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"Uma vaga noção de tudo, e um conhecimento de nada."
Charles Dickens (1812 - 1870) - Escritor Inglês
Charles Dickens (1812 - 1870) - Escritor Inglês
sábado, 28 de fevereiro de 2015
Trilha Sonora (180) - Lô Borges
Um Girassol da Cor
do seu Cabelo
Lô Borges
Compositores: Lô Borges e Márcio Borges
Vento solar e estrelas do mar
A terra azul da cor do seu vestido
Vento solar e estrelas do mar
Você ainda quer morar comigo
Se eu cantar não chore não
É só poesia
Eu só preciso ter você
Por mais um dia
Ainda gosto de dançar
Bom dia
Como vai você?
Sol, girassol, verde, vento solar
Você ainda quer morar comigo
Vento solar e estrelas do mar
Um girassol da cor de seu cabelo
Se eu morrer não chore não
É só a lua
É seu vestido cor de maravilha nua
Ainda moro nesta mesma rua
Como vai você?
Você vem?
Ou será que é tarde demais?
O meu pensamento tem a cor de seu vestido
Ou um girassol que tem a cor de seu cabelo?
sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015
Poesia a Qualquer Hora (185) - Mário Pederneiras
Que esta Suprema Dor que minh'Alma envelhece,
Que tanto me acabrunha e tanto desalenta,
Que repele a Ilusão, como o Sonho afugenta,
Que não cede ao Clamor, como não cede à Prece;
Que esta Suprema Dor que me prende e acorrenta
A mágoa de esperar o que nunca aparece,
Que se entranha na Vida e se alarga e que cresce
E de encontro à Alegria, em lágrimas, rebenta;
Seja o meu calmo abrigo, o meu sereno asilo,
Onde minh'Alma vá, toda branca e alquebrada,
Pedir o Pouso e a Paz para um viver tranquilo.
E que exsurja da Treva em que agora ando imerso
Para eterna viver aqui — marmorizada —
Na tristeza imortal da Lágrima e do Verso.
quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015
Antena Ligada, de Lourenço Diaféria
Antena Ligada
Lourenço Diaféria
"Troquei meu televisor em branco-e-preto por um televisor em cores com controle remoto, para facilitar a vida de meus filhos, que agora, sabe como é, época de provas, estão se virando mais que pião na roda. Imaginem que outro dia um professor teve a coragem de mandar meu filho gavião-da-fiel, fazer um trabalho sobre o Sócrates. Fiquei uma arara. Em todo caso, apanhei a revista Placar e recomendei que o garoto consultasse os arquivos esportivos da Folha e do Jornal da Tarde. Não é por ser meu filho, mas o guri caprichou do primeiro ao quinto. Tirou zero.
Puxa, assim também é demais. Resolvi levar um papo com o professor, ver se não era perseguição. O professor foi muito gentil, porém ninguém me tira da cabeça que ele é palmeirense disfarçado de são-paulino. Garantiu-me que havia ocorrido um equívoco. O Sócrates que ele queria é um craque da redonda que tomou cicuta. Essa é boa. Por que não avisou antes? Como é que vou adivinhar que o homem jogava dopado?
Me manquei, mas o professor percebeu meu azedume. Disse que ia dar uma nova oportunidade.
Falou, eu disse.
Preveni meu garoto que ficasse de orelha em pé, lá vinha chumbo. Dito e feito. O professor, deixando cair a máscara alviverde, deu uma de periquito campineiro e pediu um trabalho completo sobre o Guarani.
Deixa que eu chuto, falei a meu filho. Pode contar comigo na regra três. Eu mesmo cuido da pesquisa.
Peguei a escalação completa do Guarani, botei o Neneca no gol, fiz a maior apologia do time da terra das andorinhas. Pra me cobrir e não deixar nenhum flanco desguarnecido, telefonei pro meu amigo Antônio Contente, que transa em assuntos culturais e conexos (como seja a imprensa), e pedi por favor que me mandasse uma camisa oito autografada. Diretamente de Campinas e pelo malote.
Não é pra falar, mas o trabalho escolar ficou um luxo. Sem falsa modéstia, estava esperando pro meu filho no mínimo aprovação com laude e placa de prata, para não dizer medalha de honra ao mérito.
Pois deu zebra. Começo a desconfiar que o tal professor me armou uma arapuca e entrei fácil, como um otário. O homem deve ser primo do Dicá. Sabem o que o mestre fez? Heim? Querem saber? Deu outro zero pro meu filho. O pior é que não devolveu a camisa oito autografada.
Essa não deixei barato. Fui de peito aberto, às falas.
– Ilustre – eu disse – com o perdão da palavra, mas que diabo de safadeza vossa senhoria anda arrumando pro meu garoto gavião-da-fiel? Então eu perco tempo, pesquiso, consulto a história gloriosa da equipe campineira, faço a maior zorra com o time do Brinco da Princesa, e o garoto ganha cartão vermelho?
Que grande cínico! O homem me olhou com aqueles olhos de olheiras – acho que tem almoçado e jantado mal, sei lá, dizem que professor padece um bocado – coçou a cabeça, murmurou:
– Foi o senhor quem fez a lição?
Fiquei meio sem jeito:
– Bem, fazer não fiz. Dei uma orientação didática. Pai é para essas coisas...
Ele não se comoveu. Ao contrário, foi até rude:
– Se aceita um conselho, pare de dar palpite na lição de casa de seu filho. O senhor não conhece nada do Guarani.
Falar isso na minha cara! Tive de aguentar calado. Nunca soube que no diacho do time campineiro figurasse a dupla de área chamada Peri e Ceci. E com essa constante mudança de técnicos, como podia sacar que o técnico atual é o Zé de Alencar?
– Tá bem – eu disse – não vamos brigar por tão pouco. O professor pode dar outra colher de chá ao menino?
Deu. O professor quer agora os capítulos completos de um romance, por coincidência com o mesmo nome do time de Campinas: o Guarani.
É qualquer coisa com índio sioux que de repente se vê obrigado a salvar uma mulher biônica das águas da enchente. Deve ser telenovela em cores. Mas só para complicar a vida do meu filho, o professor não revelou o horário.
Porém desta vez ele não me ferra.
Pela dica do enredo que deixou escapar, deve ser mais uma dessas sucessões de cenas de violência que a gente é obrigada a engolir todas as noites na televisão. Estou de antena ligadona, meu chapa."
Este texto foi publicado no Livro - "Pra Gostar de Ler - Volume 7 -
Crônicas" - Editora Ática
quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015
terça-feira, 24 de fevereiro de 2015
segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015
Vencedores do Oscar 2015
A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos EUA
realizou ontem (22/02) a 87ª cerimônia do Oscar.
"Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)", foi o grande vencedor da noite, com quatro estatuetas, incluindo melhor filme, melhor diretor (Alejandro González Iñarritu), melhor roteiro original e melhor fotografia. "O Grande Hotel Budapeste" também levou quatro estatuetas: melhor figurino, melhor maquiagem, melhor design de produção e melhor trilha sonora.
Os 8 filmes que receberam a indicação ao OSCAR de melhor filme em 2015 |
Abaixo a lista completa dos premiados do Oscar 2015, os vencedores aparecem em negrito:
Melhor filme
Melhor diretor
Alejandro González Inárritu - Birdman
ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)
Richard Linklater - Boyhood - Da Infância à Juventude
Bennett Miller - Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo
Wes Anderson - O Grande Hotel Budapeste
Morten Tyldum - O Jogo da Imitação
Melhor atriz
Julianne Moore - Para Sempre Alice
Marion Cotillard - Dois Dias, Uma Noite
Felicity Jones - A Teoria de Tudo
Rosamund Pike - Garota Exemplar
Reese Witherspoon - Livre
Melhor ator
Eddie Redmayne - A Teoria de Tudo
Steve Carell - Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo
Benedict Cumberbatch - O Jogo da Imitação
Michael Keaton - Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)
Bradley Cooper - Sniper Americano
Melhor ator coadjuvante
J.K. Simmons - Whiplash: Em Busca da Perfeição
Robert Duvall - O Juiz
Ethan Hawke - Boyhood - Da Infância à Juventude
Edward Norton - Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)
Mark Ruffalo - Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo
Melhor atriz coadjuvante
Patricia Arquette - Boyhood, Da Infância à Juventude
Laura Dern - Livre
Keira Knightley - O Jogo da Imitação
Meryl Streep - Caminhos da Floresta
Emma Stone - Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)
Melhor roteiro original
Alejandro González Iñárritu, Nicolás Giacobone, Alexander Dinelaris, Armando Bo - Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)
Richard Linklater - Boyhood - Da Infância à Juventude
Dan Futterman, E. Max Frye - Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo
Wes Anderson, Hugo Guinness - O Grande Hotel Budapeste
Dan Gilroy - O Abutre
Melhor roteiro adaptado
Graham Moore - O Jogo da Imitação
Jason Hall - Sniper Americano
Paul Thomas Anderson - Vício Inerente
Anthony McCarten - A Teoria de Tudo
Damien Chazelle - Whiplash: Em Busca da Perfeição
Melhor longa de animação
Operação Big Hero
Os Boxtrolls
Como Treinar o Seu Dragão 2
Song of the Sea
O Conto da Princesa Kaguya
Melhor documentário em longa-metragem
Citizenfour
Vietnã: Batendo em Retirada
Virunga
A Fotografia Oculta de Vivian Maier
O Sal da Terra
Melhor longa estrangeiro
Ida (Polônia)
Leviatã (Rússia)
Tangerines (Estônia)
Timbuktu (Mauritânia)
Relatos Selvagens (Argentina)
Melhor curta-metragem
The Phone Call
Aya
Boogaloo and Graham
Butter Lamp
Parvaneh
Melhor documentário em curta-metragem
Crisis Hotline: Veterans Press 1
Joanna
Our Curse
The Reaper (La Parka)
White Earth
Melhor animação em curta-metragem
O Banquete
The Bigger Picture
The Dam Keeper
Me and My Moulton
A Single Life
Melhor canção original
"Glory", por John Legend, Common - Selma
"Everything is Awesome", por Shawn Patterson, Joshua Bartholomew, Lisa Harriton, The Lonely Island - Uma Aventura LEGO
"Grateful", por Diane Warren - Beyond the Lights
"I'm Not Going to Miss You", por Glen Campbell - Glen Campbell: I'll Be Me
"Lost Stars", por Gregg Alexander, Danielle Brisebois, Nick Lashley, Nick Southwood - Mesmo Se Nada Der Certo
Melhor fotografia
Emmanuel Lubezki - Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)
Robert D. Yeoman - O Grande Hotel Budapeste
Ryszard Lenczewski, Łukasz Żal - Ida
Dick Pope - Mr. Turner
Roger Deakins - Invencível
Melhor figurino
Milena Canonero - O Grande Hotel Budapeste
Mark Bridges - Vício Inerente
Colleen Atwood - Caminhos da Floresta
Anna B. Sheppard, Jane Clive - Malévola
Jacqueline Durran - Mr. Turner
Melhor maquiagem e cabelo
Frances Hannon, Mark Coulier - O Grande Hotel Budapeste
Bill Corso, Dennis Liddiard - Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo
Elizabeth Yianni-Georgiou, David White - Guardiões da Galáxia
Melhor mixagem de som
Whiplash: Em Busca da Perfeição
Sniper Americano
Interestelar
Invencível
Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)
Melhor edição de som
Alan Robert Murray, Bub Asman - Sniper Americano
Martín Hernández, Aaron Glascock - Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)
Brent Burge, Jason Canovas - O Hobbit - A Batalha dos Cinco Exércitos
Richard King - Interestelar
Becky Sullivan, Andrew DeCristofaro - Invencível
Melhores efeitos visuais
Interestelar
Capitão América 2 - O Soldado Invernal
Guardiões da Galáxia
Planeta dos Macacos 2 - O Confronto
X-Men - Dias de Um Futuro Esquecido
Melhor design de produção
Adam Stockhausen, Anna Pinnock - O Grande Hotel Budapeste
Maria Djurkovic, Tatiana Macdonald - O Jogo da Imitação
Nathan Crowley, Gary Fettis, Paul Healy - Interestelar
Dennis Gassner, Anna Pinnock - Caminhos da Floresta
Suzie Davies, Charlotte Watts - Mr. Turner
Melhor montagem
Whiplash: Em Busca da Perfeição
Boyhood - Da Infância à Juventude
O Grande Hotel Budapeste
O Jogo da Imitação
Melhor trilha sonora
Alexandre Desplat - O Grande Hotel Budapeste
Alexandre Desplat - O Jogo da Imitação
Hans Zimmer - Interestelar
Gary Yershon - Mr. Turner
Johann Johannsson - A Teoria de Tudo
(°> Via: OMELETE >>>
Frase para a Semana
"Se o conhecimento pode criar
problemas, não é através
da ignorância que podemos
solucioná-los".
Isaac Asimov
Petrovichi (Rússia), 2 de janeiro de 1920 - Nova Iorque (EUA), 6 de abril de 1992)
Foi um escritor e bioquímico americano, nascido na Rússia,
autor de obras de ficção e divulgação científica.
domingo, 22 de fevereiro de 2015
Ex-Baixista da Legião Urbana Renato Rocha é encontrado morto
Descanse em paz
O ex-baixista Renato Rocha, da Banda Legião Urbana foi encontrado
morto hoje em um hotel na cidade de Guarujá em São Paulo. Negrete
como era conhecido, participou dos 3 primeiros discos da Legião Urbana
na década de 1980. Ele tinha 53 anos, e deixa um casal de filhos.
Em 2012, ele foi encontrado morando nas ruas do Rio. Envolvido
com drogas, aceitou fazer um tratamento de reabilitação numa
clínica,com o apoio de familiares, amigos e fãs.
No concerto Renato Russo Sinfônico, realizado em Brasília,
em junho de 2013, Renato Rocha fez uma participação especial
tocando contrabaixo e cantando em "Que país é este".
(°> Leia mais: O Globo >>>
sábado, 21 de fevereiro de 2015
Trilha Sonora (179) - Blues Pills
Black Smoke
Blues Pills
Gallons of water was flowing
And people were floating up to the air
Death came up with his black robe on
And took all the sinners to hell
Is there nothing left to see?
Have we ever been?
Is this a dream
Or a haunting in my sleep?
Sixteen demons
Haunt me in my sleep
Never leave me
A moment of peace
Sixteen reasons
I never know who I am
I just keep wondering
And drifting alone
In this life, I'm dying
All of the forests were burning
And black smoke was rising up through the air
God came down with his white beard long
And damned all the sinners who dared
Is there nothing left to see?
Have we ever been?
Is this a dream
Or a haunting in my sleep?
A thousand thoughts
Going through my mind
Dreams I once had I left behind
I've got an angel
Knocking at my door
Accept and let go
I wave goodbye to my soul
sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015
15 Paródias e/ou versões do poema "Canção do Exílio" de Gonçalves Dias
A “Canção do Exílio” de Gonçalves Dias, foi produzida no primeiro momento do Romantismo Brasileiro, época na qual se vivia uma forte onda de nacionalismo, que se devia ao recente rompimento do Brasil-colônia com Portugal. O poeta trata, neste sentido, de demonstrar aversão aos valores portugueses e ressaltar os valores naturais do Brasil.
Apesar de ser um texto de profunda exaltação à pátria, o poema possui total ausência de adjetivos qualificativos. São os advérbios “lá, cá, aqui” que nos localizam geograficamente no poema. Formalmente, o poema apresenta redondilhas maiores (sete sílabas em cada verso) e rimas oxítonas (lá, cá e sabiá), menos na segunda estrofe.
Quando Gonçalves Dias escreveu este poema, cursava Faculdade de Direito em Coimbra, em Julho de 1843. Vivia, desta forma, um exílio físico e geográfico. Tradicionalmente, esta é a situação do exílio. (Fonte: Info Escola >>>)
O que é paródia?
A paródia é uma obra literária, teatral ou musical que imita outra obra, ou os procedimentos de uma corrente artística, escola,etc, com objetivo jocoso ou satírico; um arremedo.
O Poema Original
(O poema matriz)
A Canção do Exílio
Gonçalves Dias
Minha terra tem palmeiras
Onde canta o sabiá;
As aves que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar - sozinho, à noite -
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras
(:-) As 15 Paródias (-:)
(e versões)
Canção do Exílio
Murilo Mendes
Minha terra tem macieiras da Califórnia
onde cantam gaturanos de Veneza.
Os poetas da minha terra
são pretos que vivem em torres de ametista,
os sargentos do exército são monistas, cubistas,
os filósofos são polacos vendendo a prestações.
A gente não pode dormir
com os oradores e os pernilongos.
Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda
Eu morro sufocado
em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas
nossas frutas mais gostosas
mas custam cem mil réis a dúzia.
Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade
e ouvir um sabiá com certidão de idade!
* * *
Canto de Regresso à Pátria
Oswald de Andrade
Minha terra tem palmares
Onde gorjeia o mar
Os passarinhos daqui
Não cantam como os de lá
Minha terra tem mais rosas
E quase que mais amores
Minha terra tem mais ouro
Minha terra tem mais terra
Ouro terra amor e rosas
Eu quero tudo de lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que eu volte para lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que eu volte para São Paulo
Sem que veja a Rua 15
E o progresso de São Paulo
* * *
Uma canção
Mario Quintana
Minha terra não tem palmeiras...
E em vez de um mero sabiá,
Cantam aves invisíveis
Nas palmeiras que não há.
Minha terra tem relógios,
Cada qual com sua hora
Nos mais diversos instantes...
Mas onde o instante de agora?
Mas onde a palavra "onde"?
Terra ingrata, ingrato filho,
Sob os céus da minha terra
Eu canto a Canção do Exílio!
* * *
Europa, França e Bahia
Carlos Drummond de Andrade
Meus olhos brasileiros sonhando exotismos.
Paris. A torre Eiffel alastrada de antenas como um caranguejo.
Os cais bolorentos de livros judeus
e a água suja do Sena escorrendo sabedoria.
O pulo da Mancha num segundo.
Meus olhos espiam olhos ingleses vigilantes nas docas.
Tarifas bancos fábricas trustes craques.
Milhões de dorsos agachados em colônias longínquas formam um tapete
para Sua Graciosa Majestade Britânica pisar.
E a lua de Londres como um remorso.
Submarinos inúteis retalham mares vencidos.
O navio alemão cauteloso exporta dolicocéfalos arruinados.
Hamburgo, embigo do mundo.
Homens de cabeça rachada cismam em rachar a cabeça dos outros
dentro de alguns anos.
A Itália explora conscientemente vulcões apagados,
vulcões que nunca estiveram acesos
a não ser na cabeça de Mussolini.
E a Suiça cândida se oferece
numa coleção de postais de altitudes altíssimas.
Meus olhos brasileiros se enjoam da Europa.
Não há mais Turquia.
O impossível dos serralhos esfacela erotismos prestes a declanchar.
Mas a Rússia tem as cores da vida.
A Rússia é vermelha e branca.
Sujeitos com um brilho esquisito nos olhos criam o filme bolchevista
e no túmulo de Lenin em Moscou parece que um coração enorme
está batendo, batendo mas não bate igual ao da gente...
Chega!
Meus olhos brasileiros se fecham saudosos.
Minha boca procura a "Canção do exílio".
Como era mesmo a "Canção do exílio"?
Eu tão esquecido de minha terra...
Ai terra que tem palmeiras
onde canta o sabiá.
Os cais bolorentos de livros judeus
e a água suja do Sena escorrendo sabedoria.
O pulo da Mancha num segundo.
Meus olhos espiam olhos ingleses vigilantes nas docas.
Tarifas bancos fábricas trustes craques.
Milhões de dorsos agachados em colônias longínquas formam um tapete
para Sua Graciosa Majestade Britânica pisar.
E a lua de Londres como um remorso.
Submarinos inúteis retalham mares vencidos.
O navio alemão cauteloso exporta dolicocéfalos arruinados.
Hamburgo, embigo do mundo.
Homens de cabeça rachada cismam em rachar a cabeça dos outros
dentro de alguns anos.
A Itália explora conscientemente vulcões apagados,
vulcões que nunca estiveram acesos
a não ser na cabeça de Mussolini.
E a Suiça cândida se oferece
numa coleção de postais de altitudes altíssimas.
Meus olhos brasileiros se enjoam da Europa.
Não há mais Turquia.
O impossível dos serralhos esfacela erotismos prestes a declanchar.
Mas a Rússia tem as cores da vida.
A Rússia é vermelha e branca.
Sujeitos com um brilho esquisito nos olhos criam o filme bolchevista
e no túmulo de Lenin em Moscou parece que um coração enorme
está batendo, batendo mas não bate igual ao da gente...
Chega!
Meus olhos brasileiros se fecham saudosos.
Minha boca procura a "Canção do exílio".
Como era mesmo a "Canção do exílio"?
Eu tão esquecido de minha terra...
Ai terra que tem palmeiras
onde canta o sabiá.
* * *
Canção do Exílio
Casimiro de Abreu
Se eu tenho de morrer na flor dos anos
Meu Deus! não seja já;
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde,
Cantar o sabiá!
Meu Deus, eu sinto e tu bem vês que eu morro
Respirando este ar;
Faz que eu viva, Senhor! dá-me de novo
Os gozos do meu lar!
O país estrangeiro mais belezas
Do que a pátria não tem;
E este mundo não vale um só dos beijos
Tão doces duma mãe!
Dá-me os sítios gentis onde eu brincava
Lá na quadra infantil;
Dá que eu veja uma vez o céu da pátria,
O céu do meu Brasil!
Se eu tenho de morrer na flor dos anos
Meu Deus! não seja já!
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde,
Cantar o sabiá!
Quero ver esse céu da minha terra
Tão lindo e tão azul!
E a nuvem cor-de-rosa que passava
Correndo lá do sul!
Quero dormir à sombra dos coqueiros,
As folhas por dossel;
E ver se apanho a borboleta branca,
Que voa no vergel!
Quero sentar-me à beira do riacho
Das tardes ao cair,
E sozinho cismando no crepúsculo
Os sonhos do porvir!
Se eu tenho de morrer na flor dos anos,
Meu Deus! não seja já;
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde,
A voz do sabiá!
Quero morrer cercado dos perfumes
Dum clima tropical,
E sentir, expirando, as harmonias
Do meu berço natal!
Minha campa será entre as mangueiras,
Banhada do luar,
E eu contente dormirei tranqüilo
À sombra do meu lar!
As cachoeiras chorarão sentidas
Porque cedo morri,
E eu sonho no sepulcro os meus amores
Na terra onde nasci!
Se eu tenho de morrer na flor dos anos,
Meu Deus! não seja já;
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde,
Cantar o sabiá!
* * *
Nova Canção do Exílio
Ferreira Gullar
Minha amada tem palmeiras
Onde cantam passarinhos
e as aves que ali gorjeiam
em seus seios fazem ninhos
Ao brincarmos sós à noite
nem me dou conta de mim:
seu corpo branco na noite
luze mais do que o jasmim
Minha amada tem palmeiras
tem regatos tem cascata
e as aves que ali gorjeiam
são como flautas de prata
Não permita Deus que eu viva
perdido noutros caminhos
sem gozar das alegrias
que se escondem em seus carinhos
sem me perder nas palmeiras
onde cantam os passarinhos
* * *
Canção do Exílio Facilitada
José Paulo Paes
lá?
ah!
sabiá…
papá…
maná…
sofá…
sinhá…
cá?
bah!
* * *
Pátria Minha
Pátria Minha
Vinicius de Moraes
A minha pátria é como se não fosse, é íntima
Doçura e vontade de chorar; uma criança dormindo
É minha pátria. Por isso, no exílio
Assistindo dormir meu filho
Choro de saudades de minha pátria.
Se me perguntarem o que é a minha pátria direi:
Não sei. De fato, não sei
Como, por que e quando a minha pátria
Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água
Que elaboram e liquefazem a minha mágoa
Em longas lágrimas amargas.
Vontade de beijar os olhos de minha pátria
De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos...
Vontade de mudar as cores do vestido (auriverde!) tão feias
De minha pátria, de minha pátria sem sapatos
E sem meias pátria minha
Tão pobrinha!
Porque te amo tanto, pátria minha, eu que não tenho
Pátria, eu semente que nasci do vento
Eu que não vou e não venho, eu que permaneço
Em contato com a dor do tempo, eu elemento
De ligação entre a ação o pensamento
Eu fio invisível no espaço de todo adeus
Eu, o sem Deus!
Tenho-te no entanto em mim como um gemido
De flor; tenho-te como um amor morrido
A quem se jurou; tenho-te como uma fé
Sem dogma; tenho-te em tudo em que não me sinto a jeito
Nesta sala estrangeira com lareira
E sem pé-direito.
Ah, pátria minha, lembra-me uma noite no Maine, Nova Inglaterra
Quando tudo passou a ser infinito e nada terra
E eu vi alfa e beta de Centauro escalarem o monte até o céu
Muitos me surpreenderam parado no campo sem luz
À espera de ver surgir a Cruz do Sul
Que eu sabia, mas amanheceu...
Fonte de mel, bicho triste, pátria minha
Amada, idolatrada, salve, salve!
Que mais doce esperança acorrentada
O não poder dizer-te: aguarda...
Não tardo!
Quero rever-te, pátria minha, e para
Rever-te me esqueci de tudo
Fui cego, estropiado, surdo, mudo
Vi minha humilde morte cara a cara
Rasguei poemas, mulheres, horizontes
Fiquei simples, sem fontes.
Pátria minha... A minha pátria não é florão, nem ostenta
Lábaro não; a minha pátria é desolação
De caminhos, a minha pátria é terra sedenta
E praia branca; a minha pátria é o grande rio secular
Que bebe nuvem, come terra
E urina mar.
Mais do que a mais garrida a minha pátria tem
Uma quentura, um querer bem, um bem
Um libertas quae sera tamem
Que um dia traduzi num exame escrito:
"Liberta que serás também"
E repito!
Ponho no vento o ouvido e escuto a brisa
Que brinca em teus cabelos e te alisa
Pátria minha, e perfuma o teu chão...
Que vontade de adormecer-me
Entre teus doces montes, pátria minha
Atento à fome em tuas entranhas
E ao batuque em teu coração.
Não te direi o nome, pátria minha
Teu nome é pátria amada, é patriazinha
Não rima com mãe gentil
Vives em mim como uma filha, que és
Uma ilha de ternura: a Ilha
Brasil, talvez.
Agora chamarei a amiga cotovia
E pedirei que peça ao rouxinol do dia
Que peça ao sabiá
Para levar-te presto este avigrama:
"Pátria minha, saudades de quem te ama...
* * *
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