Dica de Leitura: As Esganadas

A Esganadas

Jô Soares

Editora: Companhia das Letras

264 páginas

Depois dos assassinos de prostitutas,
orelhas decepadas, tramar as mortes
de políticos e do envenenamento de
escritores, Jô Soares escolheu suas
 próximas vítimas, as gordas.
Em seu novo livro, Jô Soares ambienta
 a história na década de 1930, no Estado
Novo de Getúlio Vargas. No triller,
 o assassino, é uma mistura

de Nosferastu, Jack - O Estripador
e Norman Bates, de Psicose. Ele escolhe suas vítimas pelo tamanho,

 algumas gordinhas da sociedade carioca. A isca que o perigoso assassino

 usa para atrair as gordas: irresistíveis doces portugueses, e com requintes

de crueldade gastronômicas, ele mata sem dó nem piedade suas vítimas.

O leitor já fica sabendo quem é o assassino, logo no começo do livro.

Jô criou o serial killer batizando-o por Caronte. Na mitologia grega, Caronte

é o barqueiro que carrega as almas dos mortos recentes, pelas águas dos

rios Estige e Aqueronte, que dividem o mundo dos vivos do mundo dos mortos.
Caronte possui uma rara característica física, que dificulta a utilização dos novos
“métodos científicos” da polícia carioca, para descobrir quem é o assassino.
Na investigação dos crimes, além do ranzinza delegado Noronha, e do

malandro Calixto, a polícia conta com o português Tobias Esteves,

 que foi amigo do poeta português Fernando Pessoa.

Esteves é o herói inusitado do poema português “Tabacaria”:

"O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?)

/ Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica",

diz a estrofe final, do heterônimo Álvaro de Campos.

Em As Esganadas, o tal do Esteves, se torna, o bigodudo

e sagaz detetive Tobias Esteves. É Esteves que consegue

desmascarar o assassino, que é dono da funerária ESTIGE,

 com um final digno das comédias-pastelão.

Jô Soares tem ótimas tiradas e uma ironia que lhe é peculiar.
Muito bom e engraçado o livro.