"Uma vaga noção de tudo, e um conhecimento de nada."
Charles Dickens (1812 - 1870) - Escritor Inglês

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Aparecida


Aparecida 

A biografia da santa que
perdeu a cabeça, ficou negra,
foi roubada, cobiçada pelos
políticos e conquistou o Brasil

Autor: Rodrigo Alvarez
Editora: Globo Livros
2014 - 239 Páginas

O livro Aparecida, de Rodrigo Alvarez, é um relato completo sobre a santa padroeira do Brasil. Um livro rico em detalhes,  fruto de várias pesquisas realizadas pelo  autor,  no país e no exterior, que nos traz 3 séculos de história da padroeira, misturadas com alguns momentos  importantes, históricos e políticos do Brasil - desde quando os três pescadores, Felipe Pedroso, Domingos Martins e João Alves acharam-na,  em 1717, nas águas turvas do Rio Paraíba do Sul, próximo a cidade de Guaratinguetá -, passando pela monarquia até a chegada da república, da instauração da ditadura política até a construção e inauguração da Basílica, o segundo maior santuário católico do mundo,  em 1980 entre outros acontecimentos... E no meio do livro, encontramos ainda, várias fotos. A leitura é cheia de emoção, leve, fácil e bem embasada, tanto pela história quanto pela fé.

O livro é dividido em 35 capítulos sem ordem cronológica, e, em quatro partes:

  • Atentado e Mistérios: O Renascimento – 9 capítulos 
  • Identidade: Aparecida - 7 capítulos 
  • Trevas e Redenção – 9 Capítulos 
  • A Rainha, Os Papas e os Presidentes – 10 capítulos 
O livro descreve e revive personagens curiosos e marcantes: como o padre que tirava a santa do altar às escondidas; o frei que enfrentava corruptos; a restauradora que ficou irritada com um acontecimento, o evangélico que roubou a imagem e a espedaçou no chão, e o governador que cortava cabeças. A Princesa Isabel que presenteou a santa com uma coroa; o general Castello Branco, que fez questão de uma peregrinação da imagem pelo país em plena ditadura, e traz também o relato dos três últimos papas, João Paulo II, Bento XVI e Francisco, que fizeram questão de beijá-la.

A biografia é uma mistura de fé, paixão, história e identificação. Aparecida é o primeiro símbolo do Brasil. Esse Brasil que começava a construir sua identidade e precisava de muitas coisas, inclusive de uma santa.
Nossa Senhora da Conceição Aparecida, só foi coroada oficial e publicamente, em 8 de Setembro de 1904. E foi proclamada Padroeira do Brasil em 16 de Julho de 1930, por decreto do Papa Pio XI.
Pela Lei nº 6 802, de 30 de junho de 1980, foi decretado oficialmente feriado o dia 12 de outubro, dedicando-se este dia à devoção. Também nesta lei, a República Federativa do Brasil reconhece oficialmente Nossa Senhora Aparecida como padroeira do Brasil.

Trechos:
“Quando aquela imagem feia, miúda e quebrada apareceu na rede de três pescadores, em 1717, o Brasil estava longe de ser o Brasil. Ainda não se jogava futebol e, claro, nem se sonhava com seleção brasileira. Não existia samba nem sambódromo. O Brasil tinha suas araras e seus papagaios, mas ninguém poderia pensar que um dia seria o país do Carnaval. Não existia bandeira verde-amarela, não existia hino nacional, e ninguém se orgulhava da mulata. Um Cristo de concreto em tamanho gigante? Só duzentos anos depois.” __ Introdução: Uma Santa Brasileira – página 09

“ Nos dias que se seguiram ao atentado, o Brasil descobriu, afinal, quem era o invasor atordoado. Rogério Marcos de Oliveira tinha dezenove anos, se apresentou à polícia como estudante, morava na rua Moscou, em São José dos Campos, e , aparentemente, vivia na lua. Seria frequentemente chamado de possesso ou débil mental. Não restava dúvida entere os católicos de que só alguém sem miolos, possuído pelo demônio ou drogado, atentaria contra a Mãe de Deus. Padres disseram na época que Rogério Marcos andava sob influência narcótica dos sermões de um pastor, aparentemente possuído por uma raiva incontrolável daquilo que desde Calvino e Lutero era alvo de grande parte da fúria dos protestantescontra os católicos: o culto às imagens e a adoração de figuras humanas, especialmente o culto a Maria.”
__Capítulo 3 – O Possesso e os Farelos Sagrados – Páginas 32 e 33

“ Antes de se dirigir ao povo de Deus e de Aparecida, no interior da igreja, o papa foi ver a santinha. Parou diante dela por alguns instante, ficou em silêncio, e a tocou. Na missa, o terceiro papa a visitar o Brasil, o terceiro a erguer a santa, fez o mesmo que praticamente o Brasil inteiro repetiu ao longo de três séculos: um pedido. ‘Ó Maria Santíssima, pelos méritos de Nosso Senhor Jesus Cristo, em vossa querida imagem de Aparecida, espalhais inúmeros benefícios sobre todo o Brasil’.
O beijo na santinha, durante a missa, seria a capa de jornais brasileiros no dia seguinte. Mas o papa gente boa queria aplausos. Queria que o povo aplaudisse a imagem de 36 centímetros, o maior símbolo da fé brasileira. E o povo aplaudiu. No fim da missa, em palavras improvisadas, Francisco pediu desculpas ao público porque não falava ‘brasileiro’” __ Capítulo 35 – O Papa Argentino e a Santa Brasileira – Página 224

Muito bom livro, bem escrito e documentado. Foi uma apaixonante leitura...

O Autor:
Rodrigo Alvarez nasceu no Rio de Janeiro em 8 de Junho de 1974.
Correspondente da TV Globo no Oriente Médio desde fevereiro de 2013,
tem se destacado na cobertura do conflito Israel-Palestina.
É autor também de Haiti, depois do Inferno (2010)

Recomendo à leitura a todos os católicos ou devotos de Aparecida, mas também para quem, não tem preconceito religioso ou não é intolerante. Porque, o livro é uma aula de história do Brasil, que se confunde com a fé e as devoções brasileiras.
FICA a DICA !!!

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