"Uma vaga noção de tudo, e um conhecimento de nada."
Charles Dickens (1812 - 1870) - Escritor Inglês

quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Todos Contra Todos, de Leandro Karnal

Todos Contra Todos
(O Ódio Nosso de Cada Dia)

Leandro Karnal 

Editora LeYa – 143 páginas - 2017

(...) Todos Contra Todos escancara a polêmica das palavras que ferem, a natureza das reações raivosas dirigidas ao outro e o porquê de escondermos de nós mesmos a adesão às pequenas e grandes maldades do dia a dia. Com a marca da fala fácil e envolvente que o transformou no historiador mais pop do Brasil, Karnal não só disseca a natureza do ódio, da violência e do preconceito brasileiro, como explora as origens de um sentimento universal que negamos e odiamos sentir. [texto da contra capa]

Neste livro o professor e historiador Leandro Karnal, joga por terra o mito de que o povo brasileiro é um ser pacífico e amável. Neste livro instigante e provocativo, Karnal nos afirma que o ódio está inserido na sociedade brasileira de várias formas. O autor analisa a violência no Brasil, à época das revoltas regionais, como a Cabanada, Balaiada, Farroupilha, etc, passando pela escravidão, pela violência racial e social, violência no trânsito, doméstica, a intolerância política dos ‘coxinhas’ contra os ‘petralhas’ e ao torcer pelo nosso time, até a violência difamatória, homofóbica, racista, misógina e preconceituosa nas redes sociais. Algum destes gestos de ódio gera e institui a violência real. O brasileiro é violento no dia a dia, mas não assume ou admite que isso é um fato verdadeiro. Somos cercados de ódio por todos os lados. Mas como disse Raul Seixas: "O ódio não é real, é ausência de amor."

“Todos contra Todos – O Ódio Nosso de Cada Dia”, revela um lado escuro do brasileiro. Uma excelente reflexão histórica e social sobre o ódio que gera a violência ou vice-versa, de vários tipos no Brasil.

Excelente livro, bem escrito e fundamentado, com o estilo Karnal sarcástico de ser. Recomendo.

Trechos:
-“ Somos um país violento. Violentos ao dirigir, violentos nas ruas, violentos nos comentários e fofocas, violentos ao torcer por nosso time, violentos ao votar.” - p. 10

-“O ódio é gêmeo do medo, e pessoas com medo cedem fácil sua liberdade de pensamento e ação.” – p. 12

-“É manchete de jornal a violência que atinge grupos de elite, mas nunca aquela que atinge grupos sociais específicos, como negros, pobres, homossexuais e transexuais. Nossa violência é estrutural. Não é diferente da violência humana, mas é aumentada pela injustiça social, pelas relações raciais e pela própria violência política.” – p. 22

-“E convém lembrar que o ódio é sempre uma resposta ao medo, à insegurança e à ignorância. Como não sei lidar com essas três forças, acabo manifestando o ódio. O ódio é sempre filho do medo, o ódio é sempre filho de uma mudança de situação. O ódio aumenta em período de crise, quando há mais medo.” – p. 42

-“ ...a história do Brasil é uma história de violência, ao contrário do que nos ensinaram na escola. Somos um país com um histórico de estupros, linchamentos e ataques variados. Somos um país que vive um clima social de guerra civil, mas assim como os livros de história jamais trataram nossas guerras civis como tais, hoje poucos reconhecem que vivemos sob guerra civil.” – p. 46

-“ A violência contra a mulher é histórica e cultural e deve aumentar à medida que a consciência feminina trouxer essa questão cada vez mais à tona para debate. Ela deve aumentar exatamente porque as mulheres, com toda razão e muita dignidade, estão enterrando um período histórico de aceitação da violência, estão enterrando séculos de tolerância ao assédio, séculos de ocultação da violência doméstica. Nós temos dias muito promissores pela frente. Mas temos também violência.
Os homens têm muito medo das mulheres. Violência, estupro e assédio fazem parte de um compromisso do homem para matar esse medo. O ataque a homossexuais e a mulheres, realizado dominantemente por homens, é um sinal de que hoje o grupo mais assustado da sociedade são os homens. Porque o espaço tradicional da identidade do homem está sendo fechado.” – p. 52

- “Personalidades negociadoras e pacifistas são menos sedutoras do que as violentas e odiosas. É o ódio, e não o amor, que de fato nos seduz e nos deleita.” – p. 75

-“ O último cristão morreu na cruz. Ou seja, Jesus foi o primeiro e último cristão.”
NIETZSCHE, citado na p. 82

-“ O adulto é filho da criança.”
ROUSSEAU, citado na p. 84

-“ A internet não produziu os idiotas, mas os idiotas puderam constituir um bloco expressivo com a internet. Eles entenderam que o seu medo não era só deles, e que sua ideia equivocada sobre as mulheres, sobres os judeus ou sobre os gays era compartilhada por mais pessoas. Isso lhes deu uma segurança.” – p. 108

-“ Tácito, na Roma clássica, dizia que os homens se apressam mais a retribuir um dano do que retribuir um benefício. A gratidão é um peso, a vingança é um prazer. Na nossa hipocrisia contemporânea, devemos ser felizes a qualquer custo, enquanto sentimos rejeição à tristeza e à melancolia.” – p. 111

-“ O lado bom da crise brasileira é que, de fato, trouxe à tona a política como exercício de poder. Sabemos que nenhum dos lados envolvidos no debate está lá pelo benefício de todos, mas pelo benefício de seu interesse. Estamos clamando que a política seja o que nunca foi, um exercício administrativo do bem. Que a política deixe de ser cordial e passe a ser mais técnica. Que o administrador político seja menos ideológico, e que a sua ideologia seja a ideologia do coletivo. Que políticos não representem interesse muito imediato, partidário, familiar ou de grupo. Que deixe essa carga de subjetividade e entre numa carga de objetividade. Então, em parte, todo esse debate é sobre uma tentativa de criar o que não existe: que é a política coletiva, do bem comum, administradora da maioria, um projeto de Estado, e não um projeto de governo. Esse é um desejo coletivo neste momento.” – p. 123

-“Não acredito, portanto, em candidatos que encarnem a redenção nacional. Não acredito em messias, nem salvadores da pátria. Não acredito em seres impolutos. Não acredito porque o problema não é a ética da Presidência da República, ainda que ela tenha influência. Períodos em que o presidente da República foi notavelmente ético não melhoraram o comportamento da sociedade.” – p. 132

-“ Para quebrar a cadeia do ódio, a primeira tarefa é parar de ensinar ódio às crianças. Ter cuidado extremo com aquilo que se fala, porque as crianças incorporam esse discurso, por causa da autoridade e do afeto. Interromper esse fluxo de ódio exige interromper a educação do ódio. Requer que professores e pais parem de expressar constantemente ódio, mas expressem no seu lugar críticas racionais capazes de serem debatidas. Afinal, o ódio não admite que o outro refute. O ódio é passional. Se você redarguir, aumento o meu entusiasmo em defesa ou parto para agressão. Então, para que interrompamos o fluxo de ódio, é preciso interromper o fluxo de ataque irracional.” – p. 136

O Autor:
Leandro Karnal é historiador, doutor em História Social pela USP e professor na UNICAMP. Participa frequentemente de programas como o Jornal da Cultura e Café Filosófico. Escreveu em autoria ou co-autoria mais de dez livros, alguns dos quais estão entre os mais vendidos do Brasil, como “Todos contra todos” ; “Felicidade ou Morte”; “Pecar e Perdoar”; “Detração – breve ensaio sobre o maldizer”; “História dos Estados Unidos “ e “Conversas com um jovem professor”. É membro do conselho editorial de muitas revistas científicas do país. É colunista fixo do jornal Estadão e tem participações diárias nas rádios e canais de TV do grupo Bandeirantes. Seus vídeos e frases circulam pela internet com grande popularidade.

Fica a Dica !

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