Remédio no Céu é Mais Barato
José Cândido de Carvalho
E deu-se que o capitão Nicolino Borba, de Sacopé, de Monte Verde, sentiu uma agulhada no peito, caiu e dado como morto foi. Quando era levado paro o cemitério, eis que o capitão desabrochou por entre flores e grinaldas aos berros e já fazendo inquirições. Como era muito usurário, de não dar bom dia para não gastar o solado da língua, logo entrou de perguntativo em pauta:
- Que negócio é este? Que despautério é este? Enterro de primeira com caixão de veludinho e um jasmim de rosas por cima, é para estuporar. É despesa muita para um defunto só. Desperdício!
Correu gente, veio médico de maleta na mão e no caixão mesmo examinou o usurário. Logo na primeira ouvida que aplicou na armação dos peitos de Nicolino, viu que andava bem vivo e em bom estado de uso. E aproveitou para falar dos perigos que o capitão corria. E com autoridade de receitador de poções:
- Desta vez o capitão escapou. Mas lhe digo que não vai muito longe se não fizer tratamento urgente, como requer sua doença. É o que lhe digo. Não vai muito longe.
Bem encastoado no veludo do caixão, Nicolino perguntou:
- Se não é falta de respeito, doutor, em quanto fica essa medicina?
O médico, rapidinho, colocou a mazela de Nicolino na máquina de somar e apresentou a conta:
- Oitocentos contos para um tratamento completo.
E Nicolino:
- Toca o enterro, minha gente. Por esse preço prefiro morrer, que remédio no céu é mais barato.
Este conto foi publicado no livro "Os Mágicos Municipais" - Editora José Olympio
(°> Via: Rio Total >>>
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