O Nome Roubado
Max Nunes
(Numa delegacia. Delegado na mesa. Entra o investigador)
Investigador – Seu delegado, tem um caso ai fora que eu não sei resolver. Nunca vi uma coisa dessas.
Delegado – Manda entrar
Investigador (grita para fora) – Psssiu! Ôoo, seu! Pssiu!
Homem (humilde, entra) – Dá licença?
Investigador – Conta aí pro delegado.
Delegado – Qual é o caso?
Homem – O caso, doutor, é que eu fui assaltado ali na esquina e roubaram o meu nome.
Delegado – Roubaram o que?
Homem – O meu nome, doutor.
Delegado – Roubaram o seu nome?
Homem – Isso mesmo, seu delegado. E eu estou aqui para apresentar queixa.
Delegado – Como é o seu nome?
Homem – Eu não estou dizendo ao senhor que roubaram o meu nome?
Delegado (para o investigador) – Manda dar uma busca ai pela rua para a gente pegar esse ladrão.
Investigador (saindo) – Pois não seu delegado.
Delegado – O senhor tem certeza que roubaram o seu nome?
Homem – Tenho, doutor. Quando sai de casa eu estava com meu nome. Tanto que, na rua, quando eu passei por um amigo, ele me cumprimentou: Como vai você, ô ... ô... ? . E disse o meu nome.
Delegado – Sou delegado a mais de vinte anos, e nunca vi, nem soube, de um caso como esse: roubo de nome.
Homem – E o pior, seu delegado, é que meu nome não está no seguro.
Delegado – Relaxa seu... Se estivesse, eles lhe dariam um nome novo.
Homem – Mas eu não ia aceitar. Meu nome já está usado, mas era de estimação. Foi um presente que minha mãe me deu no dia em que eu nasci.
Delegado – Se o senhor ouvir o seu nome, o senhor se lembra?
Homem – Certamente, doutor.
Delegado – É nome estrangeiro?
Homem – Não, senhor. Artigo nacional mesmo.
Delegado – Será que é Pedro, João, José, Roberto, Paulo, ...
Homem – Nenhum desses, doutor.
Delegado – Vai ser difícil descobrir.
Investigador (chega, trazendo o ladrão) – Peguei o ladrão ali na esquina.
Homem (reconhecendo) – Foi ele, doutor. Foi ele que roubou o meu nome!
Delegado – Calma. (para o ladrão) Como é o seu nome?
Ladrão – Jorge.
Homem (Exultante) – Jorge! É esse o meu nome! Eu quero o meu nome de volta!
Delegado – Devolva o nome dele já, seu canalha!
Ladrão – Está bem, pode ficar com o seu nome.
Homem – Obrigado, seu delegado. Qualquer coisa que o senhor precisar, pode me chamar. Meu nome é Jorge. Passe bem seu delegado. (Sai)
Delegado (para o ladrão) – Agora vamos conversar. Seu nome todo?
Ladrão – Mão de Cabrito.
Delegado – Perguntei o nome.
Ladrão – Eu não tenho nome, doutor.
Delegado – Vagabundo! Quando chegou aqui você não disse que seu nome era Jorge?
Ladrão – É que eu tinha roubado aquele nome pra mim. Mas o senhor mandou devolver...
Este texto foi publicado no livro "O pescoço de girafa: pílulas de humor"
- Max Nunes - Cia das Letras, 1997.
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