Meninos de Kichute
Márcio Américo
Editora: Minuano Cultural
2010 - 192 páginas - 2ª Edição
O livro narra a infância de Beto e seus amigos. O enredo é ambientado em Londrina no Paraná, na década de 1970, mas poderia ser qualquer lugar do Brasil, onde os meninos desta época que usavam kichute, - um calçado da moda desta época e também da seguinte – se reuniam para jogar seu futebolzinho de rua, ou em algum terreno baldio. A história é narrada de uma maneira muito bem humorada e despojada, mas às vezes triste também, do cotidiano de Beto e de seus amigos e familiares.
Muitos leitores, entre 30 e 40 anos, que lerem este livro, se identificarão imediata e verdadeiramente com as estripulias e aventuras do narrador-personagem Beto, ou com um de seus amigos. É uma ótima história, que fez lembrar-me, de muitos momentos de minha infância, quando jogava futebol, - inclusive com o tal calçado -, colecionava figurinhas e jogava bolinhas de gude, entre outras brincadeiras.
O objeto de desejo da molecada, o Kichute. Espécie de tênis com travas de borracha, que lembrava uma chuteira, com um cadarço enorme, que davas voltas no tornozelo ou até por baixo da sola do calçado. E os meninos que tinham kichute e jogavam bola, sonhavam em ser jogador de futebol. Com Beto não foi diferente, sonhava em ser o goleiro da seleção brasileira.
Mesmo contra a vontade e religião de seu pai autoritário, ele funda o clube “Os Meninos de Kichute”, e participa das emocionantes peladas e de campeonatos promovidos com os meninos de outras ruas e turmas diferentes.
Mas não é só futebol e brincadeiras, Beto como um ótimo observador, via sempre as diferenças das classes sociais à época, a pobreza de muitos e a riqueza de poucos, os meninos da rua de baixo - os pobres - , os da rua de cima - os ricos -, os pais dos meninos que usavam carro, outros que andavam a pé, os calçados e roupas que usavam, e quem tinha TV ou não. Estas diferenças são o pano de fundo do livro.
“Ocorreu-me que eu poderia falar de luta de classes, o pobre contra o rico, o bonito contra o feio, o forte contra o fraco. E isso funcionou muito, então consegui com isso dar voz ao personagem. Uma criança falando com a inexperiência de uma criança e de forma muito bem humorada. Tem um trecho que o Beto fala que ele catalogou os pés dos meninos da Rua Ivaí: ‘Eu podia classificá-los e entendê-los. Começavam com os meninos descalços, os de chinelo, os de conga, os de Kichute e os de tênis Adidas’”. – Márcio Américo
Um livro de memórias, de liberdade.
Muito bom. Poético.
Divertido, comovente e nostálgico.
Uma grata surpresa.
Na contracapa do livro:
“Marcião escreveu um livro terno, desesperado, desarrumado,
descontrolado e pateticamente poético. Coisa de grande escritor...”
– Mário Bortolotto, dramaturgo
“Márcio Américo escreveu um livro comovente porque ‘tinha o que dizer’”.
– Marcelo Mirisola, escritor
“É um livro poético, dolorido e engraçado e que mostra as coisas
como elas ão quando seus olhos alcançam a cintura da humanidade...”
– Fernanda D’Umbra, atriz
Trecho do livro:
"Em minha cabeça, eu dividia a rua Ivaí em duas partes, a da rua Purus pra baixo, onde
morava a escória, os pobres: eu, o Zé Luís, o Barriguinha, o Pilico, os meninos perebentos,
sujos, maltrapilhos, que tinham suas cabeças raspadas (corte americano, como dizia meu pai), que levavam em suas bolsas escolares uma caixa de apenas seis lápis de cor, que calçavam sandálias Havaianas, Congas, quando muito um Kichute, que usavam calções que as próprias mães faziam com retalhos; algumas mães mais caprichosas costuravam nas laterais do calção pequenas tiras brancas que lembravam o design dos calções oficiais. Um luxo! Da rua Purus pra baixo moravam os meninos que serravam lanche no recreio, jogavam bolinha de gude a ganhis, andavam descalços e que apenas em ocasiões especiais usavam Kichute, o tênis que tinha o poder de nos catapultar a uma casta superior, virávamos os meninos de Kichute. Da Purus pra baixo morávamos nós, os meninos que aos domingos juntavam-se em frente à Fábrica de Doces Delícia, revirando os tambores de lixo à procura de brinquedos recusados pelo critério industrial: índios aleijados, mocinhos decapitados, carrinhos sem rodas, um Zorro com a capa detonada, soldados retorcidos: pra gente eles eram o máximo, talvez por serem a nossa cara.Da Purus pra cima moravam os riquinhos, os garotos limpos, os que usavam tênis caros, que recebiam presentes no Natal, que tinham uma Monareta, caixa de doze e até trinta e seis lápis de cor!!! Que comiam chocolate e tinham guardado em cima do guarda-roupas um forte apache com hominhos decentes." > Capítulo 3 – A trombada – páginas 42 e 43.
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Em 2010, o livro foi adaptado para o cinema, com direção de Luca Amberg, com Lucas Alexandre, Werner Schünemann, Viviane Pasmanter, Arlete Salles, entre outros.
O roteiro é de Luca Amberg e Márcio Américo, autor do livro. Márcio também é autor dos livros: o romance “Corações de Aluguel” e o de poesias, “Preciso dar um jeito na vida”.
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