"Uma vaga noção de tudo, e um conhecimento de nada."
Charles Dickens (1812 - 1870) - Escritor Inglês

sexta-feira, 26 de julho de 2019

Poesia a Qualquer Hora (325) - Cesare Pavese


Trabalhar cansa

Atravessar uma rua para fugir de casa 
Só um menino faz isso, mas este homem que anda 
O dia inteiro pelas ruas não é mais um menino
E não está fugindo de casa.

Há tardes no verão em que até as praças estão vazias, oferecidas
Ao sol que está se pondo, e este homem que avança
Por uma avenida de árvores inúteis, se detém.
Vale a pena estar só, para sempre ficar mais só?
Por mais que se ande de um lado para outro, as praças e as ruas
Estão vazias. É preciso parar uma mulher
E lhe falar e convencê-la a viver juntos.
De outra forma, a gente começa a falar sozinho.
É por isso que às vezes
Surge um bêbado noturno que te aborda com discursos 
E te conta os projetos de uma vida inteira.

Não é certamente esperando na praça deserta
Que se encontra alguém, mas quem anda pelas ruas
Se detém de vez em quando. Se fossem dois,
Mesmo andando pelas ruas, o lar estaria
Onde estivesse aquela mulher e valeria a pena.
De noite a praça volta a ser deserta
E este homem que passa não vê as casas
Entre as luzes inúteis, já não levanta mais os olhos:
Ele sente apenas o pavimento que fizeram outros homens
Com mãos calejadas como as suas.
Não é justo ficar na praça deserta.
Haverá certamente aquela mulher na rua
Que, se lhe fosse pedido, gostaria de dar uma mão na casa.

Cesare Pavese
[ Saiba + ]
(Tradução do Poema: Rubens Ricupero)

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