Brasil - Cazuza,
Renato Russo
e a Transição
Democrática
Autor:
Mario Luís Grangeia
Editora: Civilização Brasileira
2016 – 176 páginas
Neste livro, o autor Mario Luis Grangeia, traça um paralelo entre a política e a música de Cazuza e Renato Russo durante a ditadura militar, e a transição para a democracia, com as eleições diretas em 1985. O autor analisa as obras, os anseios, os ideais e as declarações destes dois poetas do rock nacional, da década de 1980, que transformaram e incitaram à época do regime militar para a escolha novamente democrática de um presidente da república. Ao trazer a análise do repertório dos dois músicos, Grangeia nos mostra a importância que tiveram na formação da juventude brasileira desta década importante no Brasil, tanto politica quanto culturalmente. Russo e Cazuza viveram este período conturbado no Brasil e souberam transformá-lo em músicas e influenciaram uma geração com seus questionamentos, reflexões e ideais. A obra tem um texto muito fluente, permeadas por frases e trechos de letras das músicas destes dois grandes artistas. E estas são letras que parecem que foram feitas recentemente, pois são muito atuais. Eles realmente eram compositores atemporais.
Muito bom o livro, interessante pra quem gosta de história política e seus desdobramentos nesta década marcante, do rock nacional da década de 1980, da Legião Urbana e de Cazuza. Recomendadíssimo.
O livro se divide em 7 capítulos: 1) O Tenor , o barítono e a democracia desafinada; 2) Autoritarismo: aversão ao regime militar; 3)Patriotismo: exaltação e indignação convivem; 4) Ideologia: oscilação da esperança ao desencanto; 5) Desigualdades: renda concentrada e outras disparidades; 6) Orientação sexual: homossexualidade sem tabu. 7) Crônicas do Brasil de ontem e hoje.
Além do posfácio, agradecimentos, uma linha do tempo com acontecimentos selecionados das vidas de Cazuza e Renato Russo (Histórias Cruzadas), bibliografia e discografia.
Trechos:
- “O LP de estreia Legião Urbana (1985) abria com “Será”, que fez sucesso ao vocalizar dilemas românticos e políticos meses após o Congresso Nacional ouvir, mas não escutar, o clamor das ruas pela eleição presidencial direta. “Não é me dominando assim/ Que você vai me entender.” Na noite de 15 de janeiro, dias após aquele lançamento, Cazuza fechou o primeiro show do Barão no Rock in Rio, mostrando-se esperançoso com a eleição indireta de Tancredo Neves.” – p. 20
- “Na carreira solo, Cazuza explorou outros ritmos além do rock e do blues, como a bossa nova e o samba, e gravou seis discos— incluindo um ao vivo, um duplo e um póstumo. Em 1989, foi o primeiro artista brasileiro a revelar que tinha aids, que o levaria à morte no ano seguinte. Segundo Lucinha Araújo conta em Cazuza: Só as mães são felizes, ele gravou 126 letras de sua própria autoria, teve 34 registradas por outras vozes e deixou mais de 60 inéditas. Em 1990, sua mãe criou a Sociedade Viva Cazuza, para o apoio a crianças e jovens com o vírus HIV.” – p. 21
- “Entre a composição de “Faroeste caboclo” (1979) e sua gravação (1987), o interlocutor de João de Santo Cristo no Planalto mudara de Figueiredo para Sarney sem ter sido Tancredo e o sofrimento de “toda essa gente” só piorava: a estagnação econômica e a alta inflação geraram perdas absolutas de renda entre todos, menos nos 10% mais ricos. Somando nove minutos nada comuns no 23 meio radiofônico, os 157 versos narravam os descaminhos da saga de João de Santo Cristo, que não atingiu a meta de vocalizar o sofrimento popular em Brasília. O mesmo não se pode dizer do compositor, que desde cedo cantou não apenas por si.” P. 24
-“ Quando a guerra fria ainda cindia o mundo entre capitalistas e socialistas, Cazuza defendeu o socialismo ao ser perguntado no suplemento Ipanema de O Globo, sobre qual seria o caminho revolucionário: ‘O socialismo é o único rumo para melhorar um país subdesenvolvido. O comunismo é ditatorial, mas o socialismo permite rever todos os valores, redistribuir a renda, fazer a reforma afrária, coisas que deveriam ter sido feitas cem anos atás.” – p. 80
-“ ‘Até bem pouco tempo atrás, a gente realmente acreditava que poderia mudar alguma coisa’, disse Renato às vésperas da eleição de 1989 para o jornal A Tarde. ‘Depois percebemos que não ia dar mais para mudar, mas continuamos acreditando. E passou certo tempo – eu pelo menos senti isso – em que as pessoas aqui do Brasil, principalmente depois do plano Cruzado, ficaram descrentes de tudo. Está assim atualmente: elas deixam as coisas irem sem convicção. Mesmo estas eleições presidenciais estão assim: todo mundo está querendo acreditar, mas ninguém acredita muito.’” p. 84
- “ A identidade brasileira teve na música popular a expressão artística mais decisiva paa sua formação no século XX. ‘Mais completa, mais totalmente nacional, mais forte criação da nossa raça até agora’, definiu a música popular o escritor Mário de Andrade em 1928, numa descrição que continuaria válida nas décadas seguintes, a julgar pela relevância de estilos como samba-canção, a bossa nova, a tropicália e o rock.’” – p.123
- “Pela força de suas obras, Cazuza e Renato foram aclamados porta-vozes de sua geração. Em artigos editados junto a seus obituários no Jornal do Brasil, o crítico Tárik de Souza via em Cazuza o ‘locutor impune da indignação no país dos sequestros’ e em Renato a ‘genialidade poética de fio terra da raça e parabólica de geração. Como poucos, eles refletiram dilemas do indivíduo e da sociedade em seu tempo e dividiram, com tantos, ideias com que muitos se identificaram.” – p. 148
***
“Uma contribuição do livro é o realce à faceta cronista dos dois cantores.” - Grangeia
O Autor:
Mario Luis Grangeia é jornalista e doutorando em Sociologia pela UFRJ. Foi repórter de EXAME e O GLOBO, colaborou para revistas VEJA e BRAVO! E atualmente é assessor do Ministério Público Federal.
Obs.: O valor recebido pelo autor com este livro será destinado à Sociedade Viva Cazuza.
Fica a Dica!
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