"Uma vaga noção de tudo, e um conhecimento de nada."
Charles Dickens (1812 - 1870) - Escritor Inglês

sábado, 31 de março de 2018

Trilha Sonora (302) - The Cranberries

Ode to my Family
The Cranberries
Compositores: Dolores O'Riordan e Noel Hogan

Understand the things I say,
Don't turn away from me
'Cause I spent half my life out there
You wouldn't disagree
D'you see me, d'you see
Do you like me, do you like me standing there
D'you notice, d'you know
Do you see me, do you see me
Does anyone care

Unhappiness, where's when I was young
And we didn't give a damn
'Cause we were raised
To see life as fun and take it if we can
My mother, my mother she hold me,
Did she hold me when I was out there
My father, my father, he liked me
Oh he liked me, does anyone care

Understand what I've become,
It wasn't my design
And people everywhere think
Something better than I am,
But I miss you. I miss
'Cause I liked it, cause I liked it
When I was out there
D'you know this, d'you know
You did not find me, you did not find
Does anyone care

Unhappiness, was when I was young
And we didn't give a damn
'Cause we were raised
To see life as fun and take it if we can
My mother, my mother she hold me,
Did she hold me when I was out there
My father, my father, he liked me
Oh he liked me
Does anyone care, does anyone care?

quinta-feira, 29 de março de 2018

Colheita, por Nélida Piñon

Colheita
Nélida Piñon

Um rosto proibido desde que crescera. Dominava as paisagens no modo ativo de agrupar frutos e os comia nas sendas minúsculas das montanhas, e ainda pela alegria com que distribuía sementes. A cada terra a sua verdade de semente, ele se dizia sorrindo. Quando se fez homem encontrou a mulher, ela sorriu, era altiva como ele, embora seu silêncio fosse de ouro, olhava-o mais do que explicava a história do universo. Esta reserva mineral o encantava e por ela unicamente passou a dividir o mundo entre amor e seus objetos. Um amor que se fazia profundo a ponto de se dedicarem a escavações, refazerem cidades submersas em lava.

A aldeia rejeitava o proceder de quem habita terras raras. Pareciam os dois soldados de uma fronteira estrangeira, para se transitar por eles, além do cheiro da carne amorosa, exigiam eles passaporte, depoimentos ideológicos. Eles se preocupavam apenas com o fundo da terra, que é o nosso interior, ela também completou seu pensamento. Inspirava-lhes o sentimento a conspiração das raízes que a própria árvore, atraída pelo sol e exposta à terra, não podia alcançar, embora se soubesse nelas.

Até que ele decidiu partir. Competiam-lhe andanças, traçar as linhas finais de um mapa cuja composição havia se iniciado e ele sabia hesitante. Explicou à mulher que para a amar melhor não dispensava o mundo, a transgressão das leis, os distúrbios dos pássaros migratórios. Ao contrário, as criaturas lhe pareciam em suas peregrinações simples peças aladas cercando alturas raras.

Ela reagiu, confiava no choro. Apesar do rosto exibir naqueles dias uma beleza esplêndida a ponto de ele pensar estando o amor com ela por que buscá-lo em terras onde dificilmente o encontrarei, insistia na independência. Sempre os de sua raça adotaram comportamento de potro. Ainda que ele em especial dependesse dela para reparar certas omissões fatais.

Viveram juntos todas as horas disponíveis até a separação. Sua última frase foi simples: com você conheci o paraíso. A delicadeza comoveu a mulher, embora os diálogos do homem a inquietassem. A partir desta data trancou-se dentro de casa. Como os caramujos que se ressentem com o excesso da claridade. Compreendendo que talvez devesse preservar a vida de modo mais intenso, para quando ele voltasse. Em nenhum momento deixava de alimentar a fé, fornecer porções diárias de carpas oriundas de águas orientais ao seu amor exagerado.

Em toda a aldeia a atitude do homem representou uma rebelião a se temer. Seu nome procuravam banir de qualquer conversa. Esforçavam-se em demolir o rosto livre e sempre que passavam pela casa da mulher faziam de conta que jamais ela pertencera a ele. Enviavam-lhe presentes, pedaços de toicinho, cestas de pêra, e poesias esparsas. Para que ela interpretasse através daqueles recursos o quanto a consideravam disponível, sem marca de boi e as iniciais do homem em sua pele.

A mulher raramente admitia uma presença em sua casa. Os presentes entravam pela janela da frente, sempre aberta para que o sol testemunhasse a sua própria vida, mas abandonavam a casa pela porta dos fundos, todos aparentemente intocáveis. A aldeia ia lá para inspecionar os objetos que de algum modo a presenciaram e eles não, pois dificilmente aceitavam a rigidez dos costumes. Às vezes ela se socorria de um parente, para as compras indispensáveis. Deixavam eles então os pedidos aos seus pés, e na rápida passagem pelo interior da casa procuravam a tudo investigar. De certo modo ela consentia para que vissem o homem ainda imperar nas coisas sagradas daquela casa.

Jamais faltou uma flor diariamente renovada próxima ao retrato do homem. Seu semblante de águia. Mas, com o tempo, além de mudar a cor do vestido, antes triste agora sempre vermelho, e alterar o penteado, pois decidira manter os cabelos curtos, aparados rentes à cabeça — decidiu por eliminar o retrato. Não foi fácil a decisão. Durante dias rondava o retrato, sondou os olhos obscuros do homem, ora o condenava, ora o absolvia: porque você precisou da sua rebeldia, eu vivo só, não sei se a guerra tragou você, não sei sequer se devo comemorar sua morte com o sacrifício da minha vida.

Durante a noite, confiando nas sombras, retirou o retrato e o jogou rudemente sobre o armário. Pôde descansar após a atitude assumida. Acreditou deste modo poder provar aos inimigos que ele habitava seu corpo independente da homenagem. Talvez tivesse murmurado a algum dos parentes, entre descuidada e oprimida, que o destino da mulher era olhar o mundo e sonhar com o rei da terra.

Recordava a fala do homem em seus momentos de tensão. Seu rosto então igualava-se à pedra, vigoroso, uma saliência em que se inscreveria uma sentença, para permanecer. Não sabia quem entre os dois era mais sensível à violência. Ele que se havia ido, ela que tivera que ficar. Só com os anos foi compreendendo que se ele ainda vivia tardava a regressar. Mas, se morrera, ela dependia de algum sinal para providenciar seu fim. E repetia temerosa e exaltada: algum sinal para providenciar meu fim. A morte era uma vertente exagerada, pensou ela olhando o pálido brilho das unhas, as cortinas limpas, e começou a sentir que unicamente conservando a vida homenagearia aquele amor mais pungente que búfalo, carne final da sua espécie, embora tivesse conhecido a coroa quando das planícies.

Quando já se tornava penoso em excesso conservar-se dentro dos limites da casa, pois começara a agitar nela uma determinação de amar apenas as coisas venerandas, fossem pó, aranha, tapete rasgado, panela sem cabo, como que adivinhando ele chegou. A aldeia viu o modo de ele bater na porta com a certeza de se avizinhar ao paraíso. Bateu três vezes, ela não respondeu. Mais três e ela, como que tangida à reclusão, não admitia estranhos. Ele ainda herói bateu algumas vezes mais, até que gritou seu nome, sou eu, então não vê, então não sente, ou já não vive mais, serei eu logo o único a cumprir a promessa?

Ela sabia agora que era ele. Não consultou o coração para agitar-se, melhor viver a sua paixão. Abriu a porta e fez da madeira seu escudo. Ele imaginou que escarneciam da sua volta, não restava alegria em quem o recebia. Ainda apurou a verdade: se não for você, nem preciso entrar. Talvez tivesse esquecido que ele mesmo manifestara um dia que seu regresso jamais seria comemorado, odiaria o povo abundante na rua vendo o silêncio dos dois após tanto castigo.

Ela assinalou na madeira a sua resposta. E ele achou que devia surpreendê-la segundo o seu gosto. Fingia a mulher não perceber seu ingresso casa adentro, mais velho sim, a poeira colorindo original as suas vestes. Olharam-se como se ausculta a intrepidez do cristal, seus veios limpos, a calma de perder-se na transparência. Agarrou a mão da mulher, assegurava-se de que seus olhos, apesar do pecado das modificações, ainda o enxergavam com o antigo amor, agora mais provado.

Disse-lhe: voltei. Também poderia ter dito: já não te quero mais. Confiava na mulher; ela saberia organizar as palavras expressas com descuido. Nem a verdade, ou sua imagem contrária, denunciaria seu hino interior. Deveria ser como se ambos conduzindo o amor jamais o tivessem interrompido.

Ela o beijou também com cuidado. Não procurou sua boca e ele se deixou comovido. Quis somente sua testa, alisou-lhe os cabelos. Fez-lhe ver o seu sofrimento, fora tão difícil que nem seu retrato pôde suportar. Onde estive então nesta casa, perguntou ele, procure e em achando haveremos de conversar. O homem se sentiu atingido por tais palavras. Mas as peregrinações lhe haviam ensinado que mesmo para dentro de casa se trazem os desafios.

Debaixo do sofá, da mesa, sobre a cama, entre os lençóis, mesmo no galinheiro, ele procurou, sempre prosseguindo, quase lhe perguntava: estou quente ou frio. A mulher não seguia suas buscas, agasalhada em um longo casaco de lã, agora descascava batatas imitando as mulheres que encontram alegria neste engenho. Esta disposição da mulher como que o confortava. Em vez de conversarem, quando tinham tanto a se dizer, sem querer eles haviam começado a brigar. E procurando ele pensava onde teria estado quando ali não estava, ao menos visivelmente pela casa.

Quase desistindo encontrou o retrato sobre o armário, o vidro da moldura todo quebrado. Ela tivera o cuidado de esconder seu rosto entre cacos de vidro, quem sabe tormentas e outras feridas mais. Ela o trouxe pela mão até a cozinha. Ele não se queria deixar ir. Então, o que queres fazer aqui? Ele respondeu: quero a mulher. Ela consentiu. Depois porém ela falou: agora me siga até a cozinha.

— O que há na cozinha?

Deixou-o sentado na cadeira. Fez a comida, se alimentaram em silêncio. Depois limpou o chão, lavou os pratos, fez a cama recém-desarrumada, tirou o pó da casa, abriu todas as janelas quase sempre fechadas naqueles anos de sua ausência. Procedia como se ele ainda não tivesse chegado, ou como se jamais houvesse abandonado a casa, mas se faziam preparativos sim de festa. Vamos nos falar ao menos agora que eu preciso?, ele disse.

— Tenho tanto a lhe contar. Percorri o mundo, a terra, sabe, e além do mais…

Eu sei, ela foi dizendo depressa, não consentindo que ele dissertasse sobre a variedade da fauna, ou assegurasse a ela que os rincões distantes ainda que apresentem certas particularidades de algum modo são próximos a nossa terra, de onde você nunca se afastou porque você jamais pretendeu a liberdade como eu. Não deixando que lhe contasse, sim que as mulheres, embora louras, pálidas, morenas e de pele de trigo, não ostentavam seu cheiro, a ela, ele a identificaria mesmo de olhos fechados. Não deixando que ela soubesse das suas campanhas: andou a cavalo, trem, veleiro, mesmo helicóptero, a terra era menor do que supunha, visitara a prisão, razão de ter assimilado uma rara concentração de vida que em nenhuma parte senão ali jamais encontrou, pois todos os que ali estavam não tinham outro modo de ser senão atingindo diariamente a expiação.

E ela, não deixando ele contar o que fora o registro da sua vida, ia substituindo com palavras dela então o que ela havia sim vivido. E de tal modo falava como se ela é que houvesse abandonado a aldeia, feito campanhas abolicionistas, inaugurado pontes, vencido domínios marítimos, conhecido mulheres e homens, e entre eles se perdendo pois quem sabe não seria de sua vocação reconhecer pelo amor as criaturas. Só que ela falando dispensava semelhantes assuntos, sua riqueza era enumerar com volúpia os afazeres diários a que estivera confinada desde a sua partida, como limpava a casa, ou inventara um prato talvez de origem dinamarquesa, e o cobriu de verdura, diante dele fingia-se coelho, logo assumindo o estado que lhe trazia graça, alimentava-se com a mão e sentia-se mulher; como também simulava escrever cartas jamais enviadas pois ignorava onde encontrá-lo; o quanto fora penoso decidir-se sobre o destino a dar a seu retrato, pois, ainda que praticasse a violência contra ele, não podia esquecer que o homem sempre estaria presente; seu modo de descascar frutas, tecendo delicadas combinações de desenho sobre a casca, ora pondo em relevo um trecho maior da polpa, ora deixando o fruto revestido apenas de rápidos fiapos de pele; e ainda a solução encontrada para se alimentar sem deixar a fazenda em que sua casa se convertera, cuidara então em admitir unicamente os de seu sangue sob condição da rápida permanência, o tempo suficiente para que eles vissem que apesar da distância do homem ela tudo fazia para homenageá-lo, alguns da aldeia porém, que ele soubesse agora, teimaram em lhe fazer regalos, que, se antes a irritavam, terminaram por agradá-la.

— De outro modo, como vingar-me deles?

Recolhia os donativos, mesmo os poemas, e deixava as coisas permanecerem sobre a mesa por breves instantes, como se assim se comunicasse com a vida. Mas, logo que todas as reservas do mundo que ela pensava existirem nos objetos se esgotavam, ela os atirava à porta dos fundos. Confiava que eles próprios recolhessem o material para não deteriorar em sua porta.

E tanto ela ia relatando os longos anos de sua espera, um cotidiano que em sua boca alcançava vigor, que temia ele interromper um só momento o que ela projetava dentro da casa como se cuspisse pérolas, cachorros miniaturas, e uma grama viçosa, mesmo a pretexto de viver junto com ela as coisas que ele havia vivido sozinho. Pois quanto mais ela adensava a narrativa, mais ele sentia que além de a ter ferido com o seu profundo conhecimento da terra, o seu profundo conhecimento da terra afinal não significava nada. Ela era mais capaz do que ele de atingir a intensidade, e muito mais sensível porque viveu entre grades, mais voluntariosa por ter resistido com bravura os galanteios. A fé que ele com neutralidade dispensara ao mundo a ponto de ser incapaz de recolher de volta para seu corpo o que deixara tombar indolente, ela soubera fazer crescer, e concentrara no domínio da sua vida as suas razões mais intensas.

À medida que as virtudes da mulher o sufocavam, as suas vitórias e experiências iam-se transformando em uma massa confusa, desorientada, já não sabendo ele o que fazer dela. Duvidava mesmo se havia partido, se não teria ficado todos estes anos a apenas alguns quilômetros dali, em degredo como ela, mas sem igual poder narrativo.

Seguramente ele não lhe apresentava a mesma dignidade, sequer soubera conquistar seu quinhão na terra. Nada fizera senão andar e pensar que aprendeu verdades diante das quais a mulher haveria de capitular. No entanto, ela confessando a jornada dos legumes, a confecção misteriosa de uma sopa, selava sobre ele um penoso silêncio. A vergonha de ter composto uma falsa história o abatia. Sem dúvida estivera ali com a mulher todo o tempo, jamais abandonara a casa, a aldeia, o torpor a que o destinaram desde o nascimento, e cujos limites ele altivo pensou ter rompido.

Ela não cessava de se apoderar das palavras, pela primeira vez em tanto tempo explicava sua vida, tinha prazer de recolher no ventre, como um tumor que coça as paredes íntimas, o som da sua voz. E, enquanto ouvia a mulher, devagar ele foi rasgando o seu retrato, sem ela o impedir, implorasse não, esta é a minha mais fecunda lembrança. Comprazia-se com a nova paixão, o mundo antes obscurecido que ela descobriu ao retorno do homem.

Ele jogou o retrato picado no lixo e seu gesto não sofreu ainda desta vez advertência. Os atos favoreciam a claridade e, para não esgotar as tarefas a que pretendia dedicar-se, ele foi arrumando a casa, passou pano molhado nos armários, fingindo ouvi-Ia ia esquecendo a terra no arrebato da limpeza. E, quando a cozinha se apresentou imaculada, ele recomeçou tudo de novo, então descascando frutas para a compota enquanto ela lhe fornecia histórias indispensáveis ao mundo que precisaria apreender uma vez que a ele pretendia dedicar-se para sempre. Mas de tal modo agora arrebatava-se que parecia distraído, como pudesse dispensar as palavras encantadas da mulher para adotar afinal o seu universo.

segunda-feira, 26 de março de 2018

Frase da Vez

“Um pessimista vê uma 
dificuldade em cada
 oportunidade; um otimista
 vê uma oportunidade 
em cada dificuldade.”
Winston Churchill
(Oxfordshire, 30 de novembro de 1874 — Londres, 24 de janeiro de 1965)
Foi um político conservador e estadista britânico, famoso 
principalmente por sua atuação como primeiro-ministro do 
Reino Unido durante a Segunda Guerra Mundial.

sábado, 24 de março de 2018

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Trilha Sonora (301) - Jimi Hendrix

Purple Haze
Jimi Hendrix
Purple haze all in my brain
Lately things don't seem the same
Acting funny, but I don't know why
Excuse me while I kiss the sky

Purple haze all around
Don't know if I'm coming up or down
Am I happy or in misery?
Whatever it is, that girl put a spell on me

Help me, help me
Oh, I don't know

Purple haze was all in my eyes
Don't know if it's day or night
You've got me blowing, blowing my mind
Is it tomorrow or just the end of time

Who knows?
Help me, yeah
Come on know
Tell me, tell me


quinta-feira, 22 de março de 2018

Infográfico: Vettel x Hamilton


Quem conseguirá a façanha de se igualar ao argentino Juan Manoel Fangio
 ao conquistar o 5º mundial de Fórmula 1, Vettel ou Hamilton. 
É o que veremos nesta temporada de 2018, que se iniciará no
próximo domingo dia 25 de Março, com o GP da Austrália.

sexta-feira, 16 de março de 2018

Poesia a Qualquer Hora (305) - Ferreira Gullar

Dois e Dois: Quatro

Como dois e dois são quatro 
sei que a vida vale a pena 
embora o pão seja caro 
e a liberdade pequena 

Como teus olhos são claros 
e a tua pele, morena 

como é azul o oceano 
e a lagoa, serena 

como um tempo de alegria 
por trás do terror me acena 

e a noite carrega o dia 
no seu colo de açucena 

- sei que dois e dois são quatro 
sei que a vida vale a pena 

mesmo que o pão seja caro 
e a liberdade, pequena. 

Ferreira Gullar
[ Saiba + ]

segunda-feira, 12 de março de 2018

Frase da Vez

“Um homem que não se 
alimenta de seus sonhos,
 envelhece cedo.” 
William Shakespeare
( 26 de abril de 1564, Stratford-on-Avon, Inglaterra – 23 de Abril de 1616)
Foi um poeta e dramaturgo inglês, tido como o maior escritor do
idioma inglês e o mais influente dramaturgo do mundo.

sábado, 10 de março de 2018

As Barbas do Imperador, de Lilia Moritz Schwarcz

As 
Barbas 
do 
Imperador

(D. Pedro II, um
 monarca nos
 Trópicos)

Lilia Moritz Schwarcz 

Editora: Companhia das Letras 
1998 – 625 páginas



O livro é uma mistura da biografia de D. Pedro II, com ensaio sobre o Segundo Império no Brasil, suas nuances política e cultural, os ritos e rituais da corte e, sobre a história da família imperial brasileira. Através de vários documentos analisados, vasta bibliografia consultada, muita pesquisa, a autora escreveu uma obra riquíssima sobre a monarquia brasileira, desde o desembarque da família imperial, os primeiros anos de D. Pedro II, depois que perdeu a mãe dona Maria Leopoldina, seu pai, D. Pedro I voltando pra Portugal, para assumir o trono português, passando pelo período da regência, sua coroação ainda muito jovem, seu casamento com Teresa Cristina, o nascimento de seus filhos; passa pela Guerra do Paraguai, traz relatos sobre as viagens do imperador representando o Brasil em várias exposições pelo mundo, passa pela Abolição da Escravatura, realizada pela sua filha, a Princesa Isabel , quando o imperador estava viajando, até o golpe militar que o depôs e baniu a família imperial do solo brasileiro. E, esta parte final do livro é infalivelmente e excepcionalmente a melhor parte desta grande e bela biografia. D. Pedro II foi escorraçado e expulso de sua pátria que ele tanto amava e se afeiçoava. A obra é muito ampla e traz detalhes riquíssimos desta grande fase da história do Brasil, permeado por várias imagens.

Como é bom saber que D. Pedro II amava tanto sua pátria, ele era um mecenas, financiava as artes, a cultura, as ciências e ajudava vários estudantes com seu próprio dinheiro. Gostava de estudar e aprender línguas. É exultante saber que nosso Imperador dedicava-se com afinco para a formação cultural deste país. Este tem minha admiração e meu respeito. Homem humilde, fora do Brasil gostava de ser tratado apenas por Pedro de Alcântara. Foi um grande brasileiro, que talvez não tenha seu devido reconhecimento em seu próprio país, diferente de lá fora, onde ele foi muito respeitado. Nosso imperador era conhecido como D. Pedro II, o Magnânimo.

Já era fã de D. Pedro II, principalmente quando, vivendo no exílio, soube que seu desejo quando morresse era ser enterrado com um pouco da terra de sua pátria. E teve este desejo atendido. Agora posso dizer que sou fã deste grande homem e cidadão brasileiro, não só por isso é claro, mas por toda sua bondade e por ele ser um grande patrocinador das artes e cultura, afora grandes outras realizações.

O livro traz centenas de imagens, entre fotos, pinturas, gravuras e charges, o que enriquece ainda mais a obra, que é englobante e bem documentada. Leitura obrigatória para quem gosta da história do Brasil Império. Uma obra realmente abrangente, bem pesquisada e escrita...

*
Ganhei este livro de meu irmão Vinicius, que como eu, gostaria de ver novamente o Brasil ter um Imperador. Quereríamos a Monarquia Parlamentarista Constitucional, para que os brasileiros retomem seu orgulho de ser brasileiro. Sabemos que é difícil isto acontecer, mas sabemos também que este sistema seria, quem sabe, o melhor para o Brasil em tempos de corrupção em todos os níveis políticos. A república do Brasil começou através de um golpe e teve outros tantos golpes, renúncias e impeachment de presidentes. Está atualmente governado, como sempre esteve por políticos corruptos, que só querem usufruir o poder e não estão nem aí com o povo. O que começou errado não poderia nunca dar certo mesmo. Com o poder moderador do Imperador, quem sabe o Brasil entraria nos trilhos novamente. Talvez seja utopia, mas sonhar com um Brasil melhor, correto e honesto é muito engrandecedor e motivador.

*
Curiosidades:
  • D. Pedro I foi aclamado imperador em 12 de Outubro de 1822.
  • D. Pedro II nasceu no Rio de Janeiro-RJ, capital do império do Brasil em 2 de Dezembro de 1825, e faleceu em 5 de Dezembro de 1891 em Paris, na capital francesa.
  • D. Pedro II era o 5º filho de D. Pedro I e Maria Leopoldina. O único homem. Suas irmãs eram: Maria da Glória, Januária, Paula e Francisca Carolina.
  • Nome completo de D. Pedro II era: Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador Bibiano Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga
  • D. Pedro II tinha a voz fina e estridente.
  • A coroação de D. Pedro II ocorreu em 18 de julho de 1841, no Rio de Janeiro.
  • D. Pedro II casou-se com Teresa Cristina Maria. Sua irmã d. Januária casou-se com o irmão de Teresa Cristina, o conde d´Áquila.
  • D. Pedro II teve 4 filhos: Isabel, Leopoldina, Pedro Afonso (que morreu com pouco mais de 1 ano) e Afonso Pedro (que morreu com pouco mais de 2 anos).
  • D. Pedro II foi um grande incentivador da cultura, das artes e da ciência.
  • D. Pedro deu em 1864 a primeira concessão para explorar petróleo.
  • D. Pedro II fez um memorável pronunciamento: "Se os políticos podem me impedir que siga como imperador, vou abdicar e seguir como voluntário da Pátria"— uma alusão aos brasileiros que se voluntariaram para ir a guerra do Paraguai e que ficaram conhecidos por toda a nação como "Voluntários da Pátria". O próprio monarca foi chamado popularmente de "Voluntário número um".

Trechos:
-“ Imperador de 1840 a 1889, d. Pedro II teve sua vida contada a partir de episódios repletos de dramaticidade e destacada com base neles. Primeiro monarca nascido no Brasil, Pedro de Alcântara foi comparado ao Menino Jesus na tradição portuguesa, revisto como Imperador do Divino na ladainha brasileira, entendido como um novo d. Sebastião pelos últimos fiéis das previsões de Vieira. Filho de Bragança, Habsburgo e parente direto dos Bourbon, d. Pedro era reconhecido como um pequeno deus europeu, cercado por mestiços. Órfão de mãe com um ano, de pai aos dez, imperador aos catorze e exilado aos 64, no seu caminho é difícil notar onde se inicia a fala mítica da memória, quando acaba o discurso político e ideológico; onde começa a história, onde fica a metáfora.” p. 21

-“ No campo político, contavam as elites locais com dois problemas fundamentais: manter a unidade política, de um lado, garantir a ordem social, de outro.8 É nesse sentido que o poder simbólico de um “rei”, acima das divergências de ordem particular, acaba se impondo como saída.” – p. 37

-“ O poder moderador é a chave de toda a organização política, e é delegado privativamente ao imperador como chefe supremo da nação e seu primeiro representante, para que, incessantemente, vele sobre a manutenção da independência, equilíbrio e harmonia dos demais poderes políticos.” – p. 47

-“ ... os jornais da época quando não se cansam de enaltecer as qualidades prodigiosas de d. Pedro: sua educação, sua inteligência, sua cultura, seu domínio de línguas mortas e vivas, além da arte da equitação e da esgrima: “[...] não soubesse o quanto o desenvolvimento intelectual desse Príncipe excede à sua idade deixando ver em tão verdes anos, tal grau de penetração e discernimento, que faria honrar a mais um estadista afeito, pela experiência e pelo estudo ao conhecimento difícil dos homens”. Não são poucos os artigos que, como estes, encobrem a pouca idade do imperador, com a exaltação de sua “maturidade precoce” e “prodigalidade intelectual”. - p. 70

-“ Em 1845 nasceria o primeiro filho do casal, d. Afonso, que não viveria muito tempo: faleceu em 11 de junho de 1846, em razão da febre amarela que contraíra. Em 1846 Teresa Cristina dá à luz uma menina, Isabel, e em 1847 nasce Leopoldina. D. Pedro Afonso, o quarto filho do casal, também morreria com um ano de idade, em 10 de janeiro de 1850, na Fazenda de Santa Cruz. Os jornais diziam que mais uma vez se abatia, sobre a família imperial brasileira, a “sina dos poucos varões da casa de Bragança”. - p 98

-“ Das confeitarias a preferida era a Carceler, que servia sorvetes em forma de pirâmide ao preço de 320 réis. Valor um tanto alto quando comparado ao de um par de botinas de couro, que custava 8 mil-réis. Mas tudo tem sua explicação. Afinal, se a pele era brasileira, já a fábrica de gelo vinha dos Estados Unidos.” – p. 107

-“... o reverendo Fletcher chegou ao país, numa missão evangélica, em 1851 e permaneceu até 1865. (...) Fletcher presenciou o que poderíamos chamar de “período áureo” do Império, quando o Brasil gozava de boa estabilidade política e econômica e era bastante popular. Não é à toa que, contaminado pelo ambiente, o religioso não poupa elogios ao monarca brasileiro, reverenciando sua “tolerância religiosa*, sua bondade para com a população”. – pp. 251 e 252

* “Não se pode esquecer que o que mais agradava a
Fletcher era que d. Pedro, apesar de ter adotado o catolicismo
como religião oficial do Império, não proibia nem impedia os cultos
protestantes no país.” – Nota p. 588

- “Com o acirramento do combate passou-se a utilizar cada vez mais a população negra na conformação do Exército brasileiro. Como condição de entrada, alforriavam-se os escravos, o que também representava um bom negócio para os senhores, indenizados ao fornecer esse tipo de “voluntário”. Não se tem uma estimativa correta da entrada de cativos e nesse sentido os autores apresentam dados diversos. Robert Conrad estima em 20 mil o número de escravos que teriam conseguido a liberdade com a guerra. Já Ricardo Salles afirma que esse contingente não teria ultrapassado 10% do conjunto da tropa. O certo é que com o desenvolvimento da guerra esse tipo de participação revela-se cada vez mais efetiva. O próprio imperador incentivava a compra de escravos:

“Forças e mais forças a Caxias”, escrevia ele em dezembro de 1866, “— apresse a medida de compra de escravos e todos os que possam aumentar o nosso exército”. Com efeito, a Casa Imperial não só libertava, nesse contexto, alguns cativos particulares, como ajudava na compra e indenização, revelando o caráter emergencial de empresa. A “mudança na coloração” do Exército do Brasil não passaria, porém, despercebida aos críticos jornais paraguaios, que passavam a chamar os soldados brasileiros de “los macaquitos”. O Cabichuí, órgão diretamente ligado a López, trouxe uma série de charges apresentando não só os soldados como macacos, mas também seus generais, o imperador e a imperatriz. Esse tipo de representação parecia só aumentar a obstinação de d. Pedro II, que, associado a macacos, tornava-se ainda mais inflexível em sua perseguição ao “caudilho López”. Este, por sua vez, reagia investindo internamente no culto à própria personalidade — por intermédio da imprensa que manipulava e censurava — e executando traidores ou os responsáveis pelas derrotas sofridas nas batalhas.” - p. 306

- “Sempre de jaquetão e à paisana, o imperador passeava pelas ruas, visitava colégios e ginásios, e presidia exames; conversava amigavelmente com visitantes estrangeiros — entre eles o ministro da França no Brasil, o conde Arthur de Gobineau —, estudava astronomia e línguas mortas, e pensava em sair do país pela primeira vez. Aos poucos consolida-se, no lugar do cenário ostensivo dos áureos tempos do imperador, um aparato diverso em que os atores à paisana fazem lembrar antes uma “democracia coroada’ do que uma realeza. Com um comportamento próximo ao de seus súditos, o monarca se afasta da imagem do ‘rei forte’ e introduz uma nova figuração cuja estranheza ganha as páginas dos jornais: ‘Um estrangeiro que passeava anteontem pela praia de Copacabana, com o fim de contemplar as baleias, nos exprimia a sua surpresa por ter visto a família real passeando rodeada pelo povo e conversando com a maior afabilidade com as pessoas de todas as classes [...] Suas majestades não eram acompanhadas por nenhum guarda e somente pelo povo [...]’” – pp. 320 e 321

- “Se até então a grande maioria das imagens do Império eram compostas de litogravuras, pinturas, esculturas e aquarelas, a partir, sobretudo, de início dos anos 60, como vimos no capítulo anterior, torna-se cada vez mais nítido o predomínio do material fotográfico. A explicação para o fato está vinculada de maneira bastante direta a d. Pedro II, que não só foi um grande incentivador dessa técnica, como se tornou, ele próprio, um fotógrafo precoce: o primeiro fotógrafo brasileiro, o primeiro soberano-fotógrafo do mundo. O pioneirismo do soberano se evidencia já quando da concessão de seu imperial patrocínio a um fotógrafo, em 8 de março de 1851. Nessa época conferiu o título de Fotógrafos da Casa Imperial a Buvelot & Prat, antecipando-se dois anos à rainha Vitória. Na verdade, d. Pedro fará da fotografia o grande instrumento de divulgação de sua imagem: moderna como queria que fosse o reino.” –p. 345

-“ No exterior, o imperador fazia questão de tirar o “dom” e assinar apenas Pedro de Alcântara, portava seu sobretudo preto e gostava de afirmar: “O imperador está no Brasil. Eu sou apenas um cidadão brasileiro” – p. 373

- “Durante o passeio na feira, ocorreu um dos episódios mais reproduzidos nas biografias do soberano. Coerentemente com sua representação moderna e ilustrada, d. Pedro percorria a feira mostrando a curiosidade que, segundo os relatos, lhe era peculiar. Foi então que encontrou Thomas Edison e depois Graham Bell, o qual apresentou a sua mais recente invenção: o telefone. Instado a dizer algo, o imperador usou sua habitual demonstração de erudição. ‘To be or not to be’, eis a frase de efeito pronunciada por nosso monarca, que, não contente, ainda afirmou que aquele aparelho ‘de fato falava’ e acrescentou:
‘Meus parabéns, Mr. Bell, quando a sua invenção for posta no mercado, o Brasil será o seu primeiro freguês’”. – p. 376

-“Em questões políticas me vi muitas vezes na obrigação de censurar o Imperador, de sublinhar o seu procedimento com críticas por vezes muito vivas; entretanto respeito o homem, como todo cidadão honrado deve respeitá-lo, porque ele é um senhor de grande coração, amigo e benfeitor de seus semelhantes, que afasta de si qualquer luxo, para minorar a miséria alheia.” – p. 412 (trecho do livro ‘Imagens do Brasil’ de Karl von Koseritz)

-“ Redigido de maneira simples, o texto da lei era curto e direto: “É declarada extinta desde a data desta lei a escravidão no Brasil. Revogam-se as disposições em contrário”. O Treze de Maio redimiu 700 mil escravos, que representavam, a essa altura, um número pequeno no total da população, estimada em 15 milhões de pessoas. Como se vê, a libertação tardou demais, e representava o fim do último apoio da monarquia: os fazendeiros cariocas da região do Vale do Paraíba, os quais se divorciavam de seu antigo aliado. Mais uma vez, d. Pedro estava ausente no momento da promulgação da lei e deixava a tarefa e a “autoria” a Isabel, sua herdeira presuntiva.” – pp. 437 e 438

-“ Diferentemente das imagens oficiais, que circularam em jornais brasileiros, mostrando o ato solene de entrega do telegrama que declarava extinta a monarquia no Brasil, a situação
era um tanto diversa. Nos desenhos, um imperador recostado recebe a comunicação de uma junta militar, em pose altiva e ereta. Mas a agenda dos fatos era outra. De fato, até mesmo os militares pareciam recear pela continuidade do movimento.
Atitude semelhante mantinha o imperador, que logo na sua chegada ao Paço apenas teria dito: “Isso é fogo de palha, conheço meus patrícios”. Com efeito, até então, o monarca parecia fiar-se na ideia de que “as monarquias não caem facilmente”. Ainda em Petrópolis, antes de descer à corte, ao ouvir a imperatriz repetir que tudo estava perdido, o monarca teria dito:
“Qual senhora, chegando lá isso acaba!”. Mas a antiga confiança de d. Pedro estava agora abalada. No telegrama, o governo provisório comunicava a proclamação da República e dava o prazo de 24 horas à família real para que deixasse o país. Segundo os presentes, o imperador se manteve bastante sereno, e as mulheres choraram, enquanto os homens tentavam conter a emoção. Na resposta ao comunicado, o imperador brasileiro mais uma vez aderiria ao teatro e à dissimulação. Parafraseando Napoleão, que teria dito: “Abandono esse país que tanto amei”, d. Pedro perpetuaria uma frase de efeito que terminava com a afirmação:
“Este país que me é tanto afeiçoado”. Em ambos os casos, dois estrangeiros deixavam a pátria de seus súditos sem olhar para trás, altivos como convém aos imperadores, “que não carregam as mesmas emoções dos comuns mortais”. – pp. 459 a 461

-“ É na chegada a Portugal que se formaliza o banimento. Além da expulsão, o decreto de 23 de dezembro de 1889 proibia que a família imperial tivesse imóveis no país, concedendo um prazo de seis meses para a liquidação das propriedades existentes. Destinava, por fim, uma ajuda de 5 mil contos para o estabelecimento do ex-imperador no estrangeiro. No entanto, em 8 de janeiro de 1890, d. Pedro rejeitava a quantia, afirmando que “não aceitaria ou agradeceria o favor das mãos do general que tudo lhe levara”. – pp. 467 e 468

- “Para a população negra, porém, a monarquia continuava estranhamente a representar, mesmo que metaforicamente, a libertação. Tal postura pode ser reconhecida na ojeriza que Lima Barreto, o mais popular romancista do Rio, nutria pela República. Neto de escravos, Barreto assistira aos sete anos às comemorações da Abolição e às festas promovidas por ocasião do regresso do imperador de sua última viagem à Europa, ainda em 1888. Nesse sentido, não só o seu livro Triste fim de Policarpo Quaresma representa o final das utopias ingênuas, como o romancista, em suas crônicas, relata como seu pai, logo em 1890, operário da Tipografia Nacional, foi demitido sumariamente pela política republicana.” – p. 469

-“ O ex-imperador do Brasil passou o aniversário de 66 anos confinado em seu quarto, com os amigos, a filha e os netos, que não dissimulavam a preocupação. No dia 3 de dezembro chegaram os príncipes Pedro Augusto e Augusto de Saxe para as últimas despedidas. A meia-noite e meia do dia 5 de dezembro de 1891, o antigo monarca falecia e a princesa Isabel tornava-se a sucessora legal do Trono do Império do Brasil: d. Pedro morrera sem abdicar de seu cargo.” – p. 489

“-... em 1925, entrou na agenda do dia a comemoração do centenário do nascimento de d. Pedro II, o último imperador do Brasil. Mais interessante é observar, a desproporção entre o entusiasmo gerado pelas festividades em torno do natalício de d. Pedro e o pouco-caso pelo aniversário da República, que completava, então, 36 anos. Uma charge de Storni — Ecos do aniversário —, publicada no jornal ‘A Noite’ de 18 de novembro, apresentava o seguinte diálogo entre um republicano histórico (representado como um homem velho) e a República (não mais a bela jovem, mas uma matrona gorda):
“‘Viste como foste festejada este ano?’ — perguntava o republicano. ‘Festejada? Aonde?’ — queria saber a República. ‘No estrangeiro!’ — respondia o velho republicano”. – p. 507

A autora:
Lilia Katri Moritz Schwarcz é uma historiadora e antropóloga brasileira. É doutora em antropologia social pela Universidade de São Paulo e, atualmente, professora titular da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas na mesma universidade. Outros livros: 
  • O espetáculo das raças. Cientistas, instituições e pensamento racial no Brasil: 1870-1930. Companhia das Letras, 1993
  • A Longa Viagem da Biblioteca dos Reis - Do terremoto de Lisboa à Independência do Brasil. Companhia das Letras, 2002.
  • Nem preto nem branco, muito pelo contrário. Claro Enigma (Companhia das Letras), 2012
  • Brasil: uma Biografia (Com Heloisa Murgel Starling). Companhia das Letras. 2015
  • Lima Barreto: Triste Visionário. Companhia das Letras, 2017
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