Menino de Engenho
José Lins do Rego
José Olympio Editora
Coleção Sagarana
132 páginas
O protagonista deste livro é Carlinhos. A história começa quando ele (o narrador-personagem)
ainda criança, em Recife, descobre, quando acorda com barulhos em sua casa, que
seu pai tinha matado sua mãe. Esta tragédia que Carlinhos presencia mudará
radicalmente sua infância até sua adolescência, quando termina a história. Seu
pai vai preso e depois é levado a um hospício. Ele nunca mais revê o pai.
Depois destes acontecimentos, o menino vai morar na fazenda de engenho Santa Rosa, de seu avô materno, José Paulino, levado por seu Tio Juca, ficando aos cuidados e carinhos de sua Tia
Maria.
Nos capítulos seguintes ele narra sua vida desde criança até
a adolescência, quando é enviado ao um colégio interno em outra cidade. E nesse
ambiente rural, muito bem descrito pelo autor, ele vive suas brincadeiras,
aventuras e curiosidades.
Aprende as primeiras
letras com sua Tia Maria. Entra sempre em conflito com Tia Sinhazinha, a qual
ele odiava. Esta que lhe dá a primeira surra; uma velha déspota, “um demônio”
nas palavras de Carlinhos. Ouve histórias contadas por Totonha e lendas contadas pelas negras; vivência as secas e depois as enchentes, que
destruiu plantações, casas, ocasionando algumas mortes, e, aprende com seu avô, que os escravos tinham
que ser bem alimentado e vestido, o que renderia mais no trabalho, coisas
essas, que outros senhores de engenho não faziam pelos negros. Ele apaixona-se por sua prima Maria Clara,
quando vem passar as férias no engenho, e tem com ela seu primeiro beijo.
Sua Tia Maria casa-se, e ele passa a se sentir muito
solitário e triste. Não era um menino religioso. O avô também era
indiferente às práticas religiosas. E neste ambiente conheceu Zé Guedes, que
era seu professor de “lições de porcarias”, e aos 12 anos, tem seu primeiro
contato com uma mulher, Zefa Cajá, pegando uma doença venérea. Fornicava com a negra Luisa, o “anjo mau de
sua infância”. Tornou-se um menino libertino, perdido, nascido para a maldade,
segundo ele próprio.
Ficou mal falado, e
seu avô decide colocá-lo em um internato em outra cidade (Itabaiana), e o
despacha em um trem.
Trechos:
“A morte de minha mãe encheu-me a vida inteira de uma melancolia desesperada. Porque teria sido com ela tão
injusto o destino, injusto com uma criatura em que tudo era tão
puro? Esta força arbitrária do destino ia fazer de mim um
menino meio céptico, meio atormentado de visões ruins.” – pág.: 7
"A não ser a tia Maria, que me ensinava o padre-nosso, ninguém ali me falava de catecismo. A religião que eu
tinha,vinha ainda das conversas com a minha mãe. Sabia que Deus fizera o mundo, que havia céu e inferno, e que a gente
sofre na Terra por causa de uma maçã. Os moleques também não
sabiam mais do que eu. Nas missas de festa que assistíamos na
vila, pouco víamos o padre no altar. Andávamos pelos botequins
no capilé, ou tirando a sorte de papeizinhos enrolados.” –
pág.: 41
Mas o engenho tinha tudo para mim. Tia Maria tomava conta de mim como se fosse mãe. E a
lembrança de rainha mãe enchia os meus retiros de cinza. Por que
morrera ela? E de meu pai, por que não me davam notícias? Quando perguntava por ele, afirmavam que estava doente no
hospital. E o hospital ia ficando assim um lugar donde não se voltava
mais. Via gente do engenho que ia para lá, com carta do meu
avô, não retornar nunca. E as negras quando falavam do hospital mudavam a voz: "Foi para o hospital." Queriam
dizer que foi morrer. – pág.: 69
“E um sonho de menino é maior que de gente grande, porque fica mais próximo da realidade. O
meu tomara conta de todas as minhas faculdades.” Pág.: 73
“Os sonhos de um menino apaixonado são sempre os mesmos. Acordei-me, porém, com a primeira angústia de minha vida. Os pássaros cantavam tão alegres no gameleiro, porque talvez não
soubessem da minha dor. Senti nesse meu despertar de namorado um
vazio doloroso no coração. Tinha perdido a minha companheira
dos cajueiros. E chorei ali entre os meus lençóis lágrimas
que o amor faria ainda muito correr dos meus olhos.” Pág.: 96
“Os pensamentos ruins principiavam a fazer ninho no meu coração. Batiam asas por fora, mas vinham sempre terminar comigo, nas soluções que me davam, nos sonhos que me
faziam sonhar, nos ódios a que me arrastavam. Por debaixo dos sapotizeiros, nas sombras amigas destas árvores, à espera
dos canários, só pensava pensamentos maus. Criava assim
dentro de mim uma pessoa que não era a minha.” - pág.: 101
— Não vá perder o seu tempo. Estude, que não se arrepende.
Eu não sabia nada. Levava para o colégio um corpo sacudido pelas paixões de homem feito e uma alma mais
velha do que o meu corpo.” – pág.:
121 e 122
Esta é a história de Carlinhos de Melo, o “Menino de Engenho”. Romance de estreia do escritor José Lins do Rego, que foi publicado em 1932, e lhe rendeu o Prêmio Graça Aranha. Este livro faz parte do ‘ciclo da cana de açúcar’: “Menino de Engenho” (1932), “Doidinho” (1933), “Bangüê” (1934), “Usina” (1936) e “Fogo Morto” (1943), obras que retratam a decadência do engenho açucareiro nordestino.
É uma narrativa espontânea, pungente, e poética.
De grande valor literário. Um documento sociológico.
Ótimo romance. Autêntico, dramático e humano.
Obs.: O livro “Doidinho”, é a continuação da história de Carlinhos, agora já no rigoroso internato de Itabaiana.
Leia mais sobre o livro Menino de Engenho:
Filme Completo de 1965 no Youtube, dirigido por Walter Lima
Esta foi uma releitura. E releituras de obras como esta, são melhores aproveitadas.
Fica a dica !
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