A pá
Não, a palavra não é metafórica
Quando é forte para plantar os ossos
E colher o perdão dos entes nossos
Numa elegia muda e pictórica.
A palavra num enterro é concreta:
A pá lavra o pó antes do epitáfio
E a sua própria função leva a fio
Para deixar a tarefa completa.
Apaga a triste mágoa já passada.
A pá – gastrite da terra – já cega,
Surda, só, junto ao defunto ela encerra:
A lágrima da remissão negada
Ou a silenciosa dor que teve em vida –
Ao som seco e sacro de pá – rompida.
Renan Mendonça Ferreira
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