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"Uma vaga noção de tudo, e um conhecimento de nada."
Charles Dickens (1812 - 1870) - Escritor Inglês
Charles Dickens (1812 - 1870) - Escritor Inglês
terça-feira, 30 de junho de 2015
segunda-feira, 29 de junho de 2015
Centenário de Fundação do ABC
ABC F.C.
Cores: Preta e Branca
ABC Futebol Clube é uma associação esportiva brasileira. Foi fundada como clube de futebol por um grupo de jovens da elite potiguar no dia 29 de junho de 1915, no bairro da Ribeira, na cidade de Natal.
O ABC é a equipe brasileira com o maior número de títulos estaduais conquistados, são 52 ao todo. E além disso, é junto ao América Mineiro, o recordista de conquistas estaduais consecutivas, sendo dez vezes campeão entre os anos de 1932 e 1941. O historiador potiguar Luís da Câmara Cascudo chegou a criar uma frase antológica sobre o time:
" Numa cidade chamada Natal existe um povo chamado ABC. "
Atualmente disputa a Série B do Campeonato Brasileiro. Em 2014, o ABC ficou na 5.ª colocação da Copa do Brasil. A melhor colocação do ABC no Campeonato Brasileiro da Série A foi em 1972, com o 24.º lugar. Posição no Ranking da CBF: 23.ª
Escudo
Mascote
O mascote adotado pelo clube é o elefante que é uma homenagem
ao Rio Grande do Norte que tem o mapa no formato de um elefante.
ao Rio Grande do Norte que tem o mapa no formato de um elefante.
Uniformes
Estádio
Estádio Maria Lamas Farache, conhecido popularmente como Frasqueirão.
Títulos
- 52 Estaduais: 1920, 1921, 1923, 1925, 1926, 1928,
1929, 1932, 1933, 1934, 1935, 1936, 1937, 1938, 1939,
1940, 1941, 1944, 1945, 1947, 1950, 1953, 1954, 1955, 1958,
1959, 1960, 1961, 1962, 1965,1966, 1970, 1971, 1972, 1973,
1976, 1978, 1983, 1984, 1990, 1993, 1994, 1995, 1997,
1998,1999, 2000, 2005, 2007, 2008, 2010 e 2011.
- 1 Campeonato Brasileiro da Série C: 2010
- 3 Torneios Rio Grande do Norte - Pernambuco: 1955 - 1968 e 1970
- 7 Taças Cidade de Natal: 1971, 1978, 1983, 1984, 1990, 2010 e 2012
- 4 Copa RN: 2005 - 2008 - 2011 e 2015
1929, 1932, 1933, 1934, 1935, 1936, 1937, 1938, 1939,
1940, 1941, 1944, 1945, 1947, 1950, 1953, 1954, 1955, 1958,
1959, 1960, 1961, 1962, 1965,1966, 1970, 1971, 1972, 1973,
1976, 1978, 1983, 1984, 1990, 1993, 1994, 1995, 1997,
1998,1999, 2000, 2005, 2007, 2008, 2010 e 2011.
- 1 Campeonato Brasileiro da Série C: 2010
- 3 Torneios Rio Grande do Norte - Pernambuco: 1955 - 1968 e 1970
- 7 Taças Cidade de Natal: 1971, 1978, 1983, 1984, 1990, 2010 e 2012
- 4 Copa RN: 2005 - 2008 - 2011 e 2015
Hino Oficial
Autor: Claudomiro Batista de Oliveira
ABC clube do povo
Campeão das multidões
Serás sempre o mais querido
Pelos nossos corações
Eu me orgulho ser da terra potiguar
Quando vou para o gramado
Ver o ABC jogar
É bola pra aqui
É bola pra lá
A turma joga com classe
E com raça pra ganhar
O adversário fica no campo perdido Salve, o mais querido
Salve, o mais querido
Salve, o mais querido
Salve, o mais querido
Frase para a Semana
"A persistência é o
caminho do êxito."
Charles Chaplin
(Londres, 16 de abril de 1889 — Corsier-sur-Vevey 25 de dezembro de 1977)
Foi um ator, diretor, produtor, humorista, empresário, escritor,
comediante, dançarino, roteirista e músico britânico. Chaplin
foi um dos atores mais famosos da era do cinema mudo,
notabilizado pelo uso de mímica e da comédia pastelão.
domingo, 28 de junho de 2015
70 Anos do Nascimento de Raul Seixas
Raul Santos Seixas (Salvador, 28 de junho de 1945 — São Paulo, 21 de agosto de 1989) foi um cantor e compositor brasileiro, frequentemente considerado um dos pioneiros do rock brasileiro. Também foi produtor musical da CBS durante sua estada no Rio de Janeiro, e por vezes é chamado de "Pai do Rock Brasileiro" e "Maluco Beleza". Sua obra musical é composta por 17 discos lançados em seus 26 anos de carreira e seu estilo musical é tradicionalmente classificado como rock e baião, e de fato conseguiu unir ambos os gêneros em músicas como "Let Me Sing, Let Me Sing". Seu álbum de estreia, Raulzito e os Panteras(1968), foi produzido quando ele integrava o grupo Os Panteras, mas só ganhou notoriedade crítica e de público com as músicas de Krig-ha, Bandolo! (1973), como "Ouro de Tolo", "Mosca na Sopa", "Metamorfose Ambulante". Raul Seixas adquiriu um estilo musical que o creditou de "contestador e místico", e isso se deve aos ideais que vindicou, como a Sociedade Alternativa apresentada em Gita (1974), influenciado por figuras como o ocultista britânico Aleister Crowley.
Raul se interessava por filosofia (principalmente metafísica e ontologia), psicologia, história, literatura e latim e algumas crenças dessas correntes foram muito aproveitadas em sua obra, que possuía uma recepção boa ou de curiosidade por conta disso. Ele conseguiu gozar de uma audiência relativamente alta durante sua vida, e mesmo nos anos 80 continuou produzindo álbuns que venderam bem, como Uah-Bap-Lu-Bap-Lah-Béin-Bum! (1987) e A Panela do Diabo (1989), esse último em parceria com Marcelo Nova, e sua obra musical tem aumentado continuamente de tamanho, na medida em que seus discos (principalmente álbuns póstumos) continuam a ser vendidos, tornando-o um símbolo do rock do país e um dos artistas mais cultuados e queridos entre os fãs nos últimos quarenta anos. Em outubro de 2008, a revista Rolling Stone promoveu a Lista dos Cem Maiores Artistas da Música Brasileira, cujo resultado colocou Raul Seixas figurando a posição 19ª , encabeçando nomes como Milton Nascimento,Maria Bethânia, Heitor Villa-Lobos e outros. No ano anterior, a mesma revista promoveu a Lista dos Cem Maiores Discos da Música Brasileira, onde dois de seus álbuns apareceram Krig-ha, Bandolo! de 1973 atingiu a 12ª posição e Novo Aeon de 1975 ficou em 53º lugar, demonstrando que o vigor musical de Raul Seixas continua a ser considerado importante hoje em dia.
Raulzito faleceu no dia 21 de agosto. Ele foi encontrado morto sobre a cama, por volta das oito horas da manhã em seu apartamento em São Paulo, vítima de uma parada cardíaca: seu alcoolismo, agravado pelo fato de ser diabético, e por não ter tomado insulina na noite anterior, causaram-lhe uma pancreatite aguda fulminante.
Filmografia
1975 - Ritmo Alucinante (documentário)
1992 - Tanta Estrela Por Aí... (Curta-metragem de 19 minutos com Rita Lee)
2012 - Raul - O Início, o Fim e o Meio
Homenagens no teatro e televisão
1999 - Como Raul Já Dizia (espetáculo do grupo baiano de teatro "Os Argonautas")
1999 - Raul Fora da Lei (monólogo produzido por Roberto Bontempo que marcou
os dez anos de falecimento de Raul)
2005 - Raul Seixas, A Metamorfose Ambulante (musical de Plínio Seixas e
2005 - Raul Seixas, A Metamorfose Ambulante (musical de Plínio Seixas e
Deolindo Checcucci em homenagem aos sessenta anos de nascimento do músico)
2009 - Por Toda a Minha Vida (especial de fim de ano exibido pela Rede Globo de Televisão que marcou os vinte anos da morte de Raul)
2012 - Meu amigo Raul (espetáculo da Associação Cultural Teatro de Pano)
2009 - Por Toda a Minha Vida (especial de fim de ano exibido pela Rede Globo de Televisão que marcou os vinte anos da morte de Raul)
2012 - Meu amigo Raul (espetáculo da Associação Cultural Teatro de Pano)
sábado, 27 de junho de 2015
Trilha Sonora (197) - Zé Geraldo
Milho aos Pombos
Zé Geraldo
Enquanto esses comandantes loucos ficam por aí
Queimando pestanas
organizando suas batalhas
Os guerrilheiros nas alcovas
Preparando na surdina suas mortalhas
A cada conflito mais escombros
Isso tudo acontecendo
E eu aqui na praça
Dando milho aos pombos
(Bis...)
Entra ano, sai ano,
Cada vez fica mais difícil
O pão, o arroz, o feijão, o aluguel
Uma nova corrida do ouro
O homem comprando da sociedade o seu papel
Quando mais alto o cargo maior o rombo
Isso tudo acontecendo
E eu aqui na praça
Dando milho aos pombos
(Bis...)
Eu dando milho aos pombos
No frio desse chão
Eu sei tanto quanto eles
Se bater asas mais alto
Voam como gavião
Tiro ao homem tiro ao pombo
Quanto mais alto voam maior o tombo
Eu já nem sei o que mata mais
Se o trânsito, a fome ou a guerra
Se chega alguém querendo consertar
Vem logo a ordem de cima
Pega esse idiota e enterra
Todo mundo querendo descobrir
Seu ovo de Colombo
Isso tudo acontecendo
E eu aqui na praça
Dando milho aos pombos
(6 x)
sexta-feira, 26 de junho de 2015
Poesia a Qualquer Hora (200) - Carlos Drummond de Andrade
Eu, Etiqueta
Em minha calça está grudado um nome
que não é meu de batismo ou de cartório,
um nome... estranho.
Meu blusão traz lembrete de bebida
que jamais pus na boca, nesta vida.
Em minha camiseta, a marca de cigarro
que não fumo, até hoje não fumei.
Minhas meias falam de produto
que nunca experimentei
mas são comunicados a meus pés.
Meu tênis é proclama colorido
de alguma coisa não provada
por este provador de longa idade.
Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,
minha gravata e cinto e escova e pente,
meu copo, minha xícara,
minha toalha de banho e sabonete,
meu isso, meu aquilo,
desde a cabeça ao bico dos sapatos,
são mensagens,
letras falantes,
gritos visuais,
ordens de uso, abuso, reincidência,
costume, hábito, premência,
indispensabilidade,
e fazem de mim homem-anúncio itinerante,
escravo da matéria anunciada.
Estou, estou na moda.
É doce estar na moda, ainda que a moda
seja negar minha identidade,
trocá-la por mil, açambarcando
todas as marcas registradas,
todos os logotipos do mercado.
Com que inocência demito-me de ser
eu que antes era e me sabia
tão diverso de outros, tão mim-mesmo,
ser pensante, sentinte e solidário
com outros seres diversos e conscientes
de sua humana, invencível condição.
Agora sou anúncio,
ora vulgar ora bizarro,
em língua nacional ou em qualquer língua
(qualquer, principalmente).
E nisto me comprazo, tiro glória
de minha anulação.
Não sou - vê lá - anúncio contratado.
Eu é que mimosamente pago
para anunciar, para vender
em bares festas praias pérgulas piscinas,
e bem à vista exibo esta etiqueta
global no corpo que desiste
de ser veste e sandália de uma essência
tão viva, independente,
que moda ou suborno algum a compromete.
Onde terei jogado fora
meu gosto e capacidade de escolher,
minhas idiossincrasias tão pessoais,
tão minhas que no rosto se espelhavam,
e cada gesto, cada olhar,
cada vinco da roupa
resumia uma estética?
Hoje sou costurado, sou tecido,
sou gravado de forma universal,
saio da estamparia, não de casa,
da vitrina me tiram, recolocam,
objeto pulsante mas objeto
que se oferece como signo de outros
objetos estáticos, tarifados.
Por me ostentar assim, tão orgulhoso
de ser não eu, mas artigo industrial,
peço que meu nome retifiquem.
Já não me convém o título de homem.
Meu nome novo é coisa.
Eu sou a coisa, coisamente.
Carlos Drummond de Andrade
quinta-feira, 25 de junho de 2015
A Terceira Margem do Rio, de João Guimarães Rosa
A Terceira Margem do Rio
João Guimarães Rosa
"Nosso pai era homem cumpridor, ordeiro, positivo; e sido assim desde mocinho e menino, pelo que testemunharam as diversas sensatas pessoas, quando indaguei a informação. Do que eu mesmo me alembro, ele não figurava mais estúrdio nem mais triste do que os outros, conhecidos nossos. Só quieto. Nossa mãe era quem regia, e que ralhava no diário com a gente — minha irmã, meu irmão e eu. Mas se deu que, certo dia, nosso pai mandou fazer para si uma canoa.
Era a sério. Encomendou a canoa especial, de pau de vinhático, pequena, mal com a tabuinha da popa, como para caber justo o remador. Mas teve de ser toda fabricada, escolhida forte e arqueada em rijo, própria para dever durar na água por uns vinte ou trinta anos. Nossa mãe jurou muito contra a ideia. Seria que, ele, que nessas artes não vadiava, se ia propor agora para pescarias e caçadas? Nosso pai nada não dizia. Nossa casa, no tempo, ainda era mais próxima do rio, obra de nem quarto de légua: o rio por aí se estendendo grande, fundo, calado que sempre. Largo, de não se poder ver a forma da outra beira. E esquecer não posso, do dia em que a canoa ficou pronta.
Sem alegria nem cuidado, nosso pai encalcou o chapéu e decidiu um adeus para a gente. Nem falou outras palavras, não pegou matula e trouxa, não fez a alguma recomendação. Nossa mãe, a gente achou que ela ia esbravejar, mas persistiu somente alva de pálida, mascou o beiço e bramou: — "Cê vai, ocê fique, você nunca volte!" Nosso pai suspendeu a resposta. Espiou manso para mim, me acenando de vir também, por uns passos. Temi a ira de nossa mãe, mas obedeci, de vez de jeito. O rumo daquilo me animava, chega que um propósito perguntei: — "Pai, o senhor me leva junto, nessa sua canoa?" Ele só retornou o olhar em mim, e me botou a bênção, com gesto me mandando para trás. Fiz que vim, mas ainda virei, na grota do mato, para saber. Nosso pai entrou na canoa e desamarrou, pelo remar. E a canoa saiu se indo — a sombra dela por igual, feito um jacaré, comprida longa.
Nosso pai não voltou. Ele não tinha ido a nenhuma parte. Só executava a invenção de se permanecer naqueles espaços do rio, de meio a meio, sempre dentro da canoa, para dela não saltar, nunca mais. A estranheza dessa verdade deu para. estarrecer de todo a gente. Aquilo que não havia, acontecia. Os parentes, vizinhos e conhecidos nossos, se reuniram, tomaram juntamente conselho.
Nossa mãe, vergonhosa, se portou com muita cordura; por isso, todos pensaram de nosso pai a razão em que não queriam falar: doideira. Só uns achavam o entanto de poder também ser pagamento de promessa; ou que, nosso pai, quem sabe, por escrúpulo de estar com alguma feia doença, que seja, a lepra, se desertava para outra sina de existir, perto e longe de sua família dele. As vozes das notícias se dando pelas certas pessoas — passadores, moradores das beiras, até do afastado da outra banda — descrevendo que nosso pai nunca se surgia a tomar terra, em ponto nem canto, de dia nem de noite, da forma como cursava no rio, solto solitariamente. Então, pois, nossa mãe e os aparentados nossos, assentaram: que o mantimento que tivesse, ocultado na canoa, se gastava; e, ele, ou desembarcava e viajava s'embora, para jamais, o que ao menos se condizia mais correto, ou se arrependia, por uma vez, para casa.
No que num engano. Eu mesmo cumpria de trazer para ele, cada dia, um tanto de comida furtada: a idéia que senti, logo na primeira noite, quando o pessoal nosso experimentou de acender fogueiras em beirada do rio, enquanto que, no alumiado delas, se rezava e se chamava. Depois, no seguinte, apareci, com rapadura, broa de pão, cacho de bananas. Enxerguei nosso pai, no enfim de uma hora, tão custosa para sobrevir: só assim, ele no ao-longe, sentado no fundo da canoa, suspendida no liso do rio. Me viu, não remou para cá, não fez sinal. Mostrei o de comer, depositei num oco de pedra do barranco, a salvo de bicho mexer e a seco de chuva e orvalho. Isso, que fiz, e refiz, sempre, tempos a fora. Surpresa que mais tarde tive: que nossa mãe sabia desse meu encargo, só se encobrindo de não saber; ela mesma deixava, facilitado, sobra de coisas, para o meu conseguir. Nossa mãe muito não se demonstrava.
Mandou vir o tio nosso, irmão dela, para auxiliar na fazenda e nos negócios. Mandou vir o mestre, para nós, os meninos. Incumbiu ao padre que um dia se revestisse, em praia de margem, para esconjurar e clamar a nosso pai o 'dever de desistir da tristonha teima. De outra, por arranjo dela, para medo, vieram os dois soldados. Tudo o que não valeu de nada. Nosso pai passava ao largo, avistado ou diluso, cruzando na canoa, sem deixar ninguém se chegar à pega ou à fala. Mesmo quando foi, não faz muito, dos homens do jornal, que trouxeram a lancha e tencionavam tirar retrato dele, não venceram: nosso pai se desaparecia para a outra banda, aproava a canoa no brejão, de léguas, que há, por entre juncos e mato, e só ele conhecesse, a palmos, a escuridão, daquele.
A gente teve de se acostumar com aquilo. Às penas, que, com aquilo, a gente mesmo nunca se acostumou, em si, na verdade. Tiro por mim, que, no que queria, e no que não queria, só com nosso pai me achava: assunto que jogava para trás meus pensamentos. O severo que era, de não se entender, de maneira nenhuma, como ele aguentava. De dia e de noite, com sol ou aguaceiros, calor, sereno, e nas friagens terríveis de meio-do-ano, sem arrumo, só com o chapéu velho na cabeça, por todas as semanas, e meses, e os anos — sem fazer conta do se-ir do viver. Não pojava em nenhuma das duas beiras, nem nas ilhas e croas do rio, não pisou mais em chão nem capim. Por certo, ao menos, que, para dormir seu tanto, ele fizesse amarração da canoa, em alguma ponta-de-ilha, no esconso. Mas não armava um foguinho em praia, nem dispunha de sua luz feita, nunca mais riscou um fósforo. O que consumia de comer, era só um quase; mesmo do que a gente depositava, no entre as raízes da gameleira, ou na lapinha de pedra do barranco, ele recolhia pouco, nem o bastável. Não adoecia? E a constante força dos braços, para ter tento na canoa, resistido, mesmo na demasia das enchentes, no subimento, aí quando no lanço da correnteza enorme do rio tudo rola o perigoso, aqueles corpos de bichos mortos e paus-de-árvore descendo — de espanto de esbarro. E nunca falou mais palavra, com pessoa alguma. Nós, também, não falávamos mais nele. Só se pensava. Não, de nosso pai não se podia ter esquecimento; e, se, por um pouco, a gente fazia que esquecia, era só para se despertar de novo, de repente, com a memória, no passo de outros sobressaltos.
Minha irmã se casou; nossa mãe não quis festa. A gente imaginava nele, quando se comia uma comida mais gostosa; assim como, no gasalhado da noite, no desamparo dessas noites de muita chuva, fria, forte, nosso pai só com a mão e uma cabaça para ir esvaziando a canoa da água do temporal. Às vezes, algum conhecido nosso achava que eu ia ficando mais parecido com nosso pai. Mas eu sabia que ele agora virara cabeludo, barbudo, de unhas grandes, mal e magro, ficado preto de sol e dos pêlos, com o aspecto de bicho, conforme quase nu, mesmo dispondo das peças de roupas que a gente de tempos em tempos fornecia.
Nem queria saber de nós; não tinha afeto? Mas, por afeto mesmo, de respeito, sempre que às vezes me louvavam, por causa de algum meu bom procedimento, eu falava: — "Foi pai que um dia me ensinou a fazer assim..."; o que não era o certo, exato; mas, que era mentira por verdade. Sendo que, se ele não se lembrava mais, nem queria saber da gente, por que, então, não subia ou descia o rio, para outras paragens, longe, no não-encontrável? Só ele soubesse. Mas minha irmã teve menino, ela mesma entestou que queria mostrar para ele o neto. Viemos, todos, no barranco, foi num dia bonito, minha irmã de vestido branco, que tinha sido o do casamento, ela erguia nos braços a criancinha, o marido dela segurou, para defender os dois, o guarda-sol. A gente chamou, esperou. Nosso pai não apareceu. Minha irmã chorou, nós todos aí choramos, abraçados.
Minha irmã se mudou, com o marido, para longe daqui. Meu irmão resolveu e se foi, para uma cidade. Os tempos mudavam, no devagar depressa dos tempos. Nossa mãe terminou indo também, de uma vez, residir com minha irmã, ela estava envelhecida. Eu fiquei aqui, de resto. Eu nunca podia querer me casar. Eu permaneci, com as bagagens da vida. Nosso pai carecia de mim, eu sei — na vagação, no rio no ermo — sem dar razão de seu feito. Seja que, quando eu quis mesmo saber, e firme indaguei, me diz-que-disseram: que constava que nosso pai, alguma vez, tivesse revelado a explicação, ao homem que para ele aprontara a canoa. Mas, agora, esse homem já tinha morrido, ninguém soubesse, fizesse recordação, de nada mais. Só as falsas conversas, sem senso, como por ocasião, no começo, na vinda das primeiras cheias do rio, com chuvas que não estiavam, todos temeram o fim-do-mundo, diziam: que nosso pai fosse o avisado que nem Noé, que, por tanto, a canoa ele tinha antecipado; pois agora me entrelembro. Meu pai, eu não podia malsinar. E apontavam já em mim uns primeiros cabelos brancos.
Sou homem de tristes palavras. De que era que eu tinha tanta, tanta culpa? Se o meu pai, sempre fazendo ausência: e o rio-rio-rio, o rio — pondo perpétuo. Eu sofria já o começo de velhice — esta vida era só o demoramento. Eu mesmo tinha achaques, ânsias, cá de baixo, cansaços, perrenguice de reumatismo. E ele? Por quê? Devia de padecer demais. De tão idoso, não ia, mais dia menos dia, fraquejar do vigor, deixar que a canoa emborcasse, ou que bubuiasse sem pulso, na levada do rio, para se despenhar horas abaixo, em tororoma e no tombo da cachoeira, brava, com o fervimento e morte. Apertava o coração. Ele estava lá, sem a minha tranqüilidade. Sou o culpado do que nem sei, de dor em aberto, no meu foro. Soubesse — se as coisas fossem outras. E fui tomando ideia.
Sem fazer véspera. Sou doido? Não. Na nossa casa, a palavra doido não se falava, nunca mais se falou, os anos todos, não se condenava ninguém de doido. Ninguém é doido. Ou, então, todos. Só fiz, que fui lá. Com um lenço, para o aceno ser mais. Eu estava muito no meu sentido. Esperei. Ao por fim, ele apareceu, aí e lá, o vulto. Estava ali, sentado à popa. Estava ali, de grito. Chamei, umas quantas vezes. E falei, o que me urgia, jurado e declarado, tive que reforçar a voz: — "Pai, o senhor está velho, já fez o seu tanto... Agora, o senhor vem, não carece mais... O senhor vem, e eu, agora mesmo, quando que seja, a ambas vontades, eu tomo o seu lugar, do senhor, na canoa!..." E, assim dizendo, meu coração bateu no compasso do mais certo.
Ele me escutou. Ficou em pé. Manejou remo n'água, proava para cá, concordado. E eu tremi, profundo, de repente: porque, antes, ele tinha levantado o braço e feito um saudar de gesto — o primeiro, depois de tamanhos anos decorridos! E eu não podia... Por pavor, arrepiados os cabelos, corri, fugi, me tirei de lá, num procedimento desatinado. Porquanto que ele me pareceu vir: da parte de além. E estou pedindo, pedindo, pedindo um perdão.
Sofri o grave frio dos medos, adoeci. Sei que ninguém soube mais dele. Sou homem, depois desse falimento? Sou o que não foi, o que vai ficar calado. Sei que agora é tarde, e temo abreviar com a vida, nos rasos do mundo. Mas, então, ao menos, que, no artigo da morte, peguem em mim, e me depositem também numa canoinha de nada, nessa água que não pára, de longas beiras: e, eu, rio abaixo, rio a fora, rio a dentro — o rio."
Texto extraído do livro "Primeiras Estórias", Editora Nova Fronteira - 1988
(°> Via: Releituras >>>
quarta-feira, 24 de junho de 2015
Cena de Cinema # 180 - A Fantástica Fábrica de Chocolate
(A Fantástica Fábrica de Chocolate - 2005) +
Imagens da Vez: A Arte de M. C. Escher
Maurits Cornelis Escher, nasceu em Leeuwarden, em 17 de junho
de 1898 em Hilversum, em 27 de março de 1972. Escher foi um
artista gráfico holandês. Conhecido pelas suas xilogravuras, litografias
e meios-tons (mezzotints), que tendem a representar construções
impossíveis, preenchimento regular do plano, explorações do infinito
e as metamorfoses - padrões geométricos entrecruzados que se
transformam gradualmente para formas completamente diferentes.
Ele também era conhecido pela execução de transformações
geométricas (isometrias) nas suas obras.
(°> Fonte: Wikipédia >>> //// Veja Mais: Google Imagens >>>
terça-feira, 23 de junho de 2015
segunda-feira, 22 de junho de 2015
Frase para a Semana
" É inútil obter por piedade
aquilo que desejamos
por amor. "
Victor Hugo
(Besançon, 26 de fevereiro de 1802 - Paris, 22 de maio de 1885)
Foi um novelista, poeta, dramaturgo, ensaísta, e ativista pelos
direitos humanos francês de grande atuação política em seu país.
É autor de O Corcunda de Notre-Dame e Os Miseráveis.
Foi um novelista, poeta, dramaturgo, ensaísta, e ativista pelos
direitos humanos francês de grande atuação política em seu país.
É autor de O Corcunda de Notre-Dame e Os Miseráveis.
domingo, 21 de junho de 2015
20 anos do 1º Título do Corinthians na Copa do Brasil
A Copa do Brasil de 1995 foi a sétima edição. Ela foi disputada entre
14 de Fevereiro e 21 de junho. O Corinthians, foi o Campeão Invicto,
vencendo na final o Grêmio. Este foi o primeiro dos 3 títulos
corintianos na Copa do Brasil (1995, 2002 e 2009).
FICHA TÉCNICA
CORINTHIANS: Ronaldo, André Santos (Vítor), Célio Silva,
Henrique e Silvinho; Zé Elias, Bernardo, Marcelinho e Souza;
Viola e Marques (Tupãzinho).
Téc.: Eduardo Amorim
GRÊMIO: Danrlei, Arce,Adílson, Rivarola e Carlos Miguel;
Dinho (Alexandre), Gélson, Luíz Carlos Goiano e Arílson;
Paulo Nunes e Jardel.
Téc.: Luis Felipe Scolari
Local: Estádio Olímpico - Porto Alegre (RS)
Data: 21/06/1995
Árbitro: Márcio Rezende de Freitas (MG)
Público: 47.352
Renda: R$ 740.415,00
sábado, 20 de junho de 2015
Sérvia é a Campeã do Campeonato Mundial Sub-20 de 2015
Os sérvios bateram neste sábado (20/06) os brasileiros por 2x1, na
prorrogação e conquistaram o título do Mundial Sub-20. É o quarto
vice campeonato do Brasil que possui 5 títulos na categoria,
1 a menos que a Argentina, maior vencedora.
prorrogação e conquistaram o título do Mundial Sub-20. É o quarto
vice campeonato do Brasil que possui 5 títulos na categoria,
1 a menos que a Argentina, maior vencedora.
<<< Tabela à partir das Oitavas de final >>>
(°> Tabela Completa do Mundial Sub-20 Nova Zelândia 2015 >>>
(°> Tabela Completa do Mundial Sub-20 Nova Zelândia 2015 >>>
Trilha Sonora (196) - Emílio Santiago
Verdade Chinesa
Emílio Santiago
Compositores: Gilson e Carlos Colla
Era só isso
Que eu queria da vida
Uma cerveja
Uma ilusão atrevida
Que me dissesse
Uma verdade chinesa
Com uma intenção
De um beijo doce na boca...
A tarde cai
Noite levanta a magia
Quem sabe a gente
Vai se ver outro dia
Quem sabe o sonho
Vai ficar na conversa
Quem sabe até a vida
Pague essa promessa...
Muita coisa a gente faz
Seguindo o caminho
Que o mundo traçou
Seguindo a cartilha
Que alguém ensinou
Seguindo a receita
Da vida normal...
Mas o que é
Vida afinal?
Será que é fazer
O que o mestre mandou?
É comer o pão
Que o diabo amassou?
Perdendo da vida
O que tem de melhor...
Senta, se acomoda
À vontade, tá em casa
Toma um copo, dá um tempo
Que a tristeza vai passar
Deixa, prá amanhã
Tem muito tempo
O que vale
É o sentimento
E o amor que a gente
Tem no coração...
(Repetir a letra)
Senta, se acomoda
À vontade, tá em casa
Toma um copo, dá um tempo
Que a tristeza vai passar...
Deixa, prá amanhã
Tem muito tempo
O que vale
É o sentimento
E o amor que a gente
Tem no coração... (2x)
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