centeio"! - ela disse. - É dum poema do Robert Burns.
- Eu sei que é dum poema do Robert Burns.
Mas ela tinha razão. É mesmo "
Se alguém encontra alguém
 atravessando o campo de centeio". Mas eu não sabia direito.
- Pensei que era "Se alguém agarra alguém" - falei. - Seja lá como
 for, fico imaginando uma porção de garotinhos brincando de alguma
coisa num baita campo de centeio e tudo. Milhares de garotinhos, e
 ninguém por perto - quer dizer, ninguém grande - a não ser eu. E
eu fico na beirada de um precipício maluco. Sabe o quê que eu tenho
 de fazer? Tenho que agarrar todo mundo que vai cair no abismo.
Quer dizer, se um deles começar a correr sem olhar onde está indo,
eu tenho que aparecer de algum canto e agarrar o garoto. Só isso
que eu ia fazer o dia todo. Ia ser só o apanhador no campo de
centeio e tudo. Sei que é maluquice, mas é a única coisa que
eu queria fazer. Sei que é maluquice.
A danada da Phoebe ficou calada um tempão. Aí, quando resolveu
 falar, foi para dizer: - Papai vai te matar.
- Tou pouco ligando se ele me matar - respondi."

J.D. Salinger, em O Apanhador no Campo de Centeio. (Capítulo 22)

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