ave brava entre as traves
olhares rasgados
leme desatado
bate o goleiro os pés no chão
num impulso de voo
vibram as coxas seus músculos elásticos
rompem as chuteiras a parceria do solo
e no espaço a geometria dos traços
desenha a caligrafia dos braços
a resenha do corpo, seus cálculos
em direção ao voo, ao chute
luvas desatadas no azul
tocam a esfera-esfinge
(e a decifram na sua posse bacante)
rompem o risco atarefado da bola
o plano arriscado pelo atacante
o speaker tropeça nas palavras, nas surpresas
a torcida engasga o grito de gol
o marcador desativa sua numeração psicodélica
flash!
permanece o goleiro na foto
no itinerário amoroso
possuindo com fôlego a bola
homem-bola
estirado sobre a tarde amordaçada de domingo
até que sintam os torcedores o bocejo da noite
e calmamente se recolham
aliviada
a torcida abandona o estádio
Jorge Alberto Nabut
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