"Uma vaga noção de tudo, e um conhecimento de nada."
Charles Dickens (1812 - 1870) - Escritor Inglês

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Recomendo a Leitura: Relato de um Náufrago

Relato de um Náufrago

Gabriel García Márquez

135 Páginas
Editora Record


RELATO DE NÁUFRAGO, que esteve dez dias à deriva numa balsa, sem comer nem beber, que foi proclamado herói da pátria, beijado pelas rainhas de beleza, enriquecido pela publicidade e logo abandonado pelo governo e esquecido para sempre.



Gabriel Garcia Márquez nos traz a história verídica de Luís Alexandre Velasco, marinheiro colombiano que sobreviveu a um naufrágio no Mar do Caribe em 1955. O dia era 28 de Fevereiro, o destroier da marinha colombiana partiu de Mobile, nos EUA em direção a Cartagena de Las Indias, na Colômbia, cheio de mercadorias contrabandeadas. Mas 2 horas antes da chegada, uma tormenta com grandes ondas atingem o convés do navio, levando 8 marinheiros e parte da mercadoria ao mar.
O destroier não volta pra socorrê-los, e apenas Velasco consegue alcançar uma pequena balsa (espécie de bote) para sua salvação. Ele fica 10 dias à deriva nesta balsa, sem beber e nem comer, depois deste período ele chega a uma vila no norte da Colômbia, semimorto, e os nativos do local, o ajudam e o levam a um hospital sem saber quem ele era, as pessoas nesta cidade pouco sabiam do ocorrido.
Na época imperava a ditadura militar do General Gustavo Rojas Pinilla, e esse governo não revelou realmente o que aconteceu, não falaram do contrabando de mercadorias, apenas disseram que se tratava de uma tormenta e proibiram qualquer um de falar com Velasco. A imprensa era censurada, obviamente. 
Depois Velasco, espontaneamente, procurou a redação do diário El Espectador de Bogotá, e relata o verdadeiro ocorrido para o então jornalista Gabriel Garcáa Márquez. A história dividida em episódios foi publicada em 14 dias consecutivos pelo jornal, um mês depois do ocorrido. Em 1970 o livro é publicado, com a narrativa em 1ª pessoa, que capta e transmite toda a aflição e angústia do marinheiro, que viu sete de seus companheiros morrerem e passou 10 dias à deriva no mar.  

O país foi tomado de grande alvoroço que custou a glória e a carreira do náufrago e valeu um exílio para o repórter.” - G.G. Márquez

Realmente aflitivo e sufocante. Muito bom livro.

Trechos:
“Minha primeira surpresa foi que aquele moço de 20 anos, sólido, mais com cara de trompetista que de herói da pátria, tinha um instinto excepcional da arte de narrar, uma capacidade de síntese e uma memória assombrosas, e bastante dignidade natural para sorrir do próprio heroísmo.”  – pág.: 5

“No começo me pareceu impossível permanecer três horas sozinho no mar. Mas as cinco, quando já se tinham passado cinco horas, achei que ainda podia esperar uma hora mais. O sol estava descendo. Ficou vermelho e grande no ocaso, e então comecei a me orientar. Sabia agora por onde apareceriam os aviões: pus o sol à minha esquerda e olhei em linha reta, sem me mexer, sem desviar a vista um só instante, sem me atrever a piscar, na direção em que devia estar Cartagena, segundo minha orientação. As seis, doíam meus olhos. Continuava, porém, olhando. Inclusive depois que começou a escurecer, continuei olhando com uma paciência firme e rebelde. Sabia então que não veria os aviões, mas veria as luzes verdes e vermelhas, avançando até mim, antes de ouvir os ruídos dos seus motores.” – pág.: 41

“Uma alegria construída em 12 horas desapareceu num minuto, sem deixar rastros. Minhas forças desabaram. Desisti de todas as minhas preocupações. Pela primeira vez em nove dias me deitei de bruços, com as costas abrasadas expostas ao sol. Fiz isso sem piedade do meu corpo. Sabia que, se permanecesse assim, antes do anoitecer teria me asfixiado. Há um instante em que não se sente mais dor. A sensibilidade desparece e a razão começa a se embotar até que se perde a noção de tempo e espaço. De bruços na balsa, com os braços apoiados na borda e a barba nos braços, senti, no começo as impiedosas picadas do sol. Vi o ar povoado de pontas luminosas, durante várias horas. Finalmente fechei os olhos, extenuado, mas então o sol já não me ardia o corpo. Não sentia nem sede nem fome. Não sentia nada, a não ser uma indiferença total pela vida e pela morte. Pensei que estava morrendo. E essa ideia me encheu de uma estranha e obscura esperança.”  – pág.: 96

O autor:
Gabriel Garcia Márquez foi  um escritor, jornalista e editor colombiano. Nasceu em Aracataca em 6 de março de 1927 e faleceu em 17 de Abril do ano passado, na Cidade do México. Márquez Recebeu o Nobel de Literatura em 1982 pelo conjunto de sua obra, que entre outros livros inclui o aclamado “Cem Anos de Solidão”

Fica a dica!

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