"Uma vaga noção de tudo, e um conhecimento de nada."
Charles Dickens (1812 - 1870) - Escritor Inglês

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Recomendo a Leitura: 1889

1 8 8 9

Como um imperador cansado, 

um marechal vaidoso e um 
professor injustiçado contribuíram 
para o fim da Monarquia e a 
Proclamação da República no Brasil.

Laurentino Gomes

Editora: Globo – 416 páginas








“Cada vez reconheço mais que sei  muito menos do que muita
gente e que não é pela inteligência  que me distingo, muito
embora com  perseverança tudo possa aprender”.  – Dom Pedro II

Depois de “1808”, sobre chegada da corte portuguesa de D. João no Rio de Janeiro e “1822”, sobre a Independência do Brasil, Laurentino fecha a trilogia de livros, com “1889”, sobre o fim da Monarquia e o Início da República no Brasil.

O livro se divide em 24 capítulos, e traz momentos, descrições e histórias importantes e pitorescas sobre a formação da República Brasileira e traz ainda um retrato sobre os últimos dias do império no Brasil, episódios da Guerra do Paraguai e do movimento abolicionista brasileiro. O autor traça um perfil de várias figuras notórias à época da proclamação da república, e conta como as atitudes dessas personalidades republicanas  ajudaram a derrubar a monarquia através de um golpe, e instaurar  a república em nosso país, tendo por base a filosofia do francês Auguste Comte, cujo lema era: “O amor por princípio, a ordem por base, o progresso por fim”. Laurentino expõe reflexões fundamentais para compreendermos claramente o que é o Brasil de hoje, através do momento histórico e controverso daqueles dias no país. Um livro prazeroso e agradável de ler.

Trechos:
“Personagens republicanos como Benjamin Constant, Quintino Bocaiúva, Rui Barbosa, Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto são nomes onipresentes em praças e ruas das cidades brasileiras, mas pergunte a qualquer estudante do ensino médio quem foram esses homens e a resposta certamente demorará a vir. Nas escolas ensina-se mais sobre o português Pedro Álvares Cabral, descobridor das terras de Santa Cruz, como o Brasil ainda era conhecido em 1500, ou Tiradentes, o herói da Inconfidência Mineira de 1789, do que sobre os criadores da República, episódio bem mais recente, ocorrido há pouco mais de um século. A história republicana é menos conhecida, menos estudada e ainda menos celebrada do que os heróis e eventos do Brasil monárquico e imperial, que cobrem um período relativamente mais curto, de apenas 67 anos.” ___ Introdução - páginas 17 e 18.
*
“Na conversa, todos se manifestaram de acordo com o uso das armas para depor a Monarquia. Combinou-se um plano pelo qual os participantes ficariam encarregados de agitar os ânimos nos quartéis, estocar armamento e munição e traçar em detalhes o golpe a ser desfechado nos dias seguintes. A certa altura, porém, Benjamin Constant mostrou-se preocupado com o destino do imperador Pedro II.
— O que devemos fazer do nosso imperador? — perguntou.
Fez-se um minuto de silêncio, quebrado pelo alferes Joaquim Inácio:
Exila-se — propôs.
— Mas se resistir? — insistiu Benjamin.
— Fuzila-se! — sentenciou Joaquim Inácio.
Benjamin assustou-se com tamanho sangue-frio:
— Oh, o senhor é sanguinário! Ao contrário, devemos rodeá-lo de todas as garantias e considerações, porque é um nosso patrício muito digno.
Por uma ironia da história, o “sanguinário” Joaquim Inácio Cardoso, então com 29 anos, viria a ser avô de um futuro presidente da República, o manso Fernando Henrique Cardoso. Para fortuna de Pedro II, no dia 15 de novembro haveria de prevalecer a posição de Benjamin. Em vez de fuzilado, como queria Joaquim Inácio, o imperador seria despachado para o exílio.” ___ Capítulo 2 - O Golpe - páginas 41 e 42

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“Abolicionistas como o pernambucano Joaquim Nabuco e o baiano André Rebouças defendiam a criação de um imposto territorial como forma de acabar com o latifúndio improdutivo e democratizar a propriedade da terra. Acreditavam que essa medida, junto com a abolição da escravidão, elevaria o país a um novo patamar de desenvolvimento. “Uma é o complemento da outra”, escreveu Nabuco. “Ninguém neste país contribui para as despesas do Estado em proporção dos seus haveres. O pobre carregado de filhos paga mais impostos (...) do que o rico sem família. (...) Acabar com a escravidão não basta; é preciso destruir a obra da escravidão.”
O governo imperial resistiu a todas as tentativas de mudar esse quadro.
Enquanto durou a Monarquia, o imposto territorial jamais conseguiu aprovação no Congresso. Em vez de buscar a “democracia agrária” sonhada por Nabuco e Rebouças, o Brasil fez uma reforma agrária às avessas, concentrando ainda mais a terra nas mãos de poucos proprietários. Ao contrário dos Estados Unidos, que, por meio do Homestead Act, uma lei de 1862, autorizou a doação de terras a todos os que nela desejassem se instalar, no Brasil a Lei de Terras de 1850 ergueu barreiras à aquisição delas por parte dos imigrantes pobres que chegavam da Europa. As terras públicas seriam vendidas à vista e a preços suficientemente altos para evitar o acesso à propriedade por parte dos futuros colonos. Além disso, estrangeiros que tivessem passagens financiadas para vir ao Brasil estavam proibidos de comprar terras até três anos após a chegada. Era uma forma de obrigá-los a trabalhar nas fazendas no lugar dos escravos antes de conseguir, a muito custo, juntar a poupança necessária para comprar uma pequena propriedade.” ____ Capítulo 3  - O Império Tropical - página 80
*
“No dia da morte do imperador, ao abrir o armário em que estavam seus pertences pessoais, o conde d’Eu encontrou um pequeno embrulho contendo uma substância escura e um bilhete com a seguinte mensagem:
É terra de meu país; desejo que seja posta no meu caixão, se eu morrer fora de minha pátria.
As últimas sete palavras dessa frase indicam que, até o leito de morte, dom Pedro II alimentou secretamente a ilusão de um dia retornar ao Brasil. Isso, de fato, aconteceria, mas só trinta anos mais tarde. Em 1920, o presidente Epitácio Pessoa revogou, finalmente, o decreto republicano que banira a família imperial do território nacional. Em 8 de janeiro do ano seguinte, os restos mortais do imperador e da imperatriz foram trasladados para a catedral de Petrópolis, onde se encontram atualmente.”  ___ Capítulo 17 - O Adeus - página: 301
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Abaixo, trecho de uma entrevista dada por Laurentino Gomes por conta 
do lançamento do livro "1889" para o site Exame.com >>> 
[clique no link acima para ler a entrevista completa]

“Esse caso de amor e ciúmes envolvendo o marechal Deodoro da Fonseca e o senador gaúcho Gaspar da Silveira Martins é apenas um detalhe pitoresco entre as histórias do livro 1889, mas acredito que contribui para chamar a atenção do leitor. Até às vésperas da Proclamação da República,o marechal Deodoro era um monarquista convicto. Amigo do imperador Pedro II, afirmava que a república seria um desastre completo para o Brasil. Na manhã de 15 de Novembro, concordou em liderar o golpe que destituiu o gabinente do Visconde de Ouro Preto, seu adversário político, mas ao longo de todo aquele dia em momento algum proclamou a república. Mudou de opinião na madrugada do dia 16 ao saber da decisão de Pedro II de nomear o senador Silveira Martins, do Partido Liberal, para a chefia de um novo ministério. Anos antes, quando era governador do Rio Grande do Sul, Deodoro, já casado, perdera para Silveira Martins, um homem inteligente e charmoso, a disputa do coração da Baronesa de Triunfo, viúva bonita e elegante, fazendeira e filha do general gaúcho Andrade Neves. Desse episódio surgiu uma inimizade que duraria o resto da vida dos dois personagens e levaria à queda da monarquia. A república brasileira deve, portanto, parte de sua existência a essa mulher hoje praticamente desconhecida nos livros de história. “
Laurentino e sua trilogia recente sobre um período da história do Brasil
Li os 3 livros de Laurentino, e são excelentes. 
Recomendo a leitura. Em tom jornalístico e citando várias outras obras
 do gênero, ele consegue nos envolver nas histórias da época.
 Essa trilogia é muito importante para entender a história da formação 
do Estado Político no Brasil, no século XIX. 

Fica a dica !

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