Gabriel García Márquez
135 Páginas
Editora Record
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RELATO DE NÁUFRAGO,
que esteve dez dias à deriva numa balsa, sem comer nem beber, que foi
proclamado herói da pátria, beijado pelas rainhas de beleza, enriquecido pela
publicidade e logo abandonado pelo governo e esquecido para sempre.
Gabriel Garcia Márquez nos traz a história verídica de Luís
Alexandre Velasco, marinheiro colombiano que sobreviveu a um naufrágio no Mar
do Caribe em 1955. O dia era 28 de Fevereiro, o destroier da marinha colombiana partiu de Mobile, nos EUA em direção
a Cartagena de Las Indias, na Colômbia, cheio de mercadorias contrabandeadas.
Mas 2 horas antes da chegada, uma tormenta com grandes ondas atingem o convés
do navio, levando 8 marinheiros e parte da mercadoria ao mar.
O destroier não
volta pra socorrê-los, e apenas Velasco consegue alcançar uma pequena balsa
(espécie de bote) para sua salvação. Ele fica 10 dias à deriva nesta balsa, sem
beber e nem comer, depois deste período ele chega a uma vila no norte da
Colômbia, semimorto, e os nativos do local, o ajudam e o levam a um hospital sem
saber quem ele era, as pessoas nesta cidade pouco sabiam do ocorrido.
Na época imperava a
ditadura militar do General Gustavo Rojas Pinilla, e esse governo não revelou
realmente o que aconteceu, não falaram do contrabando de mercadorias, apenas
disseram que se tratava de uma tormenta e proibiram qualquer um de falar com
Velasco. A imprensa era censurada, obviamente.
Depois Velasco, espontaneamente, procurou a redação do diário
El Espectador de Bogotá, e relata o
verdadeiro ocorrido para o então jornalista Gabriel Garcáa Márquez. A história dividida em episódios foi publicada em 14 dias consecutivos pelo
jornal, um mês depois do ocorrido. Em 1970 o livro é publicado, com a narrativa
em 1ª pessoa, que capta e transmite toda a aflição e angústia do marinheiro,
que viu sete de seus companheiros morrerem e passou 10 dias à deriva no mar.
“O país foi tomado de
grande alvoroço que custou a glória e a carreira do náufrago e valeu um exílio
para o repórter.” - G.G. Márquez
Realmente aflitivo e sufocante. Muito bom livro.
Trechos:
“Minha primeira surpresa foi que aquele moço de 20 anos,
sólido, mais com cara de trompetista que de herói da pátria, tinha um instinto
excepcional da arte de narrar, uma capacidade de síntese e uma memória assombrosas,
e bastante dignidade natural para sorrir do próprio heroísmo.” – pág.: 5
“No começo me pareceu impossível permanecer três horas
sozinho no mar. Mas as cinco, quando já se tinham passado cinco horas, achei
que ainda podia esperar uma hora mais. O sol estava descendo. Ficou vermelho e
grande no ocaso, e então comecei a me orientar. Sabia agora por onde
apareceriam os aviões: pus o sol à minha esquerda e olhei em linha reta, sem me
mexer, sem desviar a vista um só instante, sem me atrever a piscar, na direção
em que devia estar Cartagena, segundo minha orientação. As seis, doíam meus
olhos. Continuava, porém, olhando. Inclusive depois que começou a escurecer,
continuei olhando com uma paciência firme e rebelde. Sabia então que não veria
os aviões, mas veria as luzes verdes e vermelhas, avançando até mim, antes de
ouvir os ruídos dos seus motores.” – pág.: 41
“Uma alegria construída em 12 horas desapareceu num minuto,
sem deixar rastros. Minhas forças desabaram. Desisti de todas as minhas
preocupações. Pela primeira vez em nove dias me deitei de bruços, com as costas
abrasadas expostas ao sol. Fiz isso sem piedade do meu corpo. Sabia que, se
permanecesse assim, antes do anoitecer teria me asfixiado. Há um instante em
que não se sente mais dor. A sensibilidade desparece e a razão começa a se
embotar até que se perde a noção de tempo e espaço. De bruços na balsa, com os
braços apoiados na borda e a barba nos braços, senti, no começo as impiedosas
picadas do sol. Vi o ar povoado de pontas luminosas, durante várias horas.
Finalmente fechei os olhos, extenuado, mas então o sol já não me ardia o corpo.
Não sentia nem sede nem fome. Não sentia nada, a não ser uma indiferença total
pela vida e pela morte. Pensei que estava morrendo. E essa ideia me encheu de
uma estranha e obscura esperança.” –
pág.: 96
O autor:
Gabriel Garcia Márquez foi um escritor, jornalista e editor colombiano.
Nasceu em Aracataca em 6 de março de 1927 e faleceu em 17 de Abril do ano passado,
na Cidade do México. Márquez Recebeu o Nobel de Literatura em 1982 pelo
conjunto de sua obra, que entre outros livros inclui o aclamado “Cem Anos de
Solidão”. Fica a dica!
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