Oração do Pequeno Delinquente
Fazei, Senhor, presente
a razão dos que me julgam,
que enquanto os filhos de pais abastados
tinham escolas escolhidas,
alimentos, recreação, carinho e brinquedos,
eu, filho de pais ignorantes e pobres,
era criança marginalizada,
perdida pelas ruas,
detida no pátio das Delegacias
driblando os guardas,
solerte e malandrim
às voltas com o Juizado de Menores.
Eu tinha fome.
Sonhava com um bife bem grande.
Um pastel enorme, uma fruta.
Um doce sem tamanho.
Eu era Menor Abandonado.
Correndo dos guardas
sozinho, sem escola e faminto.
Meu Deus, acordai o coração dos meus juízes.
Senhor, dai idealismo às autoridades
para que elas criem em cada bairro
pobre de Goiânia
uma Escola conjugada Profissional
e Alfabetização para os meninos pobres,
antes que eles se percam pelo abandono
e por medidas inoperantes e superadas dos que tudo podem.
Mobral... Dai um Mobral
à criança que não teve lugar
na Escola Primária ou deixou
de frequentar por falta de uniforme,
de livros e de cadernos e taxas
escolares.
Enquanto houver no meu País
uma criança sem escola
haverá sempre um adulto se evadindo
de um Mobral. Aumenta o número
de adultos analfabetos na razão
direta da criança sem escola,
aumenta a criminalidade jovem
na razão direta do Menor Abandonado,
infrator, corrompido, delinquente
a caminho da criminalidade do adulto
pela falta de escolas profissionais,
escolas de salvação social.
Cora Coralina
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