As Aventuras de
Robinson
Crusoé
Daniel Defoe
Editora: L&PM
– 320
páginas
Tradução: Albino Poli Jr.
Um marinheiro náufrago numa ilha deserta é a receita ideal para a criação de uma exótica e emocionante aventura de alcance universal. Robinson Crusoé, porém, está longe de ser apenas uma romântica aventura. Não a lemos de modo a escapar para um mundo de perigos e triunfos. Mas, sim, de modo a seguir com enorme interesse o sucesso do herói em construir, passo a passo, uma réplica física e moral do mundo que ele deixou para trás. [Texto da contra capa]
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Robinson Crusoé é o único sobrevivente de um naufrágio. Ele consegue chegar a uma ilha deserta no Oceano Pacífico, perto da costa da América do Sul, onde enfrentará dificuldades e levará uma vida singular. Antes deste acidente, Crusoé esteve morando no Brasil, onde tinha uma propriedade agrícola. O dia exato do naufrágio foi dia 30 de setembro de 1659.
Vivendo de forma primitiva e isolada da civilização, o marinheiro constrói uma fortaleza, e com os restos de mantimentos, suplementos e ferramentas do navio naufragado que ficou próximo à margem da ilha, ele passa a plantar, pescar, caçar e a domesticar alguns animais selvagens, de onde proverá seu sustento por quase 28 anos. Ele batizou a ilha de “Ilha da Desolação.”
Além disso, com algum conhecimento adquirido, dedicação, paciência e com uma habilidade própria, ele passa a fabricar várias coisas, tais como: vestes, mesas, cadeiras, armários, um forno de barro e utensílios domésticos para seu uso diário.
Crusoé havia encontrado uma bíblia no navio, e passa a lê-la todos os dias, isto o transforma em um homem de fé, o faz pensar e agradecer sempre à Providência por estar vivo. A partir daí ele faz grandes reflexões, sobre a religião, a fé, a solidão, o discernimento, a consciência e a perseverança.
Um dia, depois de 25 anos nesta ilha, ele achou uma pegada na areia, e percebeu que não estava mais sozinho. Descobriu que uma tribo de canibais de vez em quando ia até aquela ilha, e, dentre estes canibais, ele conseguiu salvar e “domesticar” um deles, a quem deu o nome de Sexta-Feira. Este índio por sua vez ao ser salvo da morte por Crusoé, se tornou seu escravo, logo depois se tornaram grandes amigos, principalmente depois que conseguiram também salvar o pai deste índio das mãos dos canibais.
Muito bem detalhado, minuciosamente descrito, que capta nossa imaginação, o autor nos leva a esta grande aventura de luta pela vida e esperança de um dia ser resgatado. A leitura te prende da primeira a última página.
Excelente, tocante e emocionante livro. Uma obra prima.
Trechos:
- “Quanto a voltar para casa, a vergonha se opunha aos melhores impulsos que cruzavam meus pensamentos. Imediatamente ocorreu-me como ririam de mim meus vizinhos, e que vergonha sentiria ao ver, não só o meu pai e minha mãe, como também todos os demais. Desde então observo com frequência o quão incoerente e irracional é o temperamento humano, especialmente dos jovens, para com a razão, que deveria guia-los em tais casos, ou seja, os jovens não se envergonham de pecar e, no entanto, tem vergonha de arrepender-se; não vergonha pelo qual mereceriam justamente ser tachados de tolos , mas vergonha da volta, que só poderia fazer com que fosse estimados como sábios.” – p. 22
-“Fizemos boa viagem até o Brasil e cerca de vinte e dois dias depois chegamos à Baía de todos os Santos. Novamente eu estava a salvo da mais miserável de todas as situações e agora precisava decidir o que fazer. (...) Não fazia muito tempo que estava ali quando fui recomendado pelo Capitão à casa de um homem tão honesto e honrado quanto ele, que possuía um engenho, como é chamada a plantação de cana-de-açúcar e sua respectiva refinaria. Morei com ele algum tempo e dessa forma familiarizei-me com o modo de plantar e fazer o açúcar. Vendo como os plantadores viviam bem e enriqueciam, resolvi, então se conseguisse permissão para estabelecer-me lá, tornar-me plantador como eles, tentando nesse ínterim descobrir um meio de me transferirem o dinheiro que deixara em Londres. Com esse fim, solicitei e obtive uma espécie de carta de naturalização, comprei toda a terra inculta que meu dinheiro poderia pagar e tracei um plano para minha plantação e instalações, de acordo com o capital que esperava receber da Inglaterra” – ps. 41 e 42
-“Minhas perspectivas eram sombrias, pois como não naufragara nessa ilha sem antes ser impelido a grande distância por violenta tempestade, ou seja, centenas de léguas fora das rotas habituais do comércio, tinha razão suficiente para ver tudo como uma determinação dos Céus, para que neste lugar desolado e de modo tão desolador eu terminasse meus dias. Lágrimas rolavam copiosamente pelo meu rosto enquanto fazia tais reflexões, e algumas vezes perguntava a mim mesmo por que a Providência arruinava suas criaturas dessa forma, lançando-as na mais absoluta miséria, abandonadas, desamparadas e a tal ponto desesperadas, que atentaria contra a razão agradecer por semelhante vida.” – p. 70
-“ Então me pus a trabalhar. E aqui não posso deixar de observar que, já que a razão é a própria substância e origem da matemática, todo homem que formule e equacione seus empreendimentos de acordo com ela, fazendo o julgamento mais racional, será capaz, a seu tempo, de dominar qualquer arte mecânica. Jamais em minha vida manejara um ferramenta e, no entanto, mediante esforço, dedicação e engenho, descobri que poderia fabricar tudo que me faltava, sobretudo se tivesse os meios necessários.” - p. 76
- “ Depois de comer, tentei caminhar, mas estava tão fraco que mal podia carregar a arma(pois jamais saía sem ela); portanto, não fui muito longe e me sentei no chão, olhando o mar, que estava bem diante de mim, muito calmo e sereno. Ali sentado ocorreram-me alguns pensamentos. Que são esta terra e este mar que tanto tenho visto? Qual a sua origem? E o que somos eu e as outras criaturas, mansas e selvagens, humanas e brutais? De onde viemos? Por certo somos todos feitos por algum poder misterioso, que criou a terra e o mar, o ar e o céu. Quem é este poder? Então naturalmente concluí: foi Deus que criou tudo.” – p. 100
-“ Em suma, a natureza e a experiência me ensinaram, mediante justa reflexão, que todas as coisas boas desse mundo, não continuam sendo boas para nós quando não servem mais para nosso uso.” – p. 139
-“ É assim que jamais percebemos a verdadeira realidade de nossa situação até que ela nos seja ilustrada às avessas por circunstâncias contrárias, nem sabemos dar valor ao que usufruímos, senão pela sua ausência.” – ps. 149 e 150
-“Que estranha e acidentada obra da Providência vem a ser a vida humana! E através de secretos e diversos mananciais se precipitam nossas emoções à medida que diferentes circunstâncias se apresentam! Hoje amamos o que amanhã odiamos; buscamos hoje o que amanhã evitamos; hoje desejamos o que amanhã tememos...” – ps. 166 e 167
-“Em todos os episódios de minha vida tenho me tornado uma espécie de aviso para aqueles que sofrem da maior doença da humanidade, de qual provém pelo menos metade de nossas desgraças; refiro ao fato de não sentirmos com aquilo que Deus e a natureza nos concederam. Por não ter refletido suficientemente sobre minha condição inicial e sobre os sábios conselhos de meu pai me dera – sendo este, por assim dizer, meu pecado original-, continuei cometendo o mesmo tipo de erro, o que acabou me reduzindo à triste condição em que me encontro agora. Tivesse a Providência, que tão afortunadamente me assentara no Brasil como plantador, me abençoando com desejos comedidos, de forma que me contentasse em progredir gradualmente, a essa altura (quer dizer, à época de minha estada nessa ilha) seria um dos maiores plantadores do Brasil.” – os. 203 e 204
-“Sabia muito bem que a gratidão não era uma virtude inerente à natureza humana e que com frequência os homens agem mais de acordo com as vantagens que esperam obter do que com generosidade pelos favores que hajam recebido.” – p. 255
O autor:
Daniel Defoe nasceu em 1660, em Londres na Inglaterra. Além de escritor foi também jornalista. Ganhou celebridade internacional como romancista com a publicação de sua obra mais conhecida Robinson Crusoé (1719) e, então, resolveu se dedicar exclusivamente à literatura. Com Moll Flanders (1722) deu um passo decisivo na história do romance social. Faleceu em 21 de abril de 1731, aos 71 anos.
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Ilustrações baseadas em Robinson Crusoé:
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