"Uma vaga noção de tudo, e um conhecimento de nada."
Charles Dickens (1812 - 1870) - Escritor Inglês

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Poesia a Qualquer Hora (227) - Antônio Miranda

O País do / de Futuro

“O hábito nacional de deixar tudo para o dia seguinte”. 
MÁRIO DE ANDRADE. 

Eterna nação do futuro! 

Sem noção da própria história 
talvez por falta de memória. 

É que estamos ligados à terra 
e a terra é sempre o cotidiano 
em renovação 
com tudo que ela encerra: 
(uma questão de meridiano) 
luz, (in)salubridade, brotação 
- nascer e renascer a cada ano 
mas, por opção 
preferimos o pôr-do-sol 
aos arrebóis. 

Seres diurnos 
mas de hábitos noturnos 
sob os lençóis da madrugada 
amancebada. 

Stephan Zweig a falar de futuro! 

E com toda razão... 
não cultuamos heróis: 
vivemos de premonição 
enquanto os fatos históricos 
viram meras efemérides 
— que eufemismo!!! 
são datas oficiais 
— nunca pessoais, entranhadas. 

Nada sabemos da Independência 
e de sua conseqüência 
e a tal da Abolição da Escravatura 
ficou mesmo na assinatura. 

Em quem votamos 
nas últimas eleições 
(sem melhores opções)? 

Indiferentes a qualquer governo 
- em que nunca confiamos 
nem creditamos esperanças – 
pois não acreditamos em políticos. 

Entre nós, o caudilhismo 
fracassou 
enquanto prosperou nas vizinhanças. 

Sobreviveu ao coronelismo 
do voto de cabresto, 
pois votamos de arresto 
compulsória e obrigatoriamente. 

“Este futuro é sermos tudo” 
vaticinou Fernando Pessoa. 

O futuro é termos tudo 
que o passado nos l(n)egou.

Antônio Miranda

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