Li estes 3 livros, neste 2.° bimestre de 2019. São 3 biografias musicais. Eis: “Infinita Highway – Uma Carona com os Engenheiros do Hawaii” de Alexandre Lucchese.” Discobiografia Legionária” de Chris Fuscaldo e “Nenhum de Nós – A Obra Inteira de uma Vida” de Marcelo Ferla, todos publicados em 2016.
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Uma Carona Com
Os Engenheiros do
Hawaii
Alexandre Lucchese
2016 - 328 Páginas
Editora Belas Letras
“Era pra ter durado uma noite só. Era pra ter sido somente uma banda de abertura. Era pra ter outro nome. Não era pra ser um trio. Eram várias variáveis. Graças a essa sucessão de fatos estranhos, quando não ter plano é o melhor plano, nasceu uma das maiores bandas do rock brasileiro: Engenheiros do Hawaii” (Texto da contracapa do livro “Infinita Highway”)
O livro tem um excelente projeto gráfico, possui algumas dezenas de fotos, ensaios e histórias dos bastidores de uma das melhores bandas do Brasil... “uma história cheia de lances improváveis que o jornalista Alexandre Luchese conta nesta biografia, depois de ter entrevistado mais de uma centena de pessoas ligadas à banda, inclusive Humberto Gessinger, Carlos Maltz e Augusto Licks, o trio responsável pela fase de maior sucesso, que acabou se desfazendo anos mais tarde em meio a brigas e processos judiciais. Embarque na infinita highway para ver como nada do que foi planejado para a viagem deu certo, mas, nesse caso, ter dado tudo errado não poderia ter sido o mais certo.”
Lucchese traz relatos de pessoas e profissionais que fizeram parte do universo do grupo, assim como os familiares, e claro, dos próprios integrantes: Gessinger, Maltz e Licks. Muito bom livro, pegue esta carona e viaje pelas belas e emocionantes histórias que envolveram a banda gaúcha. Os capítulos do livro são nomeados por trechos da canção homônima que dá o título ao livro, e que foi um dos grandes sucessos da carreira dos Engenheiros. Super recomendo. Muito bom livro.
Trechos:
-“Apesar da preferência de Gessinger por Frumelo & Os 7 Belos, o nome mais aceito foi o também jocoso Engenheiros do Hawaii, uma provocativa alusão aos estudantes de Engenharia que iam ao bar da Arquitetura azarar as garotas dali. A ida era mais do que justificável, uma vez que os cursos de Engenharia tradicionalmente recebiam muito menos mulheres do que homens em seu corpo discente. A letra de Engenheiros do Hawaii, a Canção, que esteve no repertório do primeiro show, demonstrava o baixo prestígio que os alunos “intrusos” gozavam diante de Gessinger e sua turma. “Eles odeiam Albert Camus / Eles só querem ler gibi” eram alguns dos depreciativos versos da canção, que ainda qualificava os rapazes de “Beach Boys de Tramandaí”, ou seja, jovens que queriam se vestir e agir como surfistas americanos em uma praia de terceiro mundo com ondas baixas e sem qualquer glamour.” – p. 28
-“Não houve um momento em que parei para pensar e decidi que não seria mais um estudante, mas um músico. Simplesmente me dei conta em algum momento que eu estava aparecendo na aula só para pedir favor aos professores, então me dei conta que já não era mais um estudante de Arquitetura. Não lembro nem se tranquei ou abandonei a faculdade – afirma Gessinger. A família, acostumada com o caráter obstinado do rapaz que estava se revelando músico, parece não ter estranhado.
– Em momento algum me preocupei – afirma Casilda, sobre o filho Humberto Gessinger. – Sabia que era a escolha dele, que ele tinha um bom potencial em escrever, que ele não estava se lançando como um cantor, mas como um compositor que leva às pessoas suas letras e música, o que me dava uma tranquilidade muito grande. E lá ia dona Casilda levar os sanduíches para o filho carregar em suas perambulações pelo Rio Grande do Sul, quando este esperava o ônibus que o apanhava em uma esquina a alguns metros de casa.” – pp. 124 e 125
-“No Rio, Jamari França cobriu o festival pelo Jornal do Brasil, no qual classificou o show dos Engenheiros como “o melhor concerto da noite de encerramento”. Além da intensa participação do público, algumas surpresas da banda chamaram a atenção. Em um momento de provocação e autoironia em relação ao festival, bancado pela empresa de tabaco Hollywood, Gessinger mudou um verso de Terra de Gigantes para “a juventude são várias bandas em uma propaganda de cigarros”. Além disso, um importante carro-chefe de O papa é pop deu as caras, meses antes das gravações do disco começarem. Era um garoto que como eu amava os Beatles e os Rolling Stones levantou o público. França lamentou que o hit do italiano Gianni Morandi, composto por Mauro Lusini e Franco Migliacci e gravado no Brasil em 1968 por Os Incríveis, ainda não tivesse sido registrado pelo trio: “É uma pena que os Engenheiros não tenham sacado essa para o disco ao vivo”, escreveu. Durante a canção, Augustinho Licks fazia referência a diferentes hinos, tais como Hino Nacional e o Hino da Independência, mas foi o jingle da campanha eleitoral de Lula que uniu a massa. Gessinger nem precisou cantar: bastou o guitarrista tocar as primeiras notas da inconfundível melodia para todo mundo bradar junto “Olê olê olê olá, Lula Lula”. No mês anterior, o candidato petista havia perdido no segundo turno as eleições presidenciais para Fernando Collor, em uma das disputas presidenciais mais acirradas e polêmicas do Brasil. Apesar do apoio dos Engenheiros a Leonel Brizola no primeiro turno, havia franca simpatia com o PT em entrevistas, não restando dúvida de que o “caçador de marajás” não era nem de longe uma opção para o grupo. O papa é pop deve muito a Leonel Brizola, e não apenas por ter cedido ao grupo a icônica foto do papa João Paulo II tomando chimarrão, que aparece na capa e na contracapa do álbum. Embora sem querer, o líder pedetista foi também o responsável pela inclusão de Era um garoto… nos shows do grupo e, consequentemente, no disco. Brizola trazia consigo a ideia do socialismo moreno, que apontava para a reafirmação de valores nacionais próprios, independente de modelos pré-concebidos em Moscou ou em Nova York. Era um ideal que seduziu o grupo gaúcho, que acabou tocando de graça para o candidato em três comícios. O apoio foi uma atitude mais poética e ideológica do que pragmática, pois, no fundo, os músicos sentiam que o homem que liderou a Campanha da Legalidade de 1961 não tinha grandes chances. Se restava alguma dúvida em relação a isso, bastou participar de um comício para perceber que era praticamente impossível competir com o candidato hegemônico: enquanto Collor tinha um palco de ponta, Brizola discursava em estruturas mambembes, com uma organização precária. Em uma das apresentações, o gaúcho tentou imitar a entrada triunfal do ex-governador de Alagoas em seus comícios, e subir ao palco pela frente, depois de atravessar todo o público. Ficava bonito o candidato ser alçado do meio dos seus eleitores para o alto do palanque. Mas precisava ser feito do jeito certo.
Não foi o que ocorreu com Brizola. Sem equipe e estrutura que permitissem uma caminhada organizada e rápida pela plateia, o político se embrenhou pelo meio da multidão de admiradores, que lhe pedia abraços, apertos de mãos, fotos com crianças, e não o deixava avançar sequer um palmo. Enquanto isso, no palco, os Engenheiros espichavam seu show a pedido da aflita organização. Humberto Gessinger, já sem saber mais o que tocar para entreter o público em meio ao atraso da estrela da noite, de repente viu algo ser atirado pelo público e quicar no improvisado tablado em que cantava. Ao chegar mais perto do vulto arremessado, percebeu que gemia. Era o próprio Brizola, depois de ser cumprimentado e amassado pelos eleitores.
Foi justamente em um desses atrasos do candidato, em Betim (MG), que os Engenheiros do Hawaii tocaram pela primeira vez Era um garoto… A canção havia feito parte da infância de Gessinger, sendo a responsável pela família dar a ele um violão aos seis anos. Era também uma das únicas músicas que não havia composto e sabia tocar inteira. Com seu repertório absolutamente esgotado, mas com a equipe de Brizola insistindo para que a banda permanecesse no palco enquanto o candidato não chegava, o líder do grupo acabou puxando a composição que conheceu por meio d’Os Incríveis. Era o começo de um dos maiores hits dos anos 1990.” – pp. 239 a 241
O autor:
Alexandre Lucchese é jornalista, responsável pela cobertura de livros no jornal Zero Hora, para o qual também já produziu reportagens especiais sobre a banda Engenheiros do Hawaii e o álbum Rock Grande do Sul. Natural de Realeza (PR), nasceu em 17 de julho de 1982 e vive em Porto Alegre (RS) desde 2001.
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Discobiografia Legionária
Chris Fuscaldo
216 páginas – 2016
Editora: LeYa
Sobre esta biografia, ou melhor, discobiografia, sou suspeito de falar, pois se trata de minha banda preferida. O livro traz as histórias que envolvem cada produção dos discos da Legião, incluindo os discos de Estúdio, os Ao Vivo e as Coletâneas e inclusive os discos Solos de Renato Russo, o líder e vocalista da Legião Urbana. Com um belo projeto gráfico, o livro conta os pormenores de todas as gravações destes discos e no fim de cada capítulo, os títulos, autores e a duração de cada canção que compõe cada disco. Um belo trabalho de pesquisa e apuração. Chris Fuscaldo escreveu os textos dos encartes para a gravadora EMI em 2010 para o relançamento em CD da discografia completa da banda brasiliense. Agora, Chris entrevistou músicos, produtores, arranjadores e compositores para compor este belo livro, traçando os comportamentos artísticos e as curiosidades dos envolvidos em cada produção legionária.
“Chris Fuscaldo coleta histórias curiosas. Como o episódio em que o produtor do primeiro álbum, José Emilio Rondeau, só topou trabalhar quando Renato Russo e Marcelo Bonfá imploraram, debaixo de chuva, para ele esquecer uma briga feia que ocorreu no estúdio pouco antes. Conta ainda os problemas de inspiração que Renato Russo sofria no segundo disco, fazendo a gravação demorar muito mais do que o esperado. Ou ainda a técnica de Mayrton Bahia, o produtor que mais trabalhou com a banda e um mestre em cortar e colar com lâmina de barbear as fitas na edição das músicas. A intimidade dos músicos, as brigas e confusões e ainda as amizades seladas ao longo da trajetória da Legião também estão presentes no livro”.
Se você é fã da Legião Urbana, este livro não pode faltar em sua estante...!!!
“Que as novas histórias sejam um presente para os fãs e para devoradores de biografias musicais”, afirma Chris Fuscaldo. “Que elas complementem tudo o que já foi dito e escrito sobre a Legião Urbana. E que satisfaçam o desejo de Renato Russo, se consagrando como mais um documento de resgate da memória e de celebração da história da música brasileira” .
Trechos:
- “ ‘Dado Viciado’ é uma composição do início da carreira da Legião Urbana. Fala sobre um cara que se transformou depois de tanta heroína. Com medo de que o protagonista fosse confundido com o guitarrista da banda, a música acabou de fora dos primeiros discos. Mas entrou no repertório de ‘Uma Outra Estação’ ”. - p. 103
-“ A turnê de As Quatro Estações foi a maior da história da Legião Urbana, com mais de vinte apresentações, muitos seguidores espalhados pelas plateias de diversas cidades brasileiras e boa recepção da critica. Alguns desses shows, mais especificamente os de São Paulo (no Palestra Itália) e Belo horizonte (no Mineirinho), ambos em agosto de 1990, tiveram seu áudio registrado direto da mesa de som, em 24 canais, uma tecnologia nova e incomum para a época, que garantiu a qualidade do disco. Recuperadas pela pesquisa de Marcelo Fróes, catorze anos depois essas gravações se transformaram no terceiro disco ao vivo da Legião Urbana, o CD duplo As Quatro Estações ao Vivo. – p. 142
A autora
Chris Fuscaldo é formada em jornalismo pela UniverCidade e em letras pela UFF. Mestra e doutoranda em Letras: Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela PUC-Rio, atua como jornalista especializada em música desde 1999. Trabalhou e colaborou como repórter e editora nosjornais (e seus respectivos sites) Extra e O Globo, na revista Rolling Stone e em diversos outros veículos.
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Nenhum de Nós –
A Obra Inteira de uma Vida
Marcelo Ferla
270 Páginas – 2016
Editora: Belas Letras
Acho que era outubro de 86. Ali começava uma história que continua até hoje. E só parece melhorar. Uma história sobre três garotos sem os braços tatuados, nerds e amigos de colégio, que amavam música, sonhavam em formar uma banda de rock e subiam em um palco juntos pela primeira vez. Um líder nato de voz potente, um gordinho simpático e um magrão que lembrava personagem de novela. Os três tinham muito em comum: nenhum de nós enxerga bem; nenhum de nós serviu no quartel; nenhum de nós repetiu na escola. Logo o trio virou o clube dos cinco, superou algumas dificuldades, atravessou o escuro deserto do céu, e hoje, comemorando 30 anos, soma mais de 2 mil shows e fãs por todo o Brasil. O jornalista Marcelo Ferla conta aqui A obra inteira de uma vida, a história do Nenhum de Nós, de três amigos de escola, que conseguiram levar bem longe o sonho de tocar em uma banda de rock. [Texto da contracapa do livro]
‘O tempo passa e nem tudo fica
A obra inteira de uma vida
O que se move e
O que nunca vai se mover...’
O jornalista Marcelo Ferla traz nesta biografia da banda gaúcha Nenhum de Nós, celebrando seus 30 anos de estrada, histórias da banda, dos primeiros shows, das gravações dos álbuns, das parcerias, da formação da banda, curiosidades sobre os hits como Camila Camila, O Astronauta de Mármore e People Are, as misturas do rock com músicas regionais, até as histórias mais recentes. O livro se divide em 13 capítulos que são intitulados com nomes de filmes, tais como: ‘Conta comigo, ‘O Clube dos Cinco’, ‘Dança com Lobos’, ‘De volta para o Futuro’... e traz também um encarte com fotos no final do livro. Uma obra bem caprichada no visual e no conteúdo. Um presente para os fãs. Muito bom livro.
Trechos:
_” Um ano depois , David Bowie subiu ao palco da casa de espetáculos Olympia em São Paulo, abriu o show com ‘Life on Mars’, emendou ‘Space Odity’ e apenas depois da segunda música , dirigiu-se a plateia. Disse feliz ‘estar aqui’ em português e, de volta ao vetusto sotaque britânico, agradeceu aos presentes que tinha ganhado dos brasileiros. Antes dos primeiros acordes de ‘Starman’, ele anunciou:
- Esta é a música que vocês conhecem em português.” – p. 37
- “Em 1985, o sonho de verão dos estudantes universitários Thedy, Carlão e Sady era comprar uma passagem para assistir o Rock in Rio , mas somente Sady pode ir ao festival. Seis anos depois, o trio de amigos de escola que tinha formado uma banda, lançado três discos e colocado duas músicas no topo da parada de sucesso , finalmente concretizava o sonho dos tempos de faculdade. Obviamente nenhum deles tinha inventado uma máquina do tempo que os levasse de volta para 1985 – aliás ano em que foi lançado o filme ‘De Volta para o Futuro’. O fato novo era a segunda edição do festival, marcada para começar no dia 18 e terminar no dia 27 de janeiro de 1991. Por outro lado eles não foram ao estádio do Maracanã apenas para assistir os grandes roqueiros da época. O Nenhum de Nós estava escalado para se apresentar no Rock in Rio 2.” – p. 158
O autor:
Marcelo Ferla é jornalista e radialista. Colabora e/ou colaborou para os jornais Folha de S. Paulo e Zero Hora, e para as revistas Rolling Stone, GQ, Criativa, Trip, Bizz, Quem, Superinteressante, National Geographic, entre outras. Foi gerente artístico das rádios Oi FM e Ipanema FM; editor de Repertório da revista Única (ed. Globo); editor-chefe das revistas Frente e DJ World; editor de música do jornal Zero Hora; divulgador da gravadora Warner Music.
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